Folha de S Paulo
A abertura da caixa-preta, do escândalo do "mensalão", estará sendo resolvida hoje, fora dos holofotes da CPI. Trata-se da Assembléia Geral Extraordinária da Brasil Telecom, que decidirá ou não pelo afastamento do Opportunity da gestão da companhia. Por seu tamanho e por seu faturamento e pelas notícias até agora vazadas da CPI, é possível que a Brasil Telecom tenha sido a grande contribuinte desse esquema político -ao lado da Telemig Celular e da Amazônia Celular, as três controladas pelo Opportunity.
Ontem, em reportagem no "Estado de S.Paulo", o banqueiro Daniel Dantas passou recados explícitos sobre as bombas que têm para explodir. Em reportagem em "off", fontes do Opportunity não esconderam que se aproximaram do PT por meio de Delúbio Soares e Marcos Valério Fernandes de Souza. Sustentaram que a SMPB, agência de Valério, tinha como cliente a Telemig Celular, "controlada pela Previ" -o controle sempre foi do Opportunity.
Há um número infindável de inconsistências técnicas nas declarações das fontes do Opportunity, explicações sem nexo para a reação da Previ. Mas há também bombas, como a admissão de que financiaram candidatos, que se encontraram com o o então ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, e conseguiram seu apoio na luta contra os fundos, em uma reunião testemunhada pelo advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakai. O acordo teria saído depois de Dirceu ter exigido de Dantas que "parasse de grampear seus rivais". A inverosimilhança dos termos do acordo, assim como a menção a Kakai, faz parte dos recados. O acordo era para a demissão de Sérgio Rosa, presidente da Previ -pessoa que impediu o Opportunity de controlar a telefonia nacional. E Dirceu, de fato, se empenhou pessoalmente nisso.
Se efetivamente os fundos conseguirem destituir o Opportunity, abrirão a caixa-preta, que passa pelos gastos em publicidade, pelos contratos de compras e prestação de serviços, pelos contratos com grandes escritórios de advocacia. E fica claro que a reportagem foi a última cartada do grupo.
Nos últimos tempos, a Anatel negou recurso administrativo ao argumento da BrT, de que a troca de gestor dos fundos caracterizaria troca de controle da companhia e perda da concessão.
No ano passado, a Anatel havia concedido 18 meses para que italianos da TIM e o Opportunity se acertassem a respeito da sobreposição das telefonias celulares. Teoricamente, o prazo venceria no último dia 18. Mas os advogados conseguiram comprovar que, como os italianos jamais chegaram a assumir a BrT, o taxímetro não poderia ter iniciado.
Na semana retrasada, um desembargador do Rio de Janeiro concedeu liminar ao Opportunity a qual tirou da Angra Partners a gestão do fundo de investimento Investidores Institucionais e colocou o Opportunity de volta. A medida foi derrubada pelo presidente do STJ (Superior Tribunal de Justiça). O caso foi levado ao STF, que não acolheu.
Hoje, haverá o desfecho de uma longuíssima maratona e um ponto essencial nesse processo de passar o país a limpo.
Entrevista:O Estado inteligente
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