Entrevista:O Estado inteligente

domingo, novembro 05, 2006

ELIANE CANTANHÊDE Dois pra lá, dois pra cá

BRASÍLIA - O governo Lula está negociando com os controladores de vôo, civis e militares, com o mesmo princípio que negocia com o governo Evo Morales na Bolívia: dando uma de bonzinho.
A área civil, à frente os ministros da Defesa, Waldir Pires, e do Trabalho, Luiz Marinho, argumenta que os sargentos controladores de vôo são gente como a gente, com direito a "sonhos" e "aspirações".
Já a área militar, à frente o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Luiz Carlos Bueno, diz que sargentos de qualquer lugar do mundo obedecem a dois princípios inalienáveis: disciplina e hierarquia. E não têm alguns direitos civis, como integrar associações, participar de movimentos de pressão e muito menos fazer greve.
Está criada a cizânia. E, apesar de o clima ter azedado bastante, comprometendo o sabor de vitória da primeira semana da reeleição de Lula, Pires anuncia como decisão tomada a criação de um órgão civil responsável pelo tráfego aéreo, com uma carreira também civil para todos os controladores (hoje são 2.112 militares e 571 civis).
Na Bolívia, o Brasil evitou a expulsão da Petrobras topando um acordo sem saber exatamente quais as implicações de preços, de autonomia, de comando de suas próprias refinarias. Aqui, o governo topou "desmilitarizar" o controle de tráfego aéreo sem saber exatamente quem, como, onde -e os custos.
O que a Aeronáutica teme é que, se a pressão de seus sargentos surtir efeito, a moda pegue. E que venham por aí movimentos reivindicatórios em cadeia dos demais profissionais do setor e, por fim, nas três Forças.
Os comandos do Exército e da Marinha poderiam ser chamados a condenar publicamente a "leniência". Já imaginou? O segundo mandato começa atribulado. E justamente em duas áreas que ninguém jamais poderia imaginar -muito menos desejar: nos aeroportos e nas casernas.

elianec@uol.com.br

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