Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, julho 29, 2005

DILEMA PETISTA por Denis Rosenfield

No Blog Diego CasaGrande

O PT e o seu governo causaram a si mesmos um dano irreparável. Os mais lúcidos dos dirigentes petistas, entre os quais o Ministro Tarso Genro, se deram perfeitamente conta da gravidade da questão. O partido da ética feriu de morte um princípio que dizia defender incondicionalmente. Não faltam indícios de envolvimento do partido com a corrupção, tão fortes foram que a cúpula partidária teve de renunciar, assim como o então Ministro da Casa Civil. O partido ficou atordoado e o governo totalmente desorientado. O Presidente Lula fica dando declarações desencontradas, ora apelando para discursos chavistas visando à sua base social na CUT e no MST, ora se dizendo defensor da mesma ética que não respeita. O quadro geral é de perplexidade. Fica então a questão: "O que fazer?"

Nos moldes atuais, o PT não pode permanecer, pois assassinou a esperança que dizia encarnar. Para mostrar à opinião pública que guarda um elo com a bandeira da moralidade pública, o partido deverá "cortar na carne", mas efetivamente, e não segundo a bravata presidencial. O Presidente só parece preocupado consigo mesmo, procurando evitar a todo custo o seu processo de responsabilização e, eventualmente, de impeachment. A reforma ministerial foi apenas uma espécie de blindagem, pois pagou mais pelos mesmos apoios. O partido, por sua vez, só tem corrido atrás do prejuízo, não se antecipando minimamente aos fatos. Se quiser se "refundar" como dizem alguns dos seus líderes, é necessário que tenha clareza do que fazer e, sobretudo, saiba reconhecer os próprios erros. O problema, porém, consiste, na situação atual, em precisar onde está precisamente o "erro".

O "erro" mais evidente reside na corrupção de alguns de seus membros, mais diretamente ligados à cúpula partidária. Algumas pessoas foram particularmente beneficiadas, num esquema clássico de enriquecimento pessoal. No entanto, o que mais se sobressai é o caráter sistêmico da corrupção, tendo como objetivo o enriquecimento do partido, o fortalecimento do seu poder, com capacidade correspondente de comprar parlamentares e partidos aliados. Assim colocada, a questão é estratégica, relativa a um projeto hegemônico de captura do Estado, de enfraquecimento da democracia e de subordinação de outras siglas partidárias, tidas por "aliadas". É preciso, pois, distinguir a "corrupção", enquanto ato individual, da "corrupção partidária", voltada para um projeto de conquista do poder, tendo como finalidade tanto a sua preservação como a instauração, no futuro, de uma sociedade socialista, como almejada por um significativo número de seus membros. Enquanto essa segunda alternativa não for revisada, as "causas" da corrupção permanecerão.

Não é fortuito que o discurso dos novos dirigentes se volte também contra a política macroeconômica, com a precaução de praxe, a saber, uma nova proposta seria somente implementada num eventual segundo mandato do Presidente Lula. Com efeito, por que aparece esse discurso, precisamente neste momento, contra a única área do atual governo que apresenta resultados, em boa parte consensuais nos outros partidos políticos, inclusive os de oposição? A resposta consiste em que esse discurso procura dar satisfação à ala mais à esquerda do partido, que continua presa a seus dogmas de antanho. Contudo, como a eleição partidária está próxima e a luta pelo poder se acirra, quanto maiores os apoios, melhores resultados para o atual grupo dirigente.

Todavia, a questão não se reduz a ganhar as eleições de setembro, mas a ultrapassa, pois o que está em jogo é uma revisão doutrinária do partido, voltada para a aceitação plena da economia de mercado, da democracia representativa e do estado de direito. Trata-se do PT aceitar doutrinariamente o ideário social-democrata. Enquanto o partido continuar tergiversando sobre a "idéia de socialismo", "a utopia", a "reforma agrária" ou a solidariedade a Cuba ou a Chávez, ele continuará refém de suas contradições. A "corrupção" sistêmica continuará rondando os corredores do poder, pois ela estará doutrinariamente justificada.

Publicado em 28/07/2005

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