Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, fevereiro 01, 2008

Luiz Garcia - Autoridade e presença




O Globo
1/2/2008

Um governo pode ser avaliado de muitas maneiras e segundo variados critérios, mas não deve ser exagero imaginar que, pelo menos na primeira metade do mandato, pesa muito a comparação com a administração anterior.

Se é o que vale, Sérgio Cabral teve quase tudo a seu favor, até agora. Inclusive na área da segurança, um dos desastres mais notáveis no balanço dos anos de mando de Garotinho e companhia.

Não custa repetir: até agora. A partir de depois do carnaval, a administração da crise na Polícia Militar será vital na avaliação popular e política de toda a gestão de Cabral.

Um complicador da situação é representado por uma legislação penal extremamente generosa na libertação de réus. Como aconteceu com dezenas de PMs de um mesmo quartel, flagrados na cumplicidade com traficantes. E também com outros apanhados roubando engradados de bebidas de um caminhão.

Duas atitudes opostas a propósito de policiais presos e soltos ajudam a definir os dois campos da crise. O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, afirmou: "Foi uma afronta, eles são acusados de crimes graves." Bem diferente do que disse o então comandante da PM, coronel Ubiratan Ângelo: "Estar livre é um desejo do ser humano. Não vejo mal algum nisso." A opinião do secretário talvez seja compartilhada por um bom pedaço da opinião pública. A do coronel, possivelmente, por diversos coronéis.

Ângelo, que tinha biografia profissional impecável, foi demitido do comando dias depois, não por suas idéias sobre desejos humanos, mas por ter sido solidário com uma passeata de oficiais pedindo melhores soldos. Nos últimos dias, dezenas de coronéis anunciaram que pediriam exoneração de seus cargos ao chefe do Estado-Maior da PM, "seja lá quem for", como disse um dos coronéis. Diversos já o fizeram.

Assim se instalou uma crise na segurança pública do estado. Crise nova, mas associada a problema antigo. A cabeça da estrutura pode ser uma só (ainda que quase sempre represente os policiais civis), mas as diferenças do pescoço para baixo são variadas e profundas o suficiente para tornar acidentada, algumas vezes violenta, a convivência entre policiais civis e militares. Sofre com isso, inevitavelmente, a oferta de segurança à população, em qualidade e intensidade.

Os problemas do momento exigem enfáticas e repetidas manifestações da autoridade do governador. Não se trata, claro, de participar em operações policiais, o que seria apenas jogar para a arquibancada - além de perigoso - e sim de sua presença continuada no estado, ao mesmo tempo orquestrando e cobrando unidade e firmeza de propósito nas polícias Civil e Militar.

Não é hora de ir a Paris, nem mesmo para comprar equipamento de segurança pública.

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