Entrevista:O Estado inteligente

domingo, fevereiro 10, 2008

MERVAL PEREIRA -Primárias na AL

NOVA YORK

Um trabalho dos cientistas políticos John M. Carey e John Polga-Hecimovich, ambos do Dartmouth College, nos Estados Unidos, mostra que o sistema de prévias adotado pelos partidos americanos, e que tem tanto chamado a atenção do mundo como uma maneira de revitalizar o sistema democrático, também ganha espaço na América Latina. Não é um sistema utilizado por todos os partidos automaticamente, como nos Estados Unidos, nem há países que o utilizem regularmente. A primeira eleição envolvendo seleções pelo sistema de primárias aconteceu em 1978 na Colômbia, na Costa Rica e na Venezuela. A pesquisa inclui 826 candidatos presidenciais, através de 90 eleições em 18 países.

Desses, 47 candidatos de 29 diferentes partidos e coalizões, em 33 eleições de 15 países, foram selecionados por meio de primárias.

Em alguns casos, como na Colômbia, na República Dominicana, no Uruguai, na Venezuela e no Brasil, partidos experimentaram as primárias e depois desistiram, às vezes mais de uma vez. Segundo os pesquisadores, o sistema tem aumentado de incidência na região e em alguns países os partidos são freqüentemente chamados a explicar por que não o utilizam.

Onde o sistema é adotado, dizem os estudiosos, ele contribui para a transparência e a democracia interna nos partidos. No Brasil, onde um grupo do PSDB pretende adotar o sistema na escolha do candidato à sucessão de Lula, em 2010, o único exemplo de que se tem notícia foi a disputa entre o próprio Lula e o hoje senador Eduardo Suplicy, que indicou Lula em 2002 como candidato do PT com 86% dos votos.

O estudo diz que esta “consagradora demonstração de apoio” na convenção e, ao mesmo tempo, a demonstração de que o PT tinha um compromisso com a democracia interna, certamente ajudaram na vitória de Lula na eleição presidencial daquele ano.

Usando pesquisas de todas as eleições presidenciais democráticas a partir de 1970, os pesquisadores encontraram evidências de que há o que chamam de “bônus das primárias”, isto é, que os candidatos selecionados através desse sistema são mais fortes eleitoralmente do que os escolhidos por outros sistemas.

O principal objetivo para empregar as primárias é transformar a escolha do candidato “abert a , transparente e democrática”, dizem os autores, no que deve ser música para os ouvidos do governador de Minas Gerais, Aécio Neves, e do mais novo candidato a candidato e adepto das prévias, o senador Arthur Virgílio.

Existem várias razões para isso acontecer, especialmente o fato de que, ampliando os eleitores nas primárias, o partido escolhe melhor. E também que os eleitores, de maneira geral, identificam nos candidatos escolhidos em prévias democráticas uma espécie de “selo de qualidade” que os faz serem recompensados nas urnas.

Um dos aspectos levantados pelos pesquisadores, e que é o centro da tese dos tucanos que defendem este processo de escolha, é que o sistema é mais eficiente em identificar candidatos com apelo popular, especialmente entre aqueles que não estão dentro da elite política nos centros de decisão.

Não seria exatamente o caso do governador de Minas, que faz parte da elite política desde o berço, mas seria uma maneira de superar o controle político que a seção paulista do PSDB exerce, segundo os tucanos que defendem as prévias. Uma outra vantagem potencial das primárias seria gerar consenso partidário ou ao menos reduzir as divergências.

Não é o que está acontecendo nos Estados Unidos, por acaso nos dois partidos, especialmente entre os democratas, onde a divisão parece crescer a cada instante.

Entre os republicanos as divisões estão expostas, mas é possível que venham a ser reduzidas na medida em que a campanha for chegando ao fim, com a seleção natural se encaminhando para o senador John McCain.

Outro ponto interessante, que tem tudo a ver com a direção nacional do PSDB, é que o sistema de primárias retira o peso da escolha de cima dos líderes partidários, transferindoo para a massa anônima dos votantes, legitimando o vencedor e tornando mais fácil ao perdedor aceitar o resultado sem se considerar traído.

Um exemplo do sucesso do sistema é a escolha de Ricardo Lagos em 1999, no Chile, quando um bloco da Democracia Cristã pensou em sair da coalizão Concertación para apoiar uma candidatura dissidente.

Houve um entendimento para que o senador Andrés Zaldivar disputasse uma prévia com Lagos, que foi o indicado e disse que seria “o terceiro presidente da Concertación, e não o segundo presidente socialista do Chile”.

O fato de que quase todos os candidatos selecionados através de prévias disputaram em eleições gerais com candidatos escolhidos por outros métodos, mais centralizadores, significa que a análise dos resultados, identificando o chamado “bônus das primárias”, serve para constatar que o método tem alguma influência nos resultados finais.

Os pesquisadores testaram todas as eleições e chegaram à conclusão de que o sistema de primárias teve um efeito substancial, aumentando em 4% a 6% as chances dos candidatos escolhidos por este sistema.

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