O GLOBO
(29/07/05)
A liderança do PFL na Câmara de Deputados criou grupo de assessoria, da qual faço parte na condição de pesquisador, para acompanhar, fora do calor dos embates, a crise política que atravessamos. O grupo tem convidados eventuais. Permanentemente, é formado por dois policiais - um civil e um federal - especializados em investigação, um ex-militar especializado em inteligência, um politólogo, uma psicóloga, um jornalista veterano, além do deputado e de mim. Há dias, o grupo avançou a primeira conclusão preliminar, que mudaria completamente o rumo das investigações e do noticiário. O PT, enquanto partido, nada tem a ver com a república do mensalão. Mas o Gabinete do Presidente, o GP, sim. A análise dos depoimentos na TV, inclusive expressões faciais e labiais, as linhas e entrelinhas do noticiário e as informações de bastidores, foram construindo esta convicção.
No último fim de semana, as matérias de uma revista e de um jornal fecharam esta hipótese e a transformaram em tese. Uma diz, em relação ao ministro Thomaz Bastos, o seguinte: "...ponderou sobre os perigos de a crise chegar ao governo e sutilmente falou sobre o crime eleitoral, que tinha a tremenda vantagem de circunscrever o problema ao Congresso e ao PT, deixando o governo de fora". Em outra, na qual Dirceu afirma que o PT precisa defender o governo, pode-se ler: "Dirceu alegou que o que está em jogo é o governo federal." E mais: "Dirceu afirmou que, no caso do governo federal, não há qualquer comprovação de contratos fechados de forma irregular, portanto não haveria motivos para se falar em impeachment de Lula." O raciocínio dos especialistas é que este esquema não poderia passar por um coletivo de mais de três ou quatro pessoas, pois vazaria certamente. E que elas deveriam ser da intimidade pessoal do presidente e não ter apenas ligações políticas com ele. E mais: que um processo continuado como este exigiria que a operação fosse centralizada em uma só pessoa, esta da maior confiança, para ter acesso sem agenda ao presidente e aos palácios, de modo a falar sem o uso de telefone.
O método decisório do PT impede que uma ação continuada como esta seja realizada sem o envolvimento de um grupo muito maior da direção partidária. Os recursos envolvidos exigem necessariamente que órgãos e empresas do governo sejam mobilizados. O nome do PT, como avalista, não seria crível para um empresário. O do gabinete do presidente, sim. As declarações públicas de Delúbio, Valério e do presidente, empurrando tudo liminarmente para o PT e para os partidos, daria cobertura de opinião ao esquema, pelo desgaste sistemático dos políticos. A reforma ministerial é, na verdade, a formação de uma bancada de 180 deputados (mais de um terço do total), para evitar o impedimento. Os discursos públicos e televisados do presidente cabem perfeitamente no perfil e nos argumentos dos culpados, numa primeira fase dos processos de investigação. Ou seja, a alegação de honestidade e de origem, a vitimização (querem acabar comigo...), e a transferência de responsabilidades são tipificáveis para os que investigam.
As tentativas de circunscrever as responsabilidades presidenciais nos atos formais do governo (ver Dirceu acima) são alegação pueril, pois o presidente, assim como governadores e prefeitos, não é ordenador de despesa. A assunção de responsabilidade por um e apenas um dos integrantes de um grupo investigado é um caminho indicado por advogados e usado extensamente nas máfias, em que um paga por todos e tem a garantia de proteção da família, advogados e prisão curta. Foram feitos testes a partir dos depoimentos citados, substituindo a sigla PT pela GP, que se encaixou perfeitamente. Por exemplo, no caso Delúbio: "Assumo inteiramente a responsabilidade. Ninguém do PT (GP) sabia." Quando Delúbio diz "ninguém do PT", na verdade é um inteligente recurso de advogados para incriminar o partido. "Ninguém do PT" quer dizer PT que ele estaria supostamente representando, criminalizando com isso o partido.
Além do mais, não se terá como comprovar pelo fato de o PT e sua direção - enquanto tal - nada terem a ver com isso. A tese é que as decisões sobre a distribuição de recursos eram tomadas no GP, por um grupo de três ou quatro pessoas, e que a operação era realizada pelo Delúbio. E que as garantias estão no próprio GP. Entregar recursos a deputados e diretórios do PT produzia uma dependência deles ao governo, enquanto entregar aos deputados em geral submetia o Legislativo, mantendo ministros e a aparência de um governo do PT. O objetivo único é conservar o poder num segundo mandato. Para isso, vale tudo. O PT está sendo dilacerado como forma de proteger o mandato do presidente. Em outras palavras, Lula entregou a cabeça do PT na bandeja, para livrar a dele.
No último fim de semana, as matérias de uma revista e de um jornal fecharam esta hipótese e a transformaram em tese. Uma diz, em relação ao ministro Thomaz Bastos, o seguinte: "...ponderou sobre os perigos de a crise chegar ao governo e sutilmente falou sobre o crime eleitoral, que tinha a tremenda vantagem de circunscrever o problema ao Congresso e ao PT, deixando o governo de fora". Em outra, na qual Dirceu afirma que o PT precisa defender o governo, pode-se ler: "Dirceu alegou que o que está em jogo é o governo federal." E mais: "Dirceu afirmou que, no caso do governo federal, não há qualquer comprovação de contratos fechados de forma irregular, portanto não haveria motivos para se falar em impeachment de Lula." O raciocínio dos especialistas é que este esquema não poderia passar por um coletivo de mais de três ou quatro pessoas, pois vazaria certamente. E que elas deveriam ser da intimidade pessoal do presidente e não ter apenas ligações políticas com ele. E mais: que um processo continuado como este exigiria que a operação fosse centralizada em uma só pessoa, esta da maior confiança, para ter acesso sem agenda ao presidente e aos palácios, de modo a falar sem o uso de telefone.
O método decisório do PT impede que uma ação continuada como esta seja realizada sem o envolvimento de um grupo muito maior da direção partidária. Os recursos envolvidos exigem necessariamente que órgãos e empresas do governo sejam mobilizados. O nome do PT, como avalista, não seria crível para um empresário. O do gabinete do presidente, sim. As declarações públicas de Delúbio, Valério e do presidente, empurrando tudo liminarmente para o PT e para os partidos, daria cobertura de opinião ao esquema, pelo desgaste sistemático dos políticos. A reforma ministerial é, na verdade, a formação de uma bancada de 180 deputados (mais de um terço do total), para evitar o impedimento. Os discursos públicos e televisados do presidente cabem perfeitamente no perfil e nos argumentos dos culpados, numa primeira fase dos processos de investigação. Ou seja, a alegação de honestidade e de origem, a vitimização (querem acabar comigo...), e a transferência de responsabilidades são tipificáveis para os que investigam.
As tentativas de circunscrever as responsabilidades presidenciais nos atos formais do governo (ver Dirceu acima) são alegação pueril, pois o presidente, assim como governadores e prefeitos, não é ordenador de despesa. A assunção de responsabilidade por um e apenas um dos integrantes de um grupo investigado é um caminho indicado por advogados e usado extensamente nas máfias, em que um paga por todos e tem a garantia de proteção da família, advogados e prisão curta. Foram feitos testes a partir dos depoimentos citados, substituindo a sigla PT pela GP, que se encaixou perfeitamente. Por exemplo, no caso Delúbio: "Assumo inteiramente a responsabilidade. Ninguém do PT (GP) sabia." Quando Delúbio diz "ninguém do PT", na verdade é um inteligente recurso de advogados para incriminar o partido. "Ninguém do PT" quer dizer PT que ele estaria supostamente representando, criminalizando com isso o partido.
Além do mais, não se terá como comprovar pelo fato de o PT e sua direção - enquanto tal - nada terem a ver com isso. A tese é que as decisões sobre a distribuição de recursos eram tomadas no GP, por um grupo de três ou quatro pessoas, e que a operação era realizada pelo Delúbio. E que as garantias estão no próprio GP. Entregar recursos a deputados e diretórios do PT produzia uma dependência deles ao governo, enquanto entregar aos deputados em geral submetia o Legislativo, mantendo ministros e a aparência de um governo do PT. O objetivo único é conservar o poder num segundo mandato. Para isso, vale tudo. O PT está sendo dilacerado como forma de proteger o mandato do presidente. Em outras palavras, Lula entregou a cabeça do PT na bandeja, para livrar a dele.
CESAR MAIA é prefeito do Rio de Janeiro.
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