PANORAMA ECONÔMICO |
O Globo |
7/2/2008 |
Nada acabou na quarta-feira. A disputa da superterça não definiu candidatos, apesar do favoritismo de John McCain e da vantagem de Hillary Clinton. O problema dessa eleição é que estão todos com agenda velha. Os eleitores estão de olho na crise econômica, mas o provável candidato republicano encarna o comandante-em-chefe, e os dois democratas oferecem um pouco mais do velho Estado do bem-estar social. A previsão mais comum feita no ano passado era que o Iraque dominaria a agenda da disputa eleitoral americana. Isso foi antes de a crise se aprofundar, e os eleitores dos dois partidos deixarem claro, em todas as pesquisas, que de 80% a 90% deles acham que o principal tema é a economia. Havia uma esperança de que a questão climática pudesse ter uma presença forte na campanha dos democratas, principalmente depois de Al Gore brilhar ganhando os prêmios Emmy, Oscar e Nobel por sua campanha antiaquecimento global. Tanto Barack Obama quanto Hillary Clinton estão frustrando expectativas verdes e deixando o assunto de lado. No último debate feito na Califórnia - estado em que a militância ambiental crescente transformou o governador de exterminador do futuro em aliado da causa verde -, a única menção feita ao tema foi de Hillary. E de forma ligeira. O eleitorado quer mudança. De lado a lado. É o que mostram pesquisas e entrevistas. Os democratas oferecem mudança em dose dupla: a primeira mulher, o primeiro negro a chegar tão perto da candidatura. Os dois, supostamente, representariam a escolha entre mudança e experiência, mas nenhum deles tem muita experiência de cargo público executivo e cada um dos dois representa a mudança em certa medida. Os republicanos ofereceram três tipos: o comandante-em-chefe, encarnado pelo veterano do Vietnã John McCain; o CEO (presidente de empresa), encenado pelo empresário rico e bem-sucedido Mitt Romney; e o pastor fundamentalista, papel desempenhado por Mike Huckabee. Se o que os eleitores querem é economia, o empresário multimilionário Romney deveria estar à frente nos votos e, na verdade, foi um dos grandes fracassos dessa disputa republicana. O problema com Romney é que, de todos, ele é o que mais se parece com a continuidade; é o que mais tem pontos em comum com George W. Bush. Além do mais, fala da economia da perspectiva das grandes empresas, e não da classe média ameaçada de perder a casa. A oposição tem a vantagem de ser oposição no meio de uma crise econômica. Numa campanha, quem não é governo tem sempre muito a dizer apenas criticando. Quando tanto Obama quanto Hillary falam sobre o que pretendem fazer, há pouca proposta nova. Entre o novo está, por exemplo, a idéia de treinamento de trabalhadores para a nova economia, de mudança tecnológica e de energia verde. Hillary tem um programa de preparação de trabalhadores para o mercado de energia verde, que ela chama de green-collars, para diferenciar do que eles chamam de blue-collars, trabalhadores da indústria convencional. Mas tanto Obama quanto Hillary têm projetos que são a ampliação da velha idéia do Estado do bem-estar social: assistência médica universal, aumento do salário mínimo, subsídios a compradores de casa própria, pacote emergencial de ajuda aos ameaçados de despejo com a crise das hipotecas. Os dois têm pequenas diferenças no valor da ajuda e no tipo de medida do pacote imobiliário. Nada do que propõem representa alguma mudança importante de rumo da economia americana, que enfrenta três ameaças realmente sérias quando aparecem juntas: recessão, inflação e déficit fiscal crescente. Hillary tem vantagens no debate econômico por dois motivos: soa mais segura quando entra em detalhes e sempre pode recorrer à lembrança dos bons anos Clinton, em que o país cresceu com estabilidade fiscal e dólar forte. McCain, até por sua história de vida, é mais convincente quando fala de questões de segurança nacional, que sempre será um tema importante de qualquer campanha presidencial, mas tem poucas respostas para a economia. Para a disputa da superterça, enquanto os candidatos falavam de retorno das tropas, assistência médica e imigração, o que realmente atingia os eleitores é o medo de perder o emprego: nos estados onde houve convenção, foram perdidos 1,5 milhão de empregos em 2007. Os candidatos ainda estão meio fora de foco, e os institutos de pesquisa também. Todos previam que McCain fosse sair já consagrado da superterça, muitos disseram que Hillary estava ameaçada de perder na Califórnia e ninguém previu a força demonstrada pelo azarão Huckabee. Na Geórgia, a maioria do eleitorado diz ser evangélica. Entre o mórmon Romney e o pastor batista, a preferência era clara pelo segundo. Os Estados Unidos fizeram um profundo ajuste nos anos 80/90, o que permitiu o salto de produtividade e os anos de crescimento. O desafio agora é maior até do que apenas resgatar a economia da recessão e ajustar as contas públicas. Os EUA terão de encontrar um novo horizonte de competitividade. Se, naquela época, o truque foi a terceirização da produção para a redução dos custos, agora o desafio é maior: transitar para a nova economia de alta tecnologia e baixo carbono. |
Entrevista:O Estado inteligente
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