Entrevista:O Estado inteligente

sábado, fevereiro 23, 2008

Independência de Kosovo anima outros separatistas

Separação turbulenta

Kosovo declara independência da Sérvia e
o mundo se divide entre apoiar ou não a cisão


Thomaz Favaro

Ivan Milutinovic/Reuters
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Há uma semana, quando Kosovo declarou sua independência da Sérvia, da qual era província, milhares de kosovares foram às ruas para celebrar. A população local, 90% de origem albanesa e muçulmana, há muito queria sair da tutela da Sérvia, onde predomina a população eslava, de religião cristã ortodoxa. A decisão de Kosovo foi um duro golpe no nacionalismo dos sérvios, que enxergam a província como o berço simbólico da nação. Enfurecidos com o reconhecimento imediato da independência por parte da maioria dos países da União Européia, e também pelos Estados Unidos, os sérvios fizeram manifestações violentas nas ruas da capital, Belgrado. O principal alvo foi a embaixada americana, depredada e incendiada. Cerca de 100 pessoas ficaram feridas no confronto com policiais. Muitos países não reconheceram a independência de Kosovo sob a alegação de que ela pode abrir um perigoso precedente para movimentos separatistas na Europa. O País Basco e a Catalunha querem independência da Espanha. Na Bélgica, os flamengos já não querem mais saber de sustentar seus vizinhos mais pobres, os valões. "A independência de Kosovo pode desestabilizar uma região há tempos conhecida justamente por ser um barril de pólvora no continente", disse a VEJA o cientista político americano Alan Kuperman, da Universidade do Texas.

A região dos Bálcãs é um mosaico de etnias e credos religiosos no sudeste europeu. Depois da II Guerra, tentou-se uma união forçada entre os diferentes povos da região com a criação da Iugoslávia, desmembrada em seis países depois do colapso do regime comunista. Após a dissolução da Iugoslávia, os habitantes de Kosovo passaram a exigir maior autonomia em relação ao governo da Sérvia. Criaram-se milícias separatistas que recebiam armas da vizinha Albânia. Tropas sérvias passaram a reprimir o movimento e mataram 10.000 kosovares. O banho de sangue só não foi maior por causa da intervenção militar da Otan, que bombardeou a região por onze semanas consecutivas em 1999. Desde então, Kosovo passou a ser administrado pela ONU e ficou sob proteção militar da Otan.

A declaração de independência de Kosovo traz enormes desafios para seus governantes. A nova nação tem uma renda per capita similar à de países africanos como Chade e Senegal. Metade da população está desempregada e uma das principais atividades econômicas da região é o crime organizado, que trafica cigarros e heroína pelo continente europeu. Nos próximos anos, o país vai permanecer sob tutela da União Européia, que enviará cerca de 500 milhões de dólares e uma força de 1 800 policiais, advogados e promotores para fortalecer o sistema jurídico do país. De qualquer maneira, Kosovo dificilmente conseguirá o reconhecimento da ONU e, como Taiwan, não poderá se sentar à mesa nas negociações internacionais. Isso porque a Rússia e a China, também preocupadas com os movimentos separatistas em seus territórios, usarão seu poder de veto no Conselho de Segurança para barrar qualquer tentativa nesse sentido. Mesmo assim, os kosovares não se cansam de comemorar.

Com reportagem de Roberta de Abreu Lima

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