JB
As conversas palacianas nas horas vagas da agenda presidencial registram, nos últimos dias, a recaída no tema recorrente da reeleição, com a firme determinação de Lula de, ultrapassado o período crítico da grave crise que o apoquenta, retomar a campanha com a articulação de alianças e o apoio popular. Compreende-se que a mistura da angústia que sufoca o peito e a decepção com a infidelidade de companheiros, lambuzados com a lama que espirra da CPI dos Correios, busque o desabafo na retomada de sonhos que viraram pesadelos.
Pura perda de tempo que deveria ser utilizado de forma mais útil e competente. A única CPI que funciona a pleno vapor - enquanto as do mensalão e do bingo enroscam-se em miudezas regimentais - apenas começou a examinar, a analisar e buscar as conexões na pilha de documentos que se espalha por várias salas do Congresso e não chegou a 10% do papelório recebido. Não terminaram as buscas de pistas na sinuosa rota da corrupção.
Certo, por enquanto, é que estamos diante do maior escândalo de todos os tempos, que atinge o coração do Executivo e do Legislativo, com sinais de risco para o Judiciário. E que o que se anuncia para os próximos dois meses é muito mais grave do muito que já se sabe.
A tática de Lula para escapar das balas perdidas saindo da reta do tiroteio, completamente equivocada, só o tem levado a contradições e a dizer bobagens, a um passo da mentira que é facilmente desmontada e agrava a sua desconfortável situação.
Teima e se contradiz ao sustentar a desculpa que não sabia de nada do que se urdia nas salas vizinhas do seu gabinete, desde o mais próximo e confiável, do ex-Chefe do Gabinete Civil, deputado José Dirceu, virtual presidente em exercício até cair em desgraça. O lençol curto e transparente não cobre a canela e deixa o corpo exposto na nudez da pasmosa deficiência dos quadros do PT. Não é só: reforça a insistente cobrança da omissão do presidente, do seu desligamento dos maçantes deveres administrativos, no deslumbrado culto à popularidade e ao desfrute das vantagens do poder, entupindo a agenda com as viagens ao exterior e os giros domésticos para os agrados ao eleitor.
Na mesma toada, bate na tecla desafinada dos seus êxitos pessoais e dos sucessos do seu governo. Infla em arrogância e vaidade. Exalta bons índices setoriais, como o Fome Zero, programa assistencial, e os feitos da equipe econômica do ministro Antonio Palocci, condenada pelos radicais do PT. Sai do sério nos elogios em boca própria ao celebrar a recuperação da malha rodoviária, exatamente um dos fiascos da paralisia oficial: em dois anos e sete meses de mandato foram tapados os buracos em sete mil quilômetros dos 58 mil da rede federal.
Mas, e o outro lado, o da crise institucional, da corrupção no financiamento da campanha, da compra de parlamentares com o dinheiro público? Bico calado, não merece uma palavra de explicação, de justificativa.
O PT chegou a tal estado de desmoralização que o seu presidente interino, o ex-ministro Tarso Dutra, prega a urgência de refundar a legenda. Ora, refundar, ensina o Aurélio, significa ''tornar mais fundo, afundar, profundar, aprofundar''. Do que sobrou, pouco se aproveita. Muitos dos seus antigos dirigentes, como o Denúbio, o Sílvio Pereira têm contas a prestar à polícia.
Lula lava as mãos, não tem nada a ver com o PT, o governo, a corrupção e o lamaçal. Pois é por aí que poderia escapulir, passando por debaixo da lona. Desde que assuma, de peito aberto e voz firme, que não gosta e não sabe governar: delegou poderes, com plena confiança na equipe, aos ministros, secretários, presidentes e diretores de autarquia. No Palácio, ao José Dirceu e ao núcleo duro e, depois do tufão, à ministra Dilma Rousseff, enérgica e discreta como manda o figurino.
Para si, chama a responsabilidade de relações públicas do governo, que se ajusta ao seu temperamento. No Brasil e no mundo. Viaja e fala para anunciar os planos aprovados, os projetos em fase de execução ou às vésperas do início das obras como a transposição das águas do velho Chico para a irrigação das áreas secas do Nordeste. Ninguém mais eficiente para fazer a propaganda do país como um dos líderes da comunidade internacional.
Para cumprir a missão que Duda Mendonça executou na sua campanha, dispensa o auxílio do PT e dos ministros. Cada um cuide de si. E das CPIs.
Entrevista:O Estado inteligente
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