John McCain torna-se o favorito do partido
e até pode bater os democratas nas eleições
Duda Teixeira
Alan Diaz/AP |
McCain comemora a vitória nas primárias da Flórida, na semana passada: apoio de Rudy e Arnold |
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Nove meses antes das eleições, já é possível saber com quase absoluta segurança que o próximo presidente dos Estados Unidos sairá de uma lista com quatro nomes: os republicanos John McCain e Mitt Romney e os democratas Hillary Clinton e Barack Obama. As chances do terceiro pré-candidato republicano, o ex-governador Mike Huckabee, reduziram-se a quase nenhuma. A estrela do momento é o senador McCain, cujo currículo inclui a agonia de ter sido prisioneiro de guerra no Vietnã do Norte. Ele venceu as primárias da Flórida e já acumula o maior número de delegados para representá-lo na convenção que decidirá o candidato oficial do partido. McCain também passou a contar com a adesão de dois pesos-pesados republicanos – adjetivo que eles merecem por motivos diferentes. Na quarta-feira, o ex-prefeito de Nova York Rudy Giuliani, que durante a maior parte do ano passado foi o líder nas pesquisas de intenção de voto republicanas e viu o apoio dos eleitores esvair-se melancolicamente, desistiu da corrida e passou para o lado de McCain. No dia seguinte, foi a vez de Arnold "exterminador do futuro" Schwarzenegger, o governador da Califórnia, entrar na campanha. São cabos eleitorais que fazem diferença na Superterça, dia 5, quando 24 estados, de um total de cinqüenta, realizarão suas primárias.
McCain despontou da embolada disputa republicana com sua credencial de herói de guerra e experiência política. A primeira imagem começou a ser construída em 1967, quando o avião que pilotava foi atingido por um míssil em Hanói. McCain foi ejetado e caiu em um lago, quebrando os dois braços e uma perna. Foi capturado, torturado pelos norte-vietnamitas e passou cinco anos como prisioneiro de guerra. Teve a oportunidade de ser libertado por ser filho de um almirante, mas se negou a partir sem que seus companheiros fossem soltos também. Hoje, ele não consegue levantar os braços o suficiente para pentear os cabelos brancos. Ao voltar para os Estados Unidos, foi deputado pelo Arizona e está em seu quarto mandato como senador. Em 2000, foi derrotado por George W. Bush na disputa pela nomeação republicana.
McCain já foi diagnosticado três vezes com melanoma, o tipo mais letal de câncer de pele, cujo tratamento deixou uma grande cicatriz em sua bochecha esquerda. Aos 71 anos, pode se tornar o presidente mais velho dos Estados Unidos. "Sou mais velho que a terra e tenho mais cicatrizes que o Frankenstein", disse ele recentemente, com seu característico bom humor. McCain é do tipo que perde o eleitor mas não perde a piada. Em outubro, um jornalista perguntou-lhe o que achava do presidente russo Vladimir Putin: "Vejo em seus olhos três letras: K-G-B", disse McCain, referindo-se ao extinto serviço de espionagem da União Soviética do qual Putin foi agente.
McCain diferencia-se dos outros candidatos republicanos pela sua proximidade com certas teses identificadas com os democratas, como a de que é necessário combater o aquecimento global e regularizar a situação dos imigrantes ilegais. Muitos eleitores republicanos torcem o nariz para ele, pois não o consideram conservador o suficiente. Em uma campanha em que o tema da retirada das tropas do Iraque foi ofuscado nas últimas semanas pelo medo de uma recessão econômica, McCain é reconhecido como um grande entendedor mais de questões internacionais que de economia doméstica. A ascensão do ex-prisioneiro de guerra se dá quando os dois candidatos democratas começam a se desgastar com os ataques entre si. Na última semana, o senador Obama acusou Hillary de ser calculista e desagregadora. Os dois também estão disputando o apoio de outros democratas quase a tapa. Na semana passada, Obama recebeu o endosso para sua campanha de três membros da família Kennedy, o clã político mais admirado do país. No dia seguinte, Hillary anunciou o apoio de outros três Kennedy. O candidato John Edwards, terceiro lugar entre os democratas, desistiu da campanha na quarta-feira sem apoiar nenhum dos dois ex-rivais. Na eleição em que os democratas estão na dianteira, McCain é o republicano que pode estragar a festa. Pesquisas de opinião indicam que ele poderia ganhar por pouco de Hillary e empatar com Obama. Com McCain, ao menos, a campanha ganhou mais suspense, uma pitada de humor e um herói.
Fotos Robyn Beck/AFP-Hans Deryk/Reuters-Mike Segar/Reuters-Jason Reed/Reuters |