Entrevista:O Estado inteligente

sábado, fevereiro 16, 2008

Líbano A morte de um terrorista

Ele provou do próprio veneno

Imad Mughniyah, do Hezbollah, introdutor do 
atentado suicida, é assassinado em Damasco


Duda Teixeira 

Mazel Akl/AFP
Funeral de Mughniyah, em Beirute: ele foi o terrorista que mais matou americanos até aparecer Bin Laden


Antes de Osama Bin Laden, havia Imad Mughniyah. Durante duas décadas, até que seu nome fosse eclipsado pelo ataque às Torres Gêmeas, em 11 de setembro de 2001, o libanês Mughniyah esteve no topo da lista dos mais procurados do governo americano e, obviamente, também na relação israelense dos marcados para morrer. Na terça-feira passada, ele foi morto por uma explosão que destruiu seu Mitsubishi Pajero num bairro nobre de Damasco, a capital da Síria. Só então sua figura corpulenta e grisalha se tornou pública, em fotos divulgadas pelo Hezbollah, do qual era oficialmente vice-secretário-geral. Antes só eram conhecidas fotos pouco nítidas tiradas dele na juventude. A obscuridade reflete o mundo de sombras em que o terrorista perambulava desde a guerra civil libanesa. Sua face não era conhecida, mas sua mão esteve nos atentados mais sangrentos, como a destruição do prédio de uma associação beneficente judaica que matou 85 pessoas em Buenos Aires em 1994. Há dois anos, a Argentina decretou sua prisão pelo crime. A contribuição mais duradora de Mughniyah para os anais das atrocidades modernas foi a introdução do atentado suicida no Oriente Médio.

De origem humilde numa aldeia xiita do sul do Líbano, Mughniyah primeiro trabalhou para Yasser Arafat, o líder da Organização para a Libertação da Palestina. Logo criou seu grupo terrorista, a Jihad Islâmica. Contava com o financiamento e a orientação ideológica dos aiatolás do Irã, país do qual era uma espécie de representante no Líbano. Tinha apenas 21 anos quando planejou o primeiro atentado suicida: o caminhão-bomba que destruiu a embaixada americana em Beirute, matando 63 pessoas, em 1983. Com o mesmo método, colocou abaixo os quartéis das tropas americanas e francesas, com a morte de mais de 300 pessoas. Os franceses e americanos estavam em missão de paz no país assolado pela guerra civil. Dois anos depois, ele seqüestrou um avião da TWA. Um dos passageiros contou à CNN que, quando Mughniyah falava de Israel, "seu tom de voz ia aumentando até que ele começava a gritar, com os olhos vidrados. Eu pensava que ele ia sacar a arma e começar a atirar ali mesmo". No fim, ele e seus comparsas assassinaram apenas um marinheiro americano que estava a bordo. Nos anos seguintes, o terrorista dedicou-se ao seqüestro de dezenas de cidadãos ocidentais no Líbano. Entre eles estava o chefe da estação da CIA em Beirute, William Buckley, que, acredita-se, Mughniyah torturou e assassinou pessoalmente.

O libanês foi o terrorista que mais matou americanos até o atentado às Torres Gêmeas, em 2001. Quem organizou seu assassinato? O Hezbollah acusa Israel e promete represálias terríveis. É provável que tenha razão. Os israelenses têm a tradição de perseguir e assassinar seus inimigos no exterior e estão em guerra com o Hezbollah. Como chefe do serviço de inteligência da organização xiita, Mughniyah foi o responsável pelo seqüestro de soldados israelenses, episódio que detonou a chamada segunda guerra do Líbano. Por outro lado, não se deve descartar a possibilidade de a iniciativa de matá-lo ter vindo de outros inimigos, além do estado judeu.

Os americanos acreditam que Mughniyah tenha treinado a milícia iraquiana de Moqtada AL Sadr, um clérigo xiita inimigo dos Estados Unidos. O porta-voz do Departamento de Estado americano, Sean McCormack, comemorou a morte de Mughniyah: "O mundo tornou-se um lugar melhor". Nos anos 80, depois do atentado que matou 241 fuzileiros navais, os Estados Unidos evacuaram suas tropas do Líbano. A retirada precipitada foi interpretada por Osama Bin Laden como a comprovação da fragilidade americana, de um governo incapaz de suportar a perda de alguns soldados. Segundo um de seus biógrafos, isso incentivou o saudita a lançar a guerra santa contra os Estados Unidos.

O seqüestro do vôo da TWA foi uma das raras vezes em que Mughniyah participou diretamente de um ataque terrorista. O homem que inventou o atentado suicida considerava-se importante demais para morrer pela causa. Sua morte muda alguma coisa na geografia do terror? Em teoria, ninguém é insubstituível. Seu sucessor pode ser ainda mais cruel e implacável. De qualquer forma, pode-se contar com o efeito psicológico da mensagem transmitida pelo assassinato: por mais cuidado que tome, nenhum terrorista pode se julgar em segurança.

 

Cabeças a prêmio

Até ser substituído por Bin Laden, Mughniyah era o principal nome na lista dos mais procurados pelos EUA. Vários terroristas já foram mortos ou capturados

AP
AFP
AP
Osama Bin Laden
O responsável pelos ataques em 11 de setembro de 2001 
Recompensa: 27 milhões de dólares
Ayman al-Zawahiri
Braço-direito de Bin Laden e o principal ideólogo da Al Qaeda
Recompensa: 25 milhões de dólares
Abu al-Zarqawi
Autor do atentado que matou o brasileiro Sérgio Vieira de Mello em Bagdá, em 2003 
Recompensa: 25 milhões de dólares


AFP
AFP
Imad Mughniyah
Líder do Hezbollah, ele introduziu o atentado-suicida
Recompensa: 5 milhões de dólares
Khalid Sheikh Mohammed
Organizou o atentado de 11 de setembro de 2001. 
Recompensa: 25 milhões de dólares

 

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