Entrevista:O Estado inteligente

sábado, fevereiro 02, 2008

Celso Ming Cai o saldo comercial

Foi enorme o tombo do superávit comercial de janeiro: de nada menos que 62,7% em relação ao superávit de janeiro do ano passado.

As exportações não encolheram. Deram um salto de 20,9%. Foram as importações que cresceram ainda mais, nada menos que 45,6% em relação às registradas em janeiro de 2007.

Será preciso acompanhar o comportamento do fluxo comercial nas próximas semanas para verificar se estamos ou não diante de uma nova tendência.

O que dá para dizer é que o consumo interno vai crescendo perto dos 10% e que as importações estão ajudando o setor produtivo a garantir o suprimento interno de mercadorias.

No forte aumento das estatísticas de importação há dois dados positivos: o crescimento de 56,9% nas importações de máquinas e de 52,7% nas importações de matérias-primas e produtos intermediários. Esses dois dados mostram que o setor produtivo está tirando o atraso de modo a poder suprir a demanda.

Há alguns meses os analistas alertavam para a queda do superávit na balança comercial a ser atribuída à provável baixa dos preços das commodities, efeito da recessão americana. Até agora o tombo nos preços não se confirmou. Ao contrário, as commodities agrícolas seguem em alta quase ininterrupta em conseqüência do aumento do consumo nos emergentes da Ásia, especialmente na China e na Índia, e da utilização de volumes crescentes de milho para a produção de etanol nos Estados Unidos. Também parece precipitado afirmar que os preços das matérias-primas metálicas enfrentarão um processo inexorável de baixa de preços. A Vale está negociando um reajuste de mais de 40% nos preços do minério de ferro. E bastou que fortes nevascas açoitassem a China semana passada para que a paralisação das atividades de minas e de indústrias redutoras de metais puxasse os preços das matérias-primas metálicas, o que denuncia falta de estoques. Isso parece indicar que diminui a chance de que uma eventual redução do resultado comercial do Brasil nos próximos meses possa ser explicada pela baixa de receitas com exportação de produtos primários.

Em compensação, não se podem desprezar os efeitos de um possível achatamento adicional das cotações do dólar sobre o comércio exterior brasileiro. Nos últimos 19 meses, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) derrubou os juros básicos (Fed funds) em 2,25 pontos porcentuais, para 3% ao ano. Apenas nas duas últimas semanas de janeiro foram cortes acumulados de 1,25 ponto porcentual. E novas quedas podem ocorrer em março e abril. Enquanto isso, os juros básicos no Brasil permanecem nos 11,25% ao ano e podem voltar a subir em março, como parece indicar a última Ata do Copom.

Isso significa que a diferença entre os juros básicos vigentes aqui e nos Estados Unidos está crescendo, o que favorece as operações de arbitragem (tomada de recursos lá fora a juros mais baixos para serem aplicados aqui a juros mais altos). Se houver maior entrada de recursos, em conseqüência desse fato, ficará reforçada a tendência à valorização do real (queda do dólar no câmbio interno) o que, por sua vez, poderá favorecer ainda mais as importações.

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