Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, julho 27, 2005

Zuenir Ventura Apenas um não

O Globo


Adescoberta pelo GLOBO de que o PT não foi o primeiro, ou seja, de que já em 1998 o publicitário Marcos Valério usara com o PSDB de Minas um esquema parecido com o de agora, mostra o que mais ou menos se sabia sobre a natureza sistêmica da corrupção na política brasileira, que é "democrática", não discriminando partidos nem ideologia, até porque faz parte de um negócio financeiro. Por um lado, isso é importante porque chama a atenção para a necessidade de não apenas se extirpar os corruptos de ocasião, mas de se criar mecanismos duradouros que possam combater uma prática que se enraizou como norma e como cultura no país.


Por outro lado, a revelação não pode servir para absolver ou diminuir a culpa e a responsabilidade do PT, muito menos para desviar o foco da CPI. Antes que se queira recorrer ao personagem de Chico Anysio — "eu sou, mas quem não é?" — e alegar que "é tudo a mesma coisa", seria bom lembrar que o PT é diferente, como sempre foi, só que agora ao contrário. Ninguém lhe tira o título de campeão da categoria "desvio de dinheiro público", na qual se mostrou imbatível.

Em matéria de tomada de assalto (em todos os sentidos) do Estado, nada se compara à sua ação em rapidez e ganância. Em 25 anos de história, o Partido dos Trabalhadores deu sempre a impressão de que inventara a ética, e muitos militantes e figuras históricas, por sua honradez e seriedade, mais do que confirmavam isso. Em dois anos de governo, jogou-a no lixo. O PT no poder fez pela direita o que a própria direita não foi capaz de fazer. E produziu na esquerda mais estragos do que a repressão. Por isso é que quando se fala em "refundação", surge logo a pergunta: refundar a partir de quê, do que foi jogado fora?

Nesses últimos dias, Lula esboçou como reação algumas idas às suas bases populares, levando um discurso velho, demagógico e populista, de luta de classes e de ressentimento. "A elite não vai me fazer baixar a cabeça", disse, como se isso já não tivesse sido feito por companheiros de partido e de governo que o envergonharam. "É melhor dizer besteira do que fazer", e a gente torce para que ele de fato não tenha feito nenhuma. Lula andou falando de ética e de corrupção, mas de maneira indireta e distante, quando seus 52 milhões de eleitores esperam dele apenas uma palavra, um ansiado não: "não tive nada a ver". O problema é que a cada dia que passa isso se apresenta mais como desejo do que como esperança.

Nenhum comentário:

Arquivo do blog