Entrevista:O Estado inteligente

sábado, julho 30, 2005

veja Novas suspeitas sobre Delúbio Soares

O PT de caso com a máfia

Delúbio Soares mantinha estreitas
ligações com integrantes de quadrilhas
que desviavam dinheiro público


Fábio Portela

Dida Sampaio/AE
DRÁCULA DO PT
O ex-tesoureiro Delúbio Soares: pelo jeito, valia tudo para arrecadar dinheiro


Já se sabia que o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares havia montado um caixa dois para o seu partido com contribuições ilegais e empréstimos bancários fajutos. Na semana passada, VEJA descobriu que o polivalente esquema de Delúbio arrecadou dinheiro também entre bandidos. Sim, bandidos. O ex-tesoureiro do PT pode ter recebido dinheiro desviado do Orçamento da União pela máfia dos vampiros, aquela que sugou 2 bilhões de reais dos recursos reservados pelo Ministério da Saúde para a compra de produtos derivados do sangue. Seu contato com os vampiros era feito pelo lobista Laerte Correa Junior, um dos integrantes da máfia, que foi preso pela Polícia Federal. Escutas telefônicas autorizadas pela Justiça revelaram que Delúbio mantinha relações com integrantes de mais uma quadrilha, a máfia do lixo. Ela era composta de empreiteiras que faziam conchavos para fraudar licitações municipais para a coleta e o tratamento de lixo.

A ligação da máfia do lixo com Delúbio se fazia por intermédio de Rogério Buratti, um antigo quadro petista. Buratti foi assessor do ex-ministro José Dirceu e do ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha, ambos envolvidos nas denúncias do mensalão. Sua relação mais estreita, no entanto, era com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Buratti foi o secretário de Governo de Ribeirão Preto em 1993, quando Palocci era prefeito. Acabou demitido depois que foi flagrado pedindo propina para um empreiteiro. Fora do governo, foi contratado para presidir a empreiteira Leão Leão, que passou a atuar na coleta e no tratamento de lixo em diversas cidades no estado de São Paulo. De lá, Buratti passou a comandar a distribuição de obras entre as empreiteiras. As investigações conduzidas pelo promotor Sebastião Sérgio da Silveira envolvem também outros três diretores da Leão Leão. São Fernando Fischer, Wilney Barquete, Marcelo Franzine e Luiz Cláudio Leão, o dono da empresa.

 

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Fabiano Accorsi
O TESOUREIRO E OS VAMPIROS
O lobista Laerte Correa Junior, um dos integrantes da máfia dos vampiros, arrecadou 1,5 milhão de reais com empresas farmacêuticas para a campanha de Lula. Depois disso, virou amigão de Delúbio e nas eleições de 2004 pagou fornecedores do PT a pedido do ex-tesoureiro

Nos grampos telefônicos, a turma ensina como eram divididas as licitações do lixo no estado de São Paulo e mostra relação próxima com estrelas do petismo. Numa das gravações, um dos diretores da Leão Leão conta que recebeu um telefonema da secretária do ex-tesoureiro Delúbio para marcar um encontro do petista com a diretoria da empreiteira. As investigações foram ampliadas depois de alguns meses de escuta. Descobriu-se, então, que os mesmos diretores telefonaram para funcionários do governo federal. Num dos telefonemas, Wilney Barquete conta que havia pedido ajuda do então deputado Paulo Bernardo, hoje ministro do Planejamento, para resolver umas tais "pendências" em Brasília. Procurado pela reportagem, o ministro negou ter dado qualquer tipo de ajuda à empreiteira, mas admitiu ter relações com Buratti. O empresário Buratti também tinha contatos freqüentes com Valdemir Garreta, o homem forte da ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy. Muito material ainda se encontra sob sigilo. Em especial, provas de que a quadrilha se encontrava periodicamente com Delúbio. A suspeita mais forte é a de que a máfia do lixo obtinha favores do governo e repassava ao ex-tesoureiro do PT uma comissão. "Apenas começamos a desenrolar o novelo das ligações do esquema do ex-tesoureiro Delúbio com as empreiteiras", explica o promotor Sebastião Sérgio da Silveira, que cuida do caso.

 

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Marlene Bergamo/Folha Imagem
LIGAÇÕES DA TURMA DO LIXO
A gravação das conversas telefônicas da máfia do lixo revela que a quadrilha tinha entre seus interlocutores, além de Delúbio, o então deputado Paulo Bernardo, atual ministro do Planejamento

Na semana passada, o delegado Benedito Antônio Valencise, que lidera as investigações sobre a máfia do lixo, avisou os promotores públicos envolvidos na investigação que já tem elementos suficientes para convocar todos os envolvidos para depor. Quase todos os depoentes devem ser indiciados por formação de quadrilha, fraude em licitação, lavagem de dinheiro e sonegação fiscal. O delegado também informou ao Ministério Público que já há elementos para estender as investigações a respeito da atuação da Leão Leão ao Distrito Federal, aos municípios de Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo. Ao ampliar as investigações, o Ministério Público paulista deverá deparar com uma investigação já em curso na esfera federal. O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) incluiu Buratti entre as pessoas que têm movimentação financeira incompatível com seus rendimentos declarados. Ele tem renda declarada de 10.000 reais, mas movimentou mais de 1,5 milhão de reais em suas contas bancárias entre 2003 e 2004.

O ex-tesoureiro Delúbio também se aproximou da máfia dos vampiros, o grupo que dominava as vendas de derivados do sangue para o Ministério da Saúde. As relações começaram durante a campanha de 2002 de Luiz Inácio Lula da Silva para o Palácio do Planalto. O primeiro contato de Delúbio com essa máfia foi o lobista Laerte Correa Junior. A pedido do ex-tesoureiro, o lobista montou uma operação de guerra junto aos laboratórios farmacêuticos para conseguir doações para o PT. Levantou 1,5 milhão de reais. A dinheirama garantiu-lhe um interlocutor privilegiado no governo. Depois da posse de Lula, Laerte e Delúbio continuaram a se encontrar. O que eles conversavam? "Assuntos relativos ao relacionamento entre a indústria farmacêutica e o governo", disse Laerte em depoimento à Justiça Federal. Não era só isso. Na campanha municipal do ano passado, Delúbio voltou a pedir socorro a Laerte. Disse-lhe que estava com dificuldade para arranjar dinheiro para as campanhas petistas. Pediu ao lobista que pagasse a alguns fornecedores e prestadores de serviços contratados pelo PT. O favor de Laerte seria recompensado no futuro. O lobista topou.

 

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A MÁFIA DO LIXO NO PARAÍSO
Fernando Fischer, Wilney Barquete e Rogério Buratti festejam os bons negócios. Grupo será indiciado nos próximos dias, juntamente com o patrão, Luiz Cláudio Leão
Na época em que fazia os pagamentos a pedido de Delúbio, Laerte estava sendo investigado pela Polícia Federal na Operação Vampiro. Por pouco não foi flagrado executando um favor ao ex-tesoureiro do PT. A polícia o prendeu em maio do ano passado em São Paulo, horas antes de um encontro que teria para pagar um dos fornecedores da campanha do petista José Machado, então candidato à prefeitura de Piracicaba. Laerte foi liberado, porque enfrenta sérios problemas de saúde. Conseguiu uma autorização para tratar-se nos Estados Unidos. Machado perdeu a eleição, mas foi agraciado com o cargo de superintendente da Agência Nacional de Águas.

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