Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, fevereiro 01, 2008

Míriam Leitão - Futuro de juros



PANORAMA ECONÔMICO
O Globo
1/2/2008

No país da crise, os juros caem. E duas vezes seguidas. No Brasil, os juros não cairão tão cedo, e há quem acredite que eles podem subir. Essa foi a interpretação dada por uma parte do mercado à ata do Copom, que fala em "ajustes dos instrumentos de política monetária" e aumento "sensível" das projeções de inflação. A taxa subiu, mas é cedo ainda para falar em alta dos juros por aqui.

A ata do Copom não deixou dúvidas do recado que o Banco Central brasileiro quis passar: o de que está muito mais preocupado com a inflação do que estava antes. No parágrafo 18, a ata diz que a "projeção para o IPCA em 2008 elevou-se sensivelmente em relação ao valor considerado na reunião do Copom de dezembro, e agora se encontra em torno do valor central de 4,50%". O fato é que "elevou-se sensivelmente", mas está exatamente no centro da meta.

A inflação subiu no fim do ano, porém fechou em cima da meta. Nos índices mensais, a taxa está caindo em relação ao mês anterior. Esta semana, o IGP-M surpreendeu. Muita gente achava que ficaria abaixo de 1%, e não ficou. O IPCA que vai ser divulgado no dia 13 vai mostrar queda em relação ao mês anterior, mas o acumulado de 12 meses vai subir.

- Agora a inflação começará a ficar ligeiramente acima da meta, mas é porque, nos primeiros meses de 2007, ela ficou baixa e agora os números, mesmo declinantes, serão maiores que os dos mesmos meses do ano passado. O acumulado estará subindo durante todo o primeiro trimestre - disse Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio.

O que deixou o mercado mais impressionado foi o parágrafo 23, em que o Copom diz que "há sinais de aquecimento da economia" e que "elevaram-se os riscos de concretização de um cenário benigno". E por isso: "o Comitê reitera que está pronto para adotar uma postura diferente, por meio do ajuste dos instrumentos de política monetária, caso venha a se consolidar um cenário de divergência entre a inflação projetada e a trajetória das metas". O que é isso, a não ser o óbvio? Se houver o risco de não-cumprimento da meta, o Banco Central subirá os juros. É o que ele sempre diz, e que os bancos centrais normalmente avisam.

Se isso, de fato, acontecer, o BC ficará numa situação curiosa de estar elevando as taxas aqui, enquanto os juros estarão caindo no país que é o centro da crise mundial. Para o histórico do Brasil, os juros são baixos, mas 11,25% ficam parecendo um aleijão perto dos 3% dos Estados Unidos.

Petrobras x Vale: a briga continua

A briga entre a Vale e a Petrobras prossegue. O presidente da BR Distribuidora, José Eduardo Dutra, me ligou e disse que nunca houve contrato com a Vale para fornecer o B20 (a mistura de 20% de biodiesel no diesel de petróleo). Ontem, contei aqui que a Petrobras tinha suspendido um contrato de fornecimento dessa mistura de biodiesel, que já estava sendo usada nas locomotivas da Vale, dentro do projeto da empresa de reduzir as emissões de carbono.

Segundo Dutra, o contrato que foi assinado entre as duas empresas é o que torna a BR fornecedora exclusiva de combustível em geral para a Vale.

- Esse contrato é que tem o valor de R$11 bilhões. Sobre biocombustível, o que houve foi uma reunião entre as duas empresas em que ficou acertado o fornecimento experimental de B20 para a Vale para algumas locomotivas, e até dezembro de 2007 - afirmou o presidente da BR Distribuidora.

Dutra está certo quanto ao valor. De fato, R$11 bilhões é o valor do contrato geral de venda de combustível, mas, quanto ao resto, a confusão continua. A Vale, ouvida ontem, disse que o fornecimento do diesel com mistura de 20% de biodiesel é parte desse acordo global de fornecimento de combustível.

- O fornecimento de B20 não era experimental, estava incluído no contrato geral de combustível, tanto que hoje nós temos 500 locomotivas que foram preparadas para usar o B20, e nossa intenção era ter a frota inteira rodando com a mistura - disse Tito Martins, diretor de Assuntos Corporativos e de Energia da Vale.

Tito Martins argumenta que, se fosse apenas "uma experiência", não haveria a preparação de 500 locomotivas, e a então presidente da BR Distribuidora, Maria das Graças Foster, não teria ido à Vale para anunciar isso.

Nesse ponto, da ida ou não da então presidente à BR, as duas empresas também não se entendem.

- A Graça foi à Vale apenas no fim de dezembro de 2006 assinar o contrato geral de combustíveis - garante Dutra.

A Vale assegura que a então presidente da BR esteve lá novamente em maio de 2007, quando foi divulgado um release conjunto sobre o fornecimento de B20, e que lá ela declarou à imprensa que o fornecimento de B20 fazia parte do contrato geral de combustíveis. Os jornais da época falam que ela esteve na Vale, onde foi distribuído um release com informações sobre o fornecimento de B20. O texto fala em "parceria" e "acordo", mas não na palavra "contrato". Na entrevista concedida, no entanto, Maria das Graças Foster diz que o B20 estava "dentro" do contrato.

- Entendo que houve um rompimento de contrato - afirma Tito Martins.

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