NOVA YORK.
Se a candidatura de Barack Obama não vingar devido à ação dos chamados superdelegados, aqueles que não são escolhidos diretamente pelo voto nas primárias, mas representam a cúpula partidária em cada estado, poderá também haver um esvaziamento perigoso da campanha eleitoral dos democratas, que hoje vive um momento radioso não apenas por estarem disputando “a primeira mulher” e o “primeiro negro” a terem chance de ser o próximo presidente dos Estados Unidos mas, sobretudo, devido à mobilização que a candidatura de Obama está provocando entre o eleitorado jovem, que dificilmente se mobilizará por uma eventual candidatura Hillary Clinton, considerada “oficial”, representação de uma oligarquia política.
Existem diversas teses sobre as primárias dos Estados Unidos, a mais popular delas a que diz que os eleitores das primárias são mais agressivos do que o eleitor médio americano, e um clima acirrado de disputa como esse que se vê agora entre Hillary Clinton e Barack Obama pode produzir um candidato que não reflita exatamente o anseio do eleitor médio, facilitando uma até pouco tempo impensável vitória de um candidato republicano, apesar da guerra do Iraque e da ameaça de recessão na economia.
Mas essa tese cautelosa, que favorece a candidatura de Hillary Clinton, apoiada no establishment democrata, pode ser superada pelos acontecimentos, a começar pelo fato de que não está respaldada, até o momento, pelas pesquisas de opinião.
Ao contrário, elas mostram que os eleitores independentes preferem Obama a Hillary, ampliando seu raio de ação. E, como ele aparece como o vencedor de um eventual duelo com o republicano John McCain, enquanto Hillary perde, vê-se que o eleitor médio americano já não reage à possibilidade de um candidato negro chegar à Casa Branca.
Uma das estratégias dos Clinton, já que parece perdida a hegemonia que tinham entre o eleitorado negro, seria a de caracterizar Obama como o candidato dos negros, ganhando assim o apoio do eleitorado hispânico e também o dos brancos que ainda não se sentem confortáveis em votar num negro.
A melhor aposta de Barack Obama está, portanto, em que prevaleça a tese que ele vem defendendo desde o início, de que não pode haver uma divisão nem de cor nem de gênero na escolha do futuro candidato a presidente dos Estados Unidos.
Tudo indica que é assim mesmo que ele se sente, e a nova geração de eleitores também, mas a questão é saber se essa onda a favor da renovação na maneira de fazer política e de votar será suficientemente forte para frear a tendência, até aqui prevalente, de a direção nacional dos democratas jogar o jogo tradicional, em vez de arriscar uma mudança que pode ser até mesmo a mudança desse esta blishment que hoje dá as cartas.
A influência das direções partidárias é conhecida no jargão de campanha como a “primária invisível”, onde a decisão é tomada por motivos eleitorais próprios de cada dirigente, de cada liderança política, de cada financiador de campanha.
Há muito tempo não se via campanha tão disputada entre os democratas, e mesmo entre os republicanos, o que parecia um sonho distante, uma corrida já perdida, ganhou novo fôlego diante da recuperação da candidatura de McCain.
A motivação do eleitorado tem basicamente uma razão, a vontade, de ambos os lados, de superar a desastrosa gestão George W. Bush, sendo que esse anseio, por parte dos democratas, encontrou em Barack Obama a candidatura certa no momento certo.
Toda a movimentação em torno das primárias teve também dois motivos novos: a antecipação das prévias em vários estados, o que acabou fazendo convergirpara ontem uma série de decisões importantes, como a da Califórnia e a de Nova York, que eram tomadas mais para o meio do ano, quando as escolhas já estavam praticamente sacramentadas, e a transformação das prévias em um grande espetáculo nacional, e não simples decisões locais.
Essa nacionalização da escolha foi uma razão para que a candidatura de Obama se difundisse e crescesse à medida que ele ia mostrando capacidade de vencer. Mas nem tudo está sendo novo nessa corrida presidencial.
O ex-prefeito de Nova York, Rudolph Giuliani, o favorito republicano antes de começarem as prévias, simplesmente saiu do radar do eleitor e teve que desistir porque tentou inovar na estratégia e abandonou as primeiras disputas para se concentrar na Flórida, de onde pretendia iniciar uma caminhada vitoriosa.
Permaneceu viva a lenda de que Iowa e New Hampshire podem ser decisivas na corrida presidencial, apesar do pequeno número de delegados em jogo.
O que fica claro logo nessas primeiras disputas é a chamada “elegibilidade” dos candidatos, isto é, a capacidade de reunir apoios e financiamentos que dêem à candidatura uma sensação de permanência apesar de imprevistos.
Como o que está acontecendo com Hillary Clinton, pega de surpresa pela força eleitoral insuspeitada de Obama, mas com fôlego para enfrentar essa surpresa e se manter ainda como a favorita dentro do partido.
Em uma entrevista a David Letterman, na noite de segundafeira, Hillary Clinton defendeu uma tese que lhe tem sido grata nos últimos dias: a necessidade de unir “mudança” com “experiência”.
E, para perder a fama de que é candidata apenas pela capacidade arrecadatória, defendeu o financiamento público de campanha, revelando que os principais candidatos juntos gastarão cerca de meio bilhão de dólares na campanha eleitoral.
A mudança que Hillary Clinton defende parece aos eleitores jovens aquela defendida pelo príncipe de Lampedusa no Gatopardo, mudar para ficar tudo no mesmo. Barack Obama seria a verdadeira mudança. Mesmo que essa seja apenas uma percepção sonhadora da realidade.
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
Arquivo do blog
-
▼
2008
(5781)
-
▼
fevereiro
(481)
- A Sociologia do Pessimismo dos motoristas de táxi
- Nelson Motta Descontrole remoto
- Clipping de 29 de fevereiro
- Viaje a seu risco e perigo
- Restrições ao meu otimismo
- A perversidade das Farc
- Eliane Cantanhede - Abrindo o apetite
- Dora Kramer - As lides da embromação
- Clóvis Rossi - Crimes, pequenos ou grandes
- Celso Ming - Sacrifícios a Moloque
- Sou, mesmo, um pequeno burguês
- Sócio incômodo
- Luiz Garcia - Fígado, e também tutano
- Merval Pereira - Visões de Estado
- Míriam Leitão - A reforma da vez
- Lula fala sobre economia e o brasileiro no Rio
- Clipping de 28 de fevereiro
- Miriam Leitão Nas duas pontas
- Merval Pereira - A aposta
- Jânio de Freitas - Caminhos do roubo
- Dora Kramer - Soro da verdade
- Clóvis Rossi - O Estado caixa-preta
- Celso Ming - Questão de prioridade
- A resposta de FHC às grosserias de Lula
- Clipping de 27 de fevereiro
- O ministro não se abala
- AUGUSTO NUNES- O Magnífico Reitor e seu lixo de luxo
- Roberto DaMatta O lugar da polícia
- Confusão na reforma
- Villas-Bôas Corrêa A ressurreição do escândalo Pal...
- Míriam Leitão - O veio da mina
- Merval Pereira - O ilusionista
- Dora Kramer - A correlação da força
- Clóvis Rossi - O melhor cinema brasileiro
- Celso Ming - Morro abaixo
- Clipping de 26 de fevereiro
- Ligações duvidosas
- Emprego vitalício
- Nada de novo em Havana
- Dora Kramer - Fazer acontecer
- Celso Ming - Sem riscos
- Celso Ming - O que é bom a gente esconde
- Clóvis Rossi - Fome mil
- Eliane Cantanhede - Amizade colorida
- Merval Pereira - O papel de Lula
- Míriam Leitão - Arco de fogo
- Rubens Barbosa Fidel - O homem e o mito
- A quem serve a tal liberdade de imprensa?
- Clipping do dia 25/02/2008
- Clipping do dia 24/02/2008
- Clipping do dia 23/02/2008
- Antonio Sepulveda- "El Comandante é o outro".
- AUGUSTO NUNES- SETE DIAS
- Miriam Leitão
- Merval Pereira
- Daniel Piza
- João Ubaldo Ribeiro
- Mailson da Nóbrega
- Alberto Tamer
- Suely Caldas
- Celso Ming
- Dora Kramer
- Verdades, mentiras e versões
- Mais recursos para a educação básica
- A reforma tributária possível
- CLÓVIS ROSSI
- Esboço positivo
- DANUZA LEÃO
- FERREIRA GULLAR
- De devedor a credor
- Contratos sob suspeita
- Miriam Leitão
- Merval Pereira
- RUY CASTRO
- Forno de Minas
- CLÓVIS ROSSI
- Tailândia, Brasil
- Convenioduto
- Celso Ming O frango sob ameaça
- Dora Kramer
- O fim das ameaças à imprensa
- VEJA Carta ao leitor
- VEJA Entrevista: Alice Braga
- Stephen Kanitz
- MILLÔR
- André Petry
- J. R. Guzzo
- REINALDO AZEVEDO
- Diogo Mainardi
- RADAR
- Roberto Pompeu de Toledo
- O momento econômico e os méritos da gestão Lula
- O roubo dos laptops: que informações foram levadas?
- As ações da Igreja Universal contra a Folha de S.P...
- Liminar do Supremo revoga Lei de Imprensa
- Naufrágio mostra os perigos do transporte na região
- O futuro sem Fidel
- Independência de Kosovo anima outros separatistas
- Míssil dos EUA destrói satélite
- A ONU cria banco de sementes no Ártico
-
▼
fevereiro
(481)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA