o globo
Pode ter sido rompido o precário equilíbrio que vinha mantendo o presidente Lula afastado do centro da crise política, com o consentimento da oposição. Uma série de fatos conjugados fez com que a oposição subisse de tom ontem nas críticas ao governo, especialmente com relação ao presidente Lula. A atuação dos governistas nas investigações está na raiz dessa mudança de patamar.
A oposição acha que o governo finge que quer apurar e está, na prática, emperrando as investigações. Não quiseram unificar as CPIs, e se unem para convocar pessoas desimportantes, adiando a convocação do ex-presidente do PT José Genoino e do ex-ministro José Dirceu.
Por incrível que pareça, a operação da Polícia Federal na Daslu foi um dos fatos que desencadearam essa reação, muito pelo exagero dos procedimentos, mas principalmente por um efeito intangível que tocou fundo todos os empresários, especialmente os paulistas.
Há a sensação de que o governo petista, querendo granjear a simpatia da população, fez a operação espalhafatosa na Daslu para marcar uma posição do governo popular contra a elite esbanjadora. Não passou desapercebida à paranóia empresarial o que seria a intenção da Polícia Federal, de ressaltar o caráter elitista da loja.
O filme oficial da operação, divulgado pelas televisões, continha diversos closes nas etiquetas das gravatas e camisas vendidas na loja, para mostrar preços astronômicos, o que não tem nada a ver com a finalidade oficial da ação, que seria combater a sonegação fiscal.
A Fiesp soltou uma nota de protesto com peso muito maior do que a importância da Daslu na indústria do estado. Mas estava lá nas entrelinhas o antigo sentimento de medo com relação ao PT, o mesmo que fez o então presidente da Fiesp Mário Amato ter dito que se Lula vencesse a eleição de 89, 800 mil empresários deixariam o país.
Outro erro de cálculo provocou uma reação irada de um dos mais ferozes líderes da oposição. O deputado Henrique Fontana (PT-RS) sugeriu, na CPI mista dos Correios, que o senador Arthur Virgílio recebera uma doação suspeita da empresa Skymaster, uma das acusadas de contratos ilegais. A empresa realmente fez doação para a campanha do líder tucano, devidamente registrada no TSE.
Foi o que bastou para que Virgílio, que chegou a oferecer um acordo ao governo Lula logo no início da crise política e foi muito criticado no PSDB, virasse bicho no plenário do Senado. Dizendo-se alvo da "mesquinharia" petista, Virgílio partiu para o ataque e, resumindo seu pensamento, disse que Lula "é idiota ou corrupto".
A partir daí, vários líderes da oposição, tanto do PSDB quanto do PFL, passaram a carregar nas acusações ao presidente, todos insistindo que ele sabia de tudo o que ocorria em seu governo e terá que pagar pelos erros. O presidente estava sendo poupado de ataques diretos, facilitando sua postura de quem não tem nada a ver com eventuais desvios de conduta no governo.
Mesmo o caso da empresa de jogos eletrônicos de seu filho, que foi financiada pela Telemar em negociação atípica para o tamanho do mercado, conforme demonstram os números oficiais da Associação Brasileira das desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos (Abragames), estava sendo evitado pela oposição, mas ontem foi abordado da tribuna do Senado por um Arthur Virgílio possesso.
A empresa Gamecorp recebeu o aporte de R$ 5 milhões da Telemar quando o mercado inteiro brasileiro teve faturamento de R$ 18 milhões, e a empresa que mais faturou não passou de R$ 1,5 milhão no ano passado. O presidente Lula tem se queixado de que o noticiário sobre a empresa de seu filho seria uma intromissão na vida privada da família, esquecendo-se de que um homem púbico não tem vida privada, como muito bem ressaltou o professor de ética Roberto Romano, da Unicamp.
Mas, como na política brasileira não há espaço para ataques à vida pessoal como há nos Estados Unidos, por exemplo, o assunto está sendo tratado com prudência pela imprensa e pela oposição. No entanto, há aspectos nele que merecem uma análise mais rigorosa, o mais delicado deles a questão ética envolvida. O consultor que tratou do caso foi Antoninho Marmo Trevisan, que é o presidente da Comissão de Ética Pública, e amigo pessoal de Lula.
Os outros sócios da empresa são filhos de Jacó Bittar, fundador do PT, compadre de Lula e representante da Petros — fundo de pensão da Petrobras — na empresa Solpart, controladora da Brasil Telecom, empresa que também queria ser sócia da Gamecorp. A Petros, por sua vez, tem participação na Telemar, embora esteja afastada da gestão da empresa.
Associando-se a esses fatos, e talvez mais relevante para o acirrar dos ânimos, surge a repercussão dos especialistas em pesquisas de opinião sobre a da Sensus, divulgada nos últimos dias, que mostra Lula totalmente blindado das acusações de corrupção em seu governo e em seu partido. Há um sentimento na oposição de que a cautela com que, especialmente o PSDB, vem tratando o presidente tem sido excessiva, podendo resultar em um ganho político para ele nas próximas eleições.
Há algum tempo, dizia-se que o segredo para derrotar Lula em 2006 seria conseguir colar sua imagem à do seu governo, que é muito mais negativa. Hoje, a tentativa passa a ser ligar Lula ao que acontecia em seu governo por baixo dos panos. A oposição, especialmente o PFL, trabalha com a tese de que sem Lula não há PT, e sendo assim, essa crise vai ser resolvida em torno da proximidade de Lula com os fatos. Este será o jogo governo-oposição daqui para a frente.
Entrevista:O Estado inteligente
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