Quando o Jornal do Brasil divulgou a existência da sordidez praticada nos corredores do Congresso, em setembro de 2004, o então presidente da Câmara, João Paulo Cunha, teve a chance de realizar uma real investigação. Com a ajuda do corregedor Piauhylino, preferiu a fantasia. Engavetou um raquítico inquérito e ameaçou com ações judiciais para silenciar o jornal. A história explicou a opção: o petista imergiu no lamaçal no qual tem afundado o PT e alguns dos morubixabas da sigla. De Piauhylino, sublinhe-se a justificativa de que não concluiu a sindicância porque Miro Teixeira, um dos autores da denúncia, negou a autoria de acusação.
O envolvimento dos dois parlamentares na cascata de dinheiro jorrado das contas de Marcos Valério de Souza sugere interrogações relevantes. Chama a atenção, por exemplo, que as agências de publicidade de Valério tenham vencido licitações na Câmara, Banco do Brasil, Correios e outros contratos fechados com o governo. Piauhylino atribuiu a presença de um ex-assessor no Banco Rural a razões particulares. João Paulo não conseguiu justificar os saques da mulher.
Somas vultosas foram destinadas à estratégia de melhorar a imagem da Câmara enquanto João Paulo Cunha presidia a Casa - ignorando-se a premissa de que limpezas do gênero decorrem de trabalho, não de publicidade. Apesar da promessa do atual presidente Severino Cavalcanti de que o contrato com a agência de Valério não será renovado, é moralmente questionável e politicamente desastroso que os serviços ainda estejam mantidos. São cerca de R$ 10 milhões de recursos públicos destinados às mesmas contas cujas evidências revelam ser a fonte de financiamento de campanhas eleitorais e mesadas de retribuição a votos de interesse do Planalto. João Paulo Cunha acreditava que voto de deputado não tem preço. Até agora, as investigações o refutam.
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