Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, julho 29, 2005

Editorial de O Estado de S Paulo 'Novo fiasco diplomático


A diplomacia petista acaba de juntar mais uma derrota à sua florescente coleção, com o fracasso da candidatura brasileira à presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O candidato lançado pelo Brasil, João Sayad, vice-presidente do banco desde o ano passado, conseguiu 11 votos. O concorrente vitorioso, Luiz Alberto Moreno, embaixador da Colômbia em Washington, foi apoiado por 26 sócios, liderados pelos Estados Unidos. Dois países do Mercosul, Paraguai e Uruguai, votaram a favor do colombiano. Mostraram mais uma vez quanto vale na prática a liderança regional fantasiada pelo Planalto.

O novo tropeço comprova a dificuldade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de seus conselheiros diplomáticos para aprender com os erros. O Brasil já havia sofrido um vexame inteiramente evitável e desnecessário ao disputar a direção geral da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Um governo com as pretensões do brasileiro - e com seu peso econômico regional - deveria ter sido capaz de negociar, no episódio da OMC, o lançamento de um candidato único do Mercosul. Incapaz de agir a tempo, deixou surgir e crescer a candidatura do uruguaio Carlos Pérez del Castillo, diplomata malvisto no Itamaraty por sua atuação nas negociações globais de comércio.

Tendo falhado no começo do processo, a diplomacia brasileira voltou a errar, de forma ostensiva, ao lançar um nome próprio para disputar a chefia da OMC. Ficou evidente, desde o início, a falta de apoio tanto na América Latina quanto na África e noutras áreas em desenvolvimento. A candidatura foi mantida, e derrotada.

Nesse caso, como na infeliz aventura do BID, nenhuma responsabilidade pelo fracasso cabe aos candidatos. Tudo é explicável pela teimosia dos estrategistas brasileiros e por seu persistente irrealismo.

A campanha por um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU tem produzido, até agora, resultados igualmente lamentáveis. Países classificados no Planalto como parceiros preferenciais e estratégicos têm rejeitado a pretensão brasileira.

A Argentina se opõe à concessão de um assento permanente a seu principal sócio regional. A China, depois de reconhecida como economia de mercado pelo governo brasileiro, proclamou sua oposição à reforma do Conselho de Segurança defendida pelo Grupo dos 4, formado por Alemanha, Brasil, Índia e Japão, por causa de velhas pendências com o Japão. Nada de notável nesse ponto, salvo a incapacidade dos diplomatas brasileiros de avaliar esse obstáculo.

A ambição de um papel mais importante na ONU marcou a agenda internacional do governo anterior, mas os passos para esse objetivo foram calculados muito mais cuidadosamente. Essa pretensão não envolveu concessões imprudentes, como no caso da China, nem expôs o País a vexames tão graves.

O governo poderia ter evitado o fiasco na eleição do BID e ainda assegurado ao País uma posição confortável na cúpula da instituição.

Respaldado pelo apoio dos Estados Unidos, do México, do Canadá e de vários outros países, o governo colombiano propôs ao brasileiro um acordo. Brasília desistiria da candidatura de João Sayad, apoiaria a de Luiz Moreno e teria garantida para o Brasil uma boa posição administrativa no banco.

A proposta foi rejeitada, segundo fontes de muito boa qualidade, por um erro de cálculo. Brasília dava como certa a vitória de Sayad, apostando em votos do Caribe mobilizados pelo presidente da Venezuela, o companheiro Hugo Chávez. Esses votos não apareceram.

Muitos governos votaram no candidato colombiano, segundo informações confiáveis, não por julgá-lo o mais adequado, mas para atender a uma orientação de Washington. Mesmo no governo americano havia ressalvas ao candidato designado para vencer.

Esses governos votaram por interesses muito diferentes daqueles pressupostos na fantasia terceiro-mundista de Brasília. Enquanto não entendê-los, o governo petista se esforçará em vão para mobilizar os vizinhos em torno de um projeto comum. Mas como entender os interesses dos outros, quando não se percebem os do próprio país?


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