Não bastassem as razões do presidente Lula da Silva para estar tenso e sentir-se acuado – e nem seria preciso enumerá-las –, o desnecessário imbróglio em que se tornou a sucessão administrativa da Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero), em razão da substituição de seu presidente Carlos Wilson, que pretende candidatar-se a deputado federal pelo PT, poderá acrescentar-lhe novas atribulações. De fato, mostrando mais uma vez sua dificuldade para distinguir a ética do companheirismo da ética do governante, a Lula não ocorreu que sua escolha, inevitavelmente, levantará a suspeita de uma "ética do compadrio", ou seja, a prevalência, na escolha de administradores, dos critérios da afinidade pessoal, do companheirismo, da troca de favores entre velhos cupinchas – acima do interesse público. Relembremos os fatos: inicialmente, Carlos Wilson sugeriu ao presidente o nome do ex-petista Airton Soares, com quem o presidente Lula já se reunira e cuja nomeação já parecia favas contadas. Mas, de repente, o presidente trocou Soares pelo funcionário de carreira Tércio Ivan de Barros. Essa indicação durara apenas três horas quando a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, objetou firmemente contra a escolha, observando ao presidente que Tércio está sendo investigado pela Polícia Federal, por suspeita de irregularidades praticadas quando era superintendente regional da Infraero em São Paulo, em 2002. O inquérito partiu de denúncias da Associação dos Concessionários dos Aeroportos do Estado de São Paulo (Acaesp), encaminhadas ao Ministério Público, apontando uma série de irregularidades em processos licitatórios, além de tratamentos diferenciados a alguns concessionários, em detrimento de outros. Em fins dos anos 90, antes de ser superintendente regional de São Paulo, Tércio Ivan de Barros fora diretor comercial da Infraero. Fontes do setor aéreo afirmam que ele tinha fortes ligações com Celso Cipriani, então presidente da Transbrasil. Teria sido na gestão de Ivan de Barros, no Departamento Comercial da estatal, que Cipriani transformou parte do hangar da Transbrasil, em Congonhas, em uma área da Target, empresa de táxi aéreo do empresário. Observe-se que, por lei, a transferência de área de concessão de uma empresa para outra teria que obedecer a uma licitação. O ex-presidente da Infraero Carlos Wilson (favorável à adoção de medidas legais para devolver à União os espaços em poder da Transbrasil) se opunha a um projeto de Cipriani de montar uma empresa de carga com a OceanAir – que ocuparia os espaços que a Transbrasil mantém por medida cautelar, apesar de não voar desde dezembro de 2001. E aqui está o busilis da questão: esse projeto foi apresentado à Infraero pela advogada Waleska Teixeira, filha de Roberto Teixeira e afilhada de casamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O advogado Roberto Teixeira é o senhorio na casa de quem Luiz Inácio Lula da Silva morou durante 8 anos, sem pagar aluguel – e no sítio de quem passava os fins de semana, também gratuitamente. O mesmo Roberto Teixeira foi o acusado, em 1995, de comandar um amplo esquema junto a prefeituras do PT para captar recursos (de caixa 2) destinados a financiamento eleitoral do partido. E quem denunciou tal esquema – em primeiro lugar ao próprio Lula –, o ex-guerrilheiro e petista-fundador Paulo de Tarso Venceslau, foi demitido pela então prefeita de São José dos Campos (Ângela Guadagnin, hoje fervorosa defensora do governo na CPI dos Correios) e julgado pelo Conselho de Ética petista acabou sendo expulso do Partido dos Trabalhadores – que encerrou, sumariamente, sua carreira política. Apesar de tudo isso, o presidente Lula "recuou do recuo" e manteve a nomeação de Tércio Ivan de Barros para a presidência da Infraero. É claro que, como no caso de São José dos Campos, choverão os desmentidos de que tenha havido qualquer interferência do fator compadrio na decisão do presidente sobre a direção de uma empresa que tem um orçamento anual de R$ 2 bilhões... Mas não é preciso estar conspirando para a queda de Lula para não acreditar neles.
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domingo, julho 31, 2005
Editorial de O Estado de S Paulo Ética do compadrio
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