Lá é verdade que a bisbilhotice da oposição, adubada pelas queixas dos concorrentes que se consideram prejudicados, levanta dúvidas sobre a lisura da operação, encharcada pelos esguichos do favorecimento. Mas o contrato foi assinado e consumado com todas as formalidades, o que não cala o murmúrio das suspeitas.
A Gamecorp S/A foi criada em 1º de fevereiro de 2004, com o capital de R$ 5,21 milhões do aporte da Telemar, para explorar serviços de publicidade e a produção de filmes e fitas de vídeo, além de funcionar como agência de notícias, publicidade e propaganda. Além de Fábio Luís Lula da Silva, conselheiro administrativo - sócio do grupo desde quatro meses antes da assinatura do contrato - compõe a sociedade Leonardo Badra Eid, diretor presidente e Fernando Bittar, diretor-financeiro.
O seu berço acolhe mais três filhotes, que receberam os nomes de batismo de G4 Entretenimento e Tecnologia Digital Ltda, BR4 Participações Ltda. e Espaço Digital Serviços Ltda., com atividades correlatas.
A grande tacada da negociação com a Telemar contou com ajuda de pistolão graduado, o sócio da BDO Trevisan, Antonino Marino Trevisan, amigo de Lula e membro do Conselho de Ética da Presidência da República. Portanto, gente de alto nível, com trânsito livre pelos espaços do poder.
Nas aléias sombreadas em que tais combinações abrem passagem, pedras soltas e poças de chuva provocam tropeços e escorregões dos desatentos. A Telemar atua no mercado, mas o seu capital é vitaminado com dinheiro público. Um dos seus principais acionistas, com 25% do capital, é o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico (BNDES). Fundos de pensão detêm 20% do capital da holding, como a Petros, dos servidores da Petrobrás e a Previ dos funcionários do Banco do Brasil.
Tais detalhes catados por ranzinzas que botam a boca no mundo não impedem o sólido e apadrinhado acerto, mas criam polêmica, azedam o humor oficial, salgam o pirão que acompanha a peixada.
Explicações, justificativas e esclarecimentos não faltam. À Comissão de Valores Imobiliários, a Telemar enviou ofício em que, entre outras escusas, ensina que o aporte de R$ 5 milhões a Gamecorp ''é irrelevante''. Como o dinheiro sobra nas facilidades oficiais...
Estamos em cima da linha fronteiriça que separa a frouxidão do que é legal da severidade do rigor ético, em desuso.
Apoquentado com o pipocar de denúncias de pilhagens nos cofres da Viúva, o presidente Lula afinal caiu em si e busca abrir desvios para sair do canto em que se sente encurralado. Tateia, não encontrou o caminho. A tantas vezes adiada reforma ministerial murchou para a troca de meia dúzia de ministros e a desqualificação de secretarias que jamais se justificaram.
Antes da viagem de sonho à França com numerosos convidados, a foto da reunião ministerial no amplo salão palaciano expõe o constrangedor quadro de mais de 30 ministros e secretários espremidos, com os cotovelos encolhidos, na imensa mesa. É a prova documentada do monstrengo, obeso e inerte, atolado nas banhas que o paralisam.
Lula molhou os olhos e, com voz embargada, queixou-se da imprensa e de parlamentares que exageram nas críticas ao governo. Na toada, defendeu o filho na linha de tiro e saiu da reta: ''Eu não me meto com que o meu filho faz. Fábio tem quase 30 anos. Tenho absoluta confiança que ele jamais me colocará numa fria.'' Com um piparote matou a questão.
São maneiras de ver as coisas. Diferente do clássico exemplo de Agamenon Magalhães: governador de Pernambuco, um áulico propôs-lhe comprar a casa modesta, herança de família e desocupada, oferecendo o dobro do valor do mercado.
Resposta ríspida, Agamenon encerrou a conversa: ''governador não compra nem vende nada.''
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