Ele faz Hillary comer poeira
Depois da vitória em oito primárias seguidas,
Obama dispara na disputa pela candidatura
democrata. Mas sua rival ainda tem chances
Thomaz Favaro
Jonathan Ernst/Reuters | ||
Obama discursa em Baltimore, Maryland: o senador recebe a adesão de muitos eleitores de Clinton | ||
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Se a disputa pela candidatura democrata à Presidência americana fosse uma partida de futebol, as primárias da semana passada representariam o gol de virada do senador Barack Obama aos 10 minutos do segundo tempo. Ou seja, sua candidatura embalou, mas ele ainda não pode se dar ao luxo de considerar o jogo ganho. O senador, que venceu em oito estados seguidos, passou a ter pequena vantagem sobre Hillary Clinton em número de delegados que vão decidir quem é o candidato oficial na convenção do Partido Democrata, em agosto. O placar, na semana passada, marcava 1.275 delegados para ele e 1.220 para ela – no confuso sistema partidário americano, esse número pode variar ligeiramente, dependendo de quem faz as contas. O cenário descrito acima diz respeito à frieza dos números. Se a campanha de cada um for medida por entusiasmo e otimismo, o senador já levou. Ele vem conseguindo de forma crescente os votos de grupos de eleitores normalmente associados a Hillary, como as mulheres, os idosos e os hispânicos. Entre o eleitorado negro, tradicional aliado dos Clinton, Obama, que é filho de um queniano e de uma americana branca, disparou. Seu comitê arrecada doações ao ritmo de 1 milhão de dólares diários, enquanto Hillary precisou tirar 5 milhões de dólares do próprio bolso. A falta de doações e a seqüência de vitórias de Obama provocaram uma crise no comitê da candidata. Na semana passada, dois de seus principais estrategistas foram substituídos.
Obama empolga a disputa democrata com o tema mudança, reconciliação e esperança. Nesse sentido, sua imagem é radicalmente oposta à de Hillary, associada ao continuísmo e ao sectarismo: seu marido, Bill Clinton, foi presidente antes de George W. Bush, cujo pai, por sua vez, também já ocupou o cargo. Se Hillary for eleita, completará um ciclo de 24 anos das dinastias Clinton e Bush no poder. É difícil ver frescor político nessa possibilidade. Se os americanos estão ansiosos por novidades, Obama é o candidato certo. Ainda que a exata dimensão da prometida mudança não fique muito clara. Talvez agora, que ele lidera a disputa interna democrata, venha a ser cobrado para explicar, em maiores detalhes, o que faria como presidente. A magia de seu carisma resistirá a tal teste?
AFP |
Hillary em campanha no Texas: esperança nos latinos do estado |
Hillary insiste em demonstrar que Obama é inexperiente para o cargo de presidente. Senador em primeiro mandato, ele está em Washington desde 2005. A vida está difícil para a senadora. Os eleitores democratas parecem preferir a pouca bagagem do adversário ao passado atribulado de Hillary. "Em geral, os presidentes americanos são muito bem assessorados, e o carisma, fundamental para ganhar uma eleição, também se revela útil como instrumento presidencial", disse a VEJA o cientista político americano Brian Lai, da Universidade de Iowa. "O apelo pela união política feito por Obama pode servir para ele lidar com a divisão partidária do Congresso." Hillary ainda tem boas chances de reverter o favoritismo do senador. Ela espera se sair bem nas próximas primárias, como no Texas e em Ohio. Uma peculiaridade da corrida democrata também a favorece. Mesmo se Obama ganhasse todas as dezesseis primárias que ainda faltam com uma margem de 55% dos votos, não seria capaz de reunir os 2.025 delegados necessários para a nomeação automática como candidato oficial. A decisão dependeria dos 796 superdelegados, que representam cerca de 20% do total da convenção democrata. Eles têm liberdade para escolher seu candidato de maneira independente. Hillary recebe maior apoio entre os superdelegados. O voto de Minerva desses caciques democratas pode acabar se guiando por uma questão prática: segundo as pesquisas, Obama tem maiores chances do que Hillary de vencer John McCain, o quase certo candidato dos republicanos à Presidência.