Entrevista:O Estado inteligente

domingo, fevereiro 17, 2008

Alberto Tamer EUA exportam mais para sair da crise




Notícias positivas para os Estados Unidos, mas nada agradáveis para o Brasil e outros parceiros comerciais. As importações americanas de bens de consumo tiveram um recuo de 1,1% em dezembro e as exportações aumentaram 1,5%. Reduziu-se a voracidade dos americanos por produtos importados, mesmo pagando preços menores.

Para os EUA isso poderia,em tese, representar mais pressão inflacionária, pois os bens importados mais baratos serão substituídos por outros nacionais, de custo de produção maior e mais caros. Como a demanda interna está sendo agora aquecida com novo estímulo em dinheiro e juro menor, pode-se prever para os próximos meses mais inflação nos EUA, principalmente por causa do aumento dos preços do petróleo e de alimentos.

A questão é saber se o presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, vai continuar reduzindo os juros, uma das peças para reanimar a demanda. Parece não haver mais saída a não ser aceitar mais pressão inflacionária para enfrentar a crise e crescer.

SUPERÁVIT DECLINA

O fator positivo para os EUA, nesse cenário, é que o déficit comercial caiu nada menos que 6,9% em dezembro, o maior recuo desde outubro de 2006. Essa tendência vem se acentuando cada vez mais nos últimos seis meses. A política de dólar desvalorizado continua dando bons resultados para o governo americano, que mesmo assim carregava um déficit comercial de US$ 711,6 bilhões. No fundo, o novo cenário do mercado externo americano é de vender mais e comprar menos. 

MAL PARA TODOS

Mas como ficam os outros países que exportam para os EUA? Mal. 

(1) Ao importar menos, os EUA enfraquecem a posição de seus parceiros comerciais que tinham até agora no mercado americano o grande consumidor dos seus excessos de produção. No fundo, os atuais US$ 711 bilhões de déficit comercial nada mais são que compras de outros países sem a contrapartida de exportações americanas. Agora, isso tende a se inverter.

(2) Mas se esses parceiros pararem de crescer, não terão condições de absorver a nova onda de exportação americana. E estamos diante de um cenário de maior retração econômica. A saída seria buscar a redução do desequilíbrio comercial entre os EUA e seus parceiros, o que hoje é impossível por causa do grande déficit americano e a desaceleração econômica mundial. Por isso, pode-se prever que nos próximos meses, o Fundo Monetário Internacional deve rever para baixo sua previsão de 4,1%. Isso é sinônimo de um comércio mundial mais retraído, do qual ninguém escapa, nem o Brasil. 

E não me venham falar na salvação das economias emergentes, mesmo porque elas também estão sendo duplamente atingidas, pela redução do crescimento do comércio mundial e pela invasão dos produtos americanos, não só em seus países mas no mercado mundial. 

PRIMEIROS RESULTADOS

No caso do Brasil, mesmo com o aumento das exportações dos EUA, ainda se manteve em 2007 um saldo de US$ 700 milhões. Mas este ano já está havendo mais pressão dos produtos americanos, que só não invadem mais porque não podem competir com os preços irrisórios da China. No caso dos principais parceiros comerciais - nós representamos quase nada -, isso é mais nítido. O Departamento do Comércio informou na sexta-feira que o déficit comercial com a China diminiu de US$ 23,9 bilhões, em novembro, para US$ 18,7 bilhões, em dezembro. A mesma tendência se confirma com o Japão. Mais importante é o comércio com a zona do euro, com a qual o déficit recuou de US$ 8,3 bilhões para US$ 6,1 bilhões. 

NÓS TAMBÉM

Seria ilusão esperar que nosso caso é diferente. Eles são mais importadores de produtos industrializados e não de commodities - seus altos preços ainda sustentam o nosso comércio exterior. E no caso dos industralizados, não estamos bem. Eles são mais punidos pela valorização do real. 

A ALTA DE JANEIRO

Alguns leitores têm observado em e-mails à coluna que, ao contrário do que dissemos, as exportações brasileiras, em janeiro, bateram o valor recorde de US$ 13,3 bilhões. Mas, atentem, esse é um resultado sazonal, por causa essencialmente das commodities agrícolas, cujas exportações se concentram nos primeiros meses do ano. A tendência de aumento dessas exportações só se deverá manter por mais alguns meses. Os agricultores e o governo sabem disso, mas prefere-se projetar para todo o ano o resultado passageiro de janeiro e fevereiro.

Sem dúvida, governo e empresários estão conscientes de que poderemos ter um ano mais difícil do que 2007. Europa e Estados Unidos vão se fechar mais e exportar mais e os chineses continuarão disputando o nosso mercado aqui e no exterior.

CORREÇÃO IMPORTANTE

Na última coluna, "EUA consomem e adiam recessão", há um erro, muito grave para mim. No intertítulo "Emprego também", disse que os EUA criaram 4,6 milhões de empregos em dezembro. Evidentemente, estava errado. O correto é que "no ano todo de 2007" foram criados, em média, 95 mil empregos por mês, ou seja 1,14 milhão por ano. Errei e peço desculpas. 


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