"Para a CPI dos Correios, na prática a semana começa hoje, com o depoimento da mulher do publicitário Marcos Valério. Ela vai depor não apenas como mulher de um dos principais personagens da crise política, mas principalmente como sócia de suas empresas e, em alguns casos, sócia majoritária.
A Constituição brasileira permite que uma pessoa se negue a responder sobre temas que possam incriminar o seu cônjuge, e o Supremo Tribunal Federal concedeu a Renilda de Souza o direito de não dizer a verdade em todas as respostas.
Mas a depoente está obrigada a responder a todas as perguntas, ao contrário do que aconteceu com seu marido, com o ex-secretário do PT Sílvio Pereira e o ex-tesoureiro Delúbio Soares.
Também nesta semana, a CPI dos Correios espera receber do STF os documentos das empresas de Marcos Valério apreendidos pela polícia em Minas Gerais e encaminhados ao Supremo, desde a semana passada, porque muitos dos citados são parlamentares e, portanto, têm direito a foro privilegiado, ou seja, tudo precisava passar pelo STF.
Parece que o presidente do Supremo, ministro Nelson Jobim, decidiu finalmente enviar essa documentação à CPI. Consta que são centenas de fax com nome e número de identidade das pessoas que sacaram dinheiro das contas de Marcos Valério. Dizem que ali está o mapa do mensalão.
A conversa entre o presidente da CPI dos Correios e o presidente do Supremo rendeu frutos importantes, como se vê. Este é um exemplo do que pode acontecer quando existe um relacionamento independente e democrático entre dois poderes da República.
Legislativo e Judiciário entenderam-se a respeito da importância dos trabalhos da CPI dos Correios.
Mas o sentimento que povoa o mundo político de Brasília é o medo. A boataria corre solta. Reputações são enlameadas, insinuações sobre hábitos e costumes da elite política brasileira freqüentam todas as conversas.
As informações são de todo tipo. Desde as simplesmente fantasiosas, passando pelas positivamente delirantes e chegando até às verossímeis. Separar o que é informação do que é tiroteio contra desafetos e adversários está sendo um trabalho delicado.
Enquanto isso, o presidente da República decidiu tomar um banho de povo. Nos últimos dias, o presidente Lula esteve em contato com suas origens, os metalúrgicos paulistas, quem sabe reenergizando-se para os próximos passos.
O presidente reencontrou-se com velhos companheiros, recebeu juras de amizade e lealdade eternas e voltou a Brasília mais animado.
Lula vai precisar mesmo de todas as energias para enfrentar o que vem por aí."
Entrevista:O Estado inteligente
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