Só há uma má notícia para o presidente Lula na nova rodada de pesquisas do Instituto Sensus para a Confederação Nacional dos Transportes: o governo não tem um candidato que consiga representá-lo. Ia escrevendo substituí-lo, mas isso não é de agora que parece impossível de acontecer. O PT mesmo nunca teve um outro candidato viável que não fosse Lula, mesmo para perder e continuar viável. Com uma formidável taxa de aprovação pessoal de 66,8%, e em ascensão no segundo mandato, Lula vai confirmando que é um fenômeno político e, mesmo não podendo se candidatar novamente, recebe, em votação espontânea, 18,6% dos votos, enquanto o governador de São Paulo, José Serra, que é o mais bem colocado dos candidatos à sua sucessão, tem apenas 5,1%. A interpretação desses resultados, no entanto, vai além do puro carisma pessoal do político Lula e, como sempre, está na economia, que quando está bem consegue eleger candidatos bem menos carismáticos do que Lula, como Fernando Henrique Cardoso, um intelectual que não se classifica como político profissional mas que, com a implantação do Plano Real, reinou absoluto no imaginário popular a ponto de derrotar esse mito político com tranqüilidade. Pois, com a melhoria da situação econômica, aumentou o número de pessoas que acreditam que o crescimento do país é sustentável a longo prazo: em outubro passado, eram 51,7% , hoje já são 60,9% os que acreditam nisso. A crise financeira internacional, que ainda não se sabe para onde vai nem que efeitos terá sobre nosso dia-a-dia, pode desfazer esse sonho, assim como a desvalorização do real em 1999 começou a desfazer, na cabeça do eleitor, o sonho de uma moeda permanentemente forte. Mas talvez não ter candidato forte não seja uma notícia tão má assim para o presidente Lula, pois, em política, pelo menos na brasileira, já é uma tradição o presidente no exercício do mandato não querer fazer seu sucessor, não apenas para deixar saudade, mas para transformar essa saudade em votos em uma eventual tentativa de retorno à Presidência, quatro anos depois. Nos Estados Unidos, onde o presidente não pode concorrer a mais nada depois de eleito ou reeleito, já é uma tradição, ao contrário, querer eleger o sucessor, pois o candidato do partido geralmente é o seu vice-presidente. No caso particular do PT e de Lula, então, sempre pairou essa sombra sobre sua liderança. Depois de perder três eleições seguidas, duas delas já no primeiro turno para o então presidente Fernando Henrique Cardoso, Lula foi contestado dentro de seu próprio partido como o candidato natural e automático em 2002, e a muito custo aceitou participar de uma eleição prévia contra o senador Eduardo Suplicy, que se apresentou como uma alternativa. Lula obteve mais de 80% dos votos. A aprovação popular de Lula demonstra que ele continua sendo uma figura ímpar, única, não apenas dentro do PT, mas na cena brasileira, e, se se mantiver descolado das crises políticas que envolvem seu governo, e a economia brasileira não for afetada drasticamente pela crise internacional, pode chegar à sua sucessão em condições de organizar uma chapa competitiva. Dificilmente se consegue transferir o prestígio pessoal para um outro candidato, mas, se a base partidária que montou ao seu redor fosse mais homogênea, ou menos personalista, seria possível montar uma chapa com PT e PMDB, as duas maiores máquinas partidárias do país. Acontece que o candidato da base aliada que tem mais apelo popular, pelo menos antes de a campanha começar, chama-se Ciro Gomes, é do PSB e tem um jeito de fazer política que exige dele certa distância prudente do governo, para exercitar uma independência que o coloque como uma alternativa à alternância entre PT e PSDB. Não foi à toa que não quis continuar sendo ministro no segundo mandato. Além do mais, nem PT nem PMDB se sentiriam confortáveis dando a liderança de uma campanha presidencial a Ciro, um político impulsivo, centralizador e autoritário que, por isso mesmo, exerce um apelo em parcela ponderável do eleitorado, atraindo, no entanto, uma rejeição maior ainda, pelo menos até o momento. Como em política nem sempre vencer é a única alternativa - há os que, como Ciro, Serra, e o próprio Lula, perdem hoje para se qualificarem amanhã -, o PT já está decidido a ter candidato próprio, mesmo que seus principais nomes no momento, a chefe do Gabinete Civil, Dilma Rousseff, e o ministro do Bolsa Família, Patrus Ananias, não pareçam ter grandes chances. Com todo o sucesso do governo Lula na percepção do eleitorado - até a aprovação do governo cresceu, embora continue descolado do índice de Lula, e haja críticas à saúde e à segurança pública -, o candidato favorito continua sendo José Serra, que, no entanto, não conseguiu até o momento transformar esse capital político reiterado pelas pesquisas desde a campanha de 2006 num instrumento de coesão interna no PSDB. E essa pesquisa do Sensus tem uma informação que complica ainda mais a tarefa de Serra: mostra que o governador de Minas, Aécio Neves, está crescendo na preferência do eleitorado, e que, num eventual segundo turno, venceria uma disputa com Dilma ou Patrus, o que lhe dá fôlego para continuar lutando. Não há uma projeção para um eventual embate entre Ciro e Aécio num segundo turno, o que é estranho e não foi explicado, mas o potencial candidato do PSB perderia para Serra, assim como os dois presumíveis candidatos do PT. Sem a presença de Lula na campanha eleitoral pela primeira vez desde 1989, há várias forças que se destacam, como a da senadora Heloísa Helena, do PSOL, que aparece bem cotada em várias situações. |