jb
O PSDB vinha encarnando no novelão dos corruptos o papel do mocinho durão, mas pronto para ajustar o fio da suspeita às conveniências político-eleitorais. Não convinha ao partido, por exemplo, atirar o presidente Lula da Silva ao pântano onde nadam de braçada - em meio a alevinos adquiridos nos criadouros mais fétidos do PP, do PTB e do PL - os delúbios, silvinhos, serenos e valérios treinados pelo instrutor José Dirceu.
Para o PSDB, o escândalo está de bom tamanho: o cardume de peixes graúdos é suficientemente impressionante para dispensar a incorporação da grande baleia. Melhor arrastar o presidente até a campanha de 2006, que exibiria um candidato à reeleição com sapatos salpicados de lama.
O summer trajado pelos tucanos foi para a lavanderia nesta semana, depois da descoberta de um cano subterrâneo que, em 1998, abasteceu o pântano com esgoto procedente de Minas Gerais. Esse duto malcheiroso foi construído na gestão do governador Eduardo Azeredo, candidato à reeleição, e financiado pelo onipresente Marcos Valério.
A agência de publicidade DNA, uma das empresas do Carequinha de Minas, conseguiu um empréstimo de R$ 11,7 milhões no (é claro) Banco Rural. Ofereceu como garantia contratos de publicidade com secretarias estaduais. Repassada ao QG da coligação liderada por Azeredo, a dinheirama irrigou tanto a campanha do governador quanto a de 70 candidatos à Câmara dos Deputados.
A eleição em Minas, portanto, foi tisnada pela sujeira do "caixa dois" (ou "dinheiro não-contabilizado", como ensina Delúbio Soares, professor de matemática e maracutaia.) Derrotado em 1998, Azeredo tornou-se senador em 2003 e também presidente do PSDB. Com o lodo pelas canelas, subiu à tribuna para esclarecer o caso. Ao descer, tapinhas nas costas oferecidos por correligionários contrastavam com a alegria dos petistas: caíra no pântano um tucano dos grandes, prova irrefutável de que o PT só fez o que todos fazem. O problema é que Lula foi eleito para mudar o país, começando por liqüidar essas práticas abjetas.
Com voz embargada, Azeredo produziu um discurso pífio. "Sempre segui os valores que meus pais me ensinaram", informou. (Lula vem dizendo coisa parecida de hora em hora). "Não assinei nenhum papel comprometedor", argumentou. (Pelo menos por enquanto, também não apareceram documentos enfeitados com a assinatura de José Dirceu). "Os autores das acusações querem me dar o abraço do afogado", indignou-se. (Esse tipo de abraço só alcança quem está perto demais de quem afunda).
Cumpre aos homens honestos do PSDB apurar a história com rigor e rapidez - e aplicar a Azeredo, se comprovada a culpa, o castigo merecido. Não precisam ser tão velozes quanto os dirigentes do PFL no caso do bispo-deputado João Batista Ramos, expulso ao fim de um processo mais sumário que julgamento em Cuba. Tampouco devem tratar Azeredo com a complacência reservada pelo mesmo PFL ao deputado Roberto Brant, outro beneficiário da generosidade de Valério. Os afagos da cúpula partidária excitaram Brant.
"Atire a primeira pedra quem nunca recebeu dinheiro não-contabilizado", desafiou. Ele sabia que não estava exposto a versões brasileiras da intifada palestina. Aqui, os pecadores não reagem por motivos óbvios. Inocentes simulam surdez para não piorar o clima no Legislativo conflagrado. Uns e outros serão devidamente punidos nas urnas de 2006.
Ninguém escapará aos desdobramentos da devassa promovida pelas CPIs, pelo Ministério Público, pela polícia e pela imprensa. Ninguém. Seja qual for o partido a que pertença. Seja qual for o cargo que ocupe.
Entrevista:O Estado inteligente
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