| Folha de S. Paulo | 19/2/2008 | Um dado deveras interessante da pesquisa CNT/Sensus divulgada ontem é sobre a reação dos entrevistados aos cartões corporativos do governo: dos 64,1% que sabem do que se trata, 83,1% desaprovam o seu uso. Em outras palavras: se ministros, assessores e reitores de universidades federais se esbaldam com os cartões, punam-se... os cartões! A discussão resvala para o viés do atraso. Se há tentativas de fraudes, clonagem, desvio, surge logo uma grita para voltar atrás na urna eletrônica, nos caixas automáticos, no cartão corporativo. O problema, porém, não está nos instrumentos, está em quem usa e em quem regula e fiscaliza os instrumentos. Se a Matilde se deslumbra com o cargo, se o reitor da UnB é chique, se um ministro leva família, babá e cachorrinho para hotéis de luxo no fim de semana no Rio, tudo isso é culpa deles próprios e do governo, que deixa correr solto. O coitado do cartão corporativo não tem culpa nenhuma, ao contrário do que a maioria dos entrevistados acha. Os cartões são fáceis de usar, desburocratizados, registram todos os gastos tintim por tintim -até na tapiocaria- e vieram para ficar. Quem já arrancou os cabelos com prestações de conta em três moedas diferentes sabe como o cartão é muito mais eficiente e confortável para todos os lados. Desde que, claro, haja dignidade e bom uso. Aliás, é muito mais fácil desviar dinheiro para tapiocarias e afins com notas fajutas do que com cartão. Em vez de prestigiar o cartão, o Portal da Transparência e a vigilância da imprensa, há os que querem justamente o contrário: destruir o cartão e voltar à bagunça das notas e diárias sem controle, esconder o Portal, acabar com a transparência e punir os jornalistas por divulgarem as falcatruas. Sim ao cartão, não à farra com dinheiro público, seja ela com cartões, notas frias, notas quentes ou qualquer coisa do gênero. | |
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