Entrevista:O Estado inteligente

domingo, julho 31, 2005

Do foguetório ao velório Por Reinaldo Azevedo

Primeira Leitura

Escrevi na edição anterior que Márcio Thomaz Bastos é um péssimo ministro da Justiça, mas um grande criminalista, daí que seja perfeito para estar no governo e ser o braço direito de Lula. Este governo precisa, obviamente, mais de criminalistas do que de ministros competentes. A estratégia que ele desenhou para atravessar o pântano parecia perfeita. Mas aqui também já se disse: nem tudo o que é, como vou dizer?, criminalisticamente perfeito obedece à realidade política. A opção começa a fazer água. Estratégias criminais precisam de criminosos e de bodes expiatórios. Nem todo mundo aceita o papel. Nem todo criminoso aceita o sacrifício de ser bode expiatório.

Mas há mais: a operação montada no Palácio do Planalto, que tentou arrastar para o pântano o PSDB, supunha que os demais atores políticos compactuassem do jogo, aí incluída a imprensa. Parte dela, é verdade, passou a dar mais atenção a Eduardo Azeredo, presidente do PSDB, do que ao núcleo do escândalo, que é a gigantesca máquina de corrupção montada pelo PT para desviar dinheiro público. Depois de dois meses sob intenso bombardeio, o petismo ameaçava descansar e sorrir um pouco, voltando a seu papel predileto: atacar a reputação alheia.

Não que esquemas irregulares de financiamento de campanha não devam ser investigados. Devem. E com determinação. Pegue quem pegar. O problema é sério e merece uma resposta dos entes políticos. Mas o encaminhamento dessa respota e mesmo a punição dos envolvidos não devem servir de panacéia, tampouco de biombo para esconder crimes maiores. Era tal a excitação do governo, que alguns de seus bate-paus já ameaçavam articular uma enorme pizza. E, pior, plantavam na mídia que o PSDB estava receptivo porque interessado em salvar Eduardo Azeredo. Que aceitou falar espontaneamente à Comissão Parlamentar de Inquérito. O PT montava a operação-massacre.

A alegria dos petistas durou pouco. A edição da Veja desta semana joga um balde de água fria no calor do entusiasmo. A sempre estridente senadora Ideli Salvatti (PT-SC), que ainda não conseguiu fazer uma miserável pergunta na CPI para saber se houve ou não mensalão — está interessada unicamente em salvar o PT, o que é compreesivel; o diabo é que ela é muito inábil — já falava em quebrar o sigilo de Marcos Valério desde 1995. Os petistas, para apressar a operação pizza, queriam transformar o PSDB no alvo da investigação.

Foram bem sucedidos no texto de alguns colunistas, mas se esqueceram de que uma boa parte da imprensa se move pautada pelo interesse público, por mais que isso doa na moral "revolucionária" dos antigos monopolistas da ética. As duas principais reportagens de Veja são muito graves. Talvez as mais graves que vieram a público até agora.

Um documento do Rural autoriza um auxiliar de José Dirceu, então chefe da Casa Civil, a sacar R$ 50 mil. Ele teria mesmo, segundo alguns, sugerido que o documento fosse eliminado do conjunto a ser investigado. Sentindo-se abandonado pelo governo e pela tal estratégia criminal de Bastos, teria comentado com amigos que Delúbio Soares falava mesmo era com Lula, não com ele. Delúbio, por sua vez, teve contato com a máfia dos vampiros e com a máfia do lixo, braço do escândalo que tanto a chega à administração Marta Suplicy como a Antonio Palocci, neste caso por meio de Rogério Buratti.

Reparem: não adianta Bastos ter desenhado a estratégia criminal, ter inventado a história verossímil, quando os fatos insistem em desmoralizá-la. O PT parece não ter percebido que há uma sociedade civil no país que até comprou, de boa fé, os pedaços de céu que o partido anunciava em suas perorações ideológicas de antigamente, mas não aceita o esbulho do Estado e o assalto aos cofres públicos.

Presidente Lula, malogrou a operação! Às falcatruas todas que seus partidários haviam cometido, vocês — inclusive Vossa Escelência — se encarregaram de acrescentar o crime eleitoral. Um crime a mais. A sociedade não riu da piada de que todo mundo é igual e de que até a roubalheira, que o PT pôs em prática por puro autodidatismo, é também parte da herança maldita. Era para o PT começar a semana com foguetório. Tem razões para vestir luto.

PS: Meus amigos sabem que cantei a bola de que Lula poderia ir de Ciro Gomes faz algum tempo. Eis aí. Quem há de negar que eles se merecem? Agum risco? Há, sim. Mas ninguém é tão bom para dar conta de Ciro Gomes como Ciro Gomes...  

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