Entrevista:O Estado inteligente

sábado, fevereiro 16, 2008

O avanço da candidatura Obama

Ele faz Hillary comer poeira

Depois da vitória em oito primárias seguidas, 
Obama dispara na disputa pela candidatura 
democrata. Mas sua rival ainda tem chances


Thomaz Favaro

Jonathan Ernst/Reuters
Obama discursa em Baltimore, Maryland: o senador recebe a adesão de muitos eleitores de Clinton
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Se a disputa pela candidatura democrata à Presidência americana fosse uma partida de futebol, as primárias da semana passada representariam o gol de virada do senador Barack Obama aos 10 minutos do segundo tempo. Ou seja, sua candidatura embalou, mas ele ainda não pode se dar ao luxo de considerar o jogo ganho. O senador, que venceu em oito estados seguidos, passou a ter pequena vantagem sobre Hillary Clinton em número de delegados que vão decidir quem é o candidato oficial na convenção do Partido Democrata, em agosto. O placar, na semana passada, marcava 1.275 delegados para ele e 1.220 para ela – no confuso sistema partidário americano, esse número pode variar ligeiramente, dependendo de quem faz as contas. O cenário descrito acima diz respeito à frieza dos números. Se a campanha de cada um for medida por entusiasmo e otimismo, o senador já levou. Ele vem conseguindo de forma crescente os votos de grupos de eleitores normalmente associados a Hillary, como as mulheres, os idosos e os hispânicos. Entre o eleitorado negro, tradicional aliado dos Clinton, Obama, que é filho de um queniano e de uma americana branca, disparou. Seu comitê arrecada doações ao ritmo de 1 milhão de dólares diários, enquanto Hillary precisou tirar 5 milhões de dólares do próprio bolso. A falta de doações e a seqüência de vitórias de Obama provocaram uma crise no comitê da candidata. Na semana passada, dois de seus principais estrategistas foram substituídos.

Obama empolga a disputa democrata com o tema mudança, reconciliação e esperança. Nesse sentido, sua imagem é radicalmente oposta à de Hillary, associada ao continuísmo e ao sectarismo: seu marido, Bill Clinton, foi presidente antes de George W. Bush, cujo pai, por sua vez, também já ocupou o cargo. Se Hillary for eleita, completará um ciclo de 24 anos das dinastias Clinton e Bush no poder. É difícil ver frescor político nessa possibilidade. Se os americanos estão ansiosos por novidades, Obama é o candidato certo. Ainda que a exata dimensão da prometida mudança não fique muito clara. Talvez agora, que ele lidera a disputa interna democrata, venha a ser cobrado para explicar, em maiores detalhes, o que faria como presidente. A magia de seu carisma resistirá a tal teste?

AFP
Hillary em campanha no Texas: esperança nos latinos do estado

Hillary insiste em demonstrar que Obama é inexperiente para o cargo de presidente. Senador em primeiro mandato, ele está em Washington desde 2005. A vida está difícil para a senadora. Os eleitores democratas parecem preferir a pouca bagagem do adversário ao passado atribulado de Hillary. "Em geral, os presidentes americanos são muito bem assessorados, e o carisma, fundamental para ganhar uma eleição, também se revela útil como instrumento presidencial", disse a VEJA o cientista político americano Brian Lai, da Universidade de Iowa. "O apelo pela união política feito por Obama pode servir para ele lidar com a divisão partidária do Congresso." Hillary ainda tem boas chances de reverter o favoritismo do senador. Ela espera se sair bem nas próximas primárias, como no Texas e em Ohio. Uma peculiaridade da corrida democrata também a favorece. Mesmo se Obama ganhasse todas as dezesseis primárias que ainda faltam com uma margem de 55% dos votos, não seria capaz de reunir os 2.025 delegados necessários para a nomeação automática como candidato oficial. A decisão dependeria dos 796 superdelegados, que representam cerca de 20% do total da convenção democrata. Eles têm liberdade para escolher seu candidato de maneira independente. Hillary recebe maior apoio entre os superdelegados. O voto de Minerva desses caciques democratas pode acabar se guiando por uma questão prática: segundo as pesquisas, Obama tem maiores chances do que Hillary de vencer John McCain, o quase certo candidato dos republicanos à Presidência.

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