Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, julho 29, 2005

CLÓVIS ROSSI Socorro, Cherie

Folha de S Paulo

  SÃO PAULO - Melhor que qualquer pacto de governabilidade, sugiro criar no governo e no Parlamento o cargo "Cherie Blair".
Trata-se da mulher do primeiro-ministro britânico, Tony Blair, com a coragem e o discernimento de dizer duas coisas absolutamente corretas e absolutamente necessárias:
1. "Não pretendo minimizar esses horríveis atos de violência ou a responsabilidade imposta ao Reino Unido e a outros governos de manter as pessoas seguras ou a difícil e perigosa tarefa dos serviços policiais e de inteligência."
2. "Ao mesmo tempo é muito fácil para nós responder ao terror de um modo que solapa o compromisso com nossos mais prezados valores e convicções e diminui nosso direito de nos chamar uma nação civilizada."
Não gastou mais de um punhadinho de palavras para organizar a discussão em um país atordoado e paranóico com os atentados (justamente paranóico, aliás). É muitíssimo melhor que a catarata de tolices, bravatas e discursos desconexos que se ouve hoje no Brasil, da boca do presidente da República, para começar, mas também de outras lideranças do governo e mesmo da oposição.
Faz falta no governo (qualquer governo brasileiro) uma pessoa indemissível capaz de dizer ao presidente da República, no crepúsculo de um dia agitado ou mesmo comum: "Que besteira você disse (ou fez) hoje, hein, meu amigo?".
No caso do governo Lula, essa figura é desesperadamente mais necessária porque todos os que poderiam fazer algo semelhante foram caindo fora, desiludidos. Restaram os que só sabem baixar a cabeça e dizer, como em antiga propaganda: "Bonita camisa, Fernandinho".
Uma pessoa que ocupasse a cátedra "Cherie Blair" ajudaria o presidente a tentar escapar da pior coisa que pode acontecer a um líder: ser folclorizado. Quem viu "Casseta e Planeta" na terça-feira ou outros humorísticos sabe do que estou falando.

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