Folha de S Paulo
É importante juntar todas as peças para que o país não quebre a cabeça:
1) Luiz Inácio Lula da Silva está fora do controle, inclusive do seu círculo mais próximo. No início do governo, a Casa Civil, com José Dirceu, empalmou todo o poder. Após o caso Waldomiro, o poder foi disperso. Agora, tudo está de pernas para o ar. A rigor, a única estratégia para enfrentar esse tsunami político foi a jurídica, de descaracterizar crime nas ações do governo. Todo o restante tem sido fruto de arroubos de Lula. Ele conversa com Renan Calheiros, José Sarney, Jaques Wagner, Luiz Dulci, Márcio Thomaz Bastos, mas não de forma estruturada. Não existe um "gabinete de guerra" para planejar a paz e a superação da crise.
2) A âncora da governabilidade, no momento, é o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho. Mas as investigações do Ministério Púbico sobre seus ex-assessores, Ralph e Rogério Buratti, são complicadas. No fim de semana passada, Buratti comentava abertamente em Ribeirão Preto que não iria para o sacrifício sozinho. E o mercado já começou a precificar a crise.
3) Um fator de moderação seria o novo PT, agora comandado por um gabinete racional, articulando uma interlocução institucional com o presidente. Desde o final de semana passada, porém, não existe mais oficialmente o Campo Majoritário -a aliança que comandou o partido nos últimos anos. O novo PT ainda não foi parido, e a crise não pode esperar.
4) A melhor saída proposta até agora foi a do senador Jefferson Peres (PDT-AM), do pacto de governabilidade, juntando os principais partidos -incluindo o PT- para blindar a política econômica. Só que Lula não aceitará nada que pareça derrota ou humilhação. É capaz de tudo para não ser humilhado. Só que crises políticas não são carrinho de autorama, que se pode controlar a velocidade.
5) A tese da "conspiração das elites" não pega em nenhum setor minimamente racional do país e mesmo do próprio PT. Mesmo assim, se houver uma radicalização, cria-se um racha nacional.
6) Não se pense em Lula como um irresponsável completo. O que é inaceitável para ele é a humilhação. Na hora em que aparecer uma saída honrosa, provavelmente a aceitará. Essa saída tem que ser acordada entre todas as partes e conduzida pelo próprio presidente. Não poderá significar derrota nem para ele nem para a oposição, muito menos poderá significar um arreglo para a opinião pública. Lula tem que ser preservado até para que uma eventual renúncia à reeleição pareça gesto de grandeza, não de rendição.
Essa saída tem que ser um conjunto radical de mudanças políticas, pensada pelos melhores cérebros políticos dos diversos políticos, que elimine de vez os vícios políticos atuais.
Por isso mesmo, é hora de as lideranças responsáveis do PT e da oposição começarem a conversar rapidamente, para dar chão firme para Lula. A Comissão Parlamentar de Inquérito tem que acabar com o show e dar um tempo para o governo respirar e a poeira assentar. Mesmo porque, a esta altura, o show só prejudica as investigações.
Entrevista:O Estado inteligente
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