O senador Eduardo Azeredo, ex-governador de Minas Gerais e atual presidente do PSDB, nega todo e qualquer envolvimento com o repasse de recursos de empresas de Marcos Valério Fernandes de Souza para campanhas tucanas no Estado, em 1998. Naquele ano, Azeredo disputou pela segunda vez o governo mineiro, mas foi derrotado por Itamar Franco. De seu lado, o deputado e ex-ministro da Casa Civil José Dirceu nega terminantemente que tratou de empréstimos dos Bancos Rural e BMG ao PT, intermediados por Marcos Valério, nas reuniões que reconheceu ter mantido com diretores dos dois estabelecimentos. Conceda-se a ambos o benefício da dúvida, apesar dos indícios em contrário. Mas o essencial é que as duas situações têm menos pontos em comum do que aspectos discrepantes – e estes configuram ilícitos diferentes, cometidos com intenções também diferentes. O caso do senador entrou em cena com a revelação do jornal O Globo de terça-feira, segundo a qual a agência de propaganda DNA, de Marcos Valério, tomou do Banco Rural, em 1998, um empréstimo de R$ 11,7 milhões (na realidade foram R$ 9 milhões), dando como garantia contratos de publicidade com setores da administração Azeredo – o que o empresário voltaria a fazer, nos empréstimos que destinaria ao PT, recorrendo a contratos firmados com os Correios, na administração Lula. No mesmo ano, segundo o jornal, outra agência dele, a SMPB, repassou R$ 1,6 milhão a 70 candidatos dos partidos da coligação de Azeredo (outras fontes falam em R$ 1,9 milhão e 80 candidatos). A operação mineira é da espécie "transferência de recursos não contabilizados" ou "apoio não-oficial", os eufemismos em voga para o caixa 2 eleitoral – embora decerto tenha servido também para lavar dinheiro. Já a participação do agora ex-ministro nos negócios de Valério com o PT veio à tona no depoimento deste ao procurador-geral da República. Ele contou que, tendo indagado do então tesoureiro petista Delúbio Soares como poderia ter certeza de que o partido lhe devolveria a bolada pedida por Delúbio, ouviu dele a tranqüilizadora resposta de que Dirceu não só estava a par da tratativa, como a tinha aprovado. Anteontem, na CPI dos Correios, Renilda Santiago, mulher de Valério, relatou – antes que alguém tomasse a iniciativa de perguntar – que o marido a informara de duas reuniões do ministro: "Uma com o Banco Rural, no Hotel Ouro Minas, em Belo Horizonte. Outra em Brasília, com a direção do BMG, para acertar o pagamento das contas que os bancos queriam receber." Não houve quem não registrasse o contraste entre a informação espontânea e precisa e o tom geral do depoimento da dona de casa que fez praça de nada saber da vida profissional do marido. Mais sintomática, no entanto, foi a reação de Dirceu. Inicialmente, mandou dizer que não se lembrava dos encontros; afinal "foram muitas reuniões" as que manteve como ministro. Depois, confirmou a informação de Renilda, desmentindo, porém, que tivesse tratado com os banqueiros dos empréstimos ao PT. Tornando a posição do ex-homem forte do partido ainda mais vulnerável, O Globo publicou ontem que duas vezes ele recebeu em seu gabinete no Planalto os dirigentes dos mesmos bancos – e que o encontro com o presidente do BMG se deu três dias depois de o banco ter emprestado R$ 2,4 milhões ao PT. Ao mesmo tempo, divulgou-se que, pelo que já se viu dos documentos em poder da CPI, os saques suspeitos nas contas das firmas de Valério, nos últimos dois anos, passaram de R$ 76 milhões – cerca de 40 vezes mais do que as suas "doações não-oficiais" aos tucanos mineiros. A ordem de grandeza, pelo que traduz com clareza solar, é o divisor de águas. O dinheiro destinado ao caixa 2 do PSDB, que o seu presidente não reconhece, é a modalidade de crime eleitoral que o presidente Lula disse espertamente em Paris ser prática usual na política brasileira. O dinheiro destinado ao caixa 2 do PT também servia para eleger os seus – porém servia muitíssimo mais para comprar o ingresso de deputados nos partidos da base governista e a sua docilidade nas votações de interesse do Planalto. Em suma, para sustentar o mensalão, qualquer que tenha sido a periodicidade desse suborno instituído com o intento de manter o PT no poder por tempo ilimitado. Só falta comprovar o que ninguém duvida: que o dinheiro para perpetuar o controle petista sobre o Estado nacional saiu do próprio Estado.
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quinta-feira, julho 28, 2005
Editorial de O Estado de S Paulo Do caixa 2 ao mensalão
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