O Estado de S Paulo
À exceção de Jefferson, nenhum dos atores em cartaz convenceu no personagem Convenhamos, fizeram bem Renilda, Valério, Delúbio, Silvio e mais todo o elenco de apoio do espetáculo em cartaz, de não terem dedicado suas vidas ao teatro. Provavelmente não estivessem agora à margem da lei, é verdade. Mas não fariam no fim do mês salário suficiente nem para pagar o cafezinho, como indica a performance da trupe na CPI dos Correios. Do desempenho sofrível até agora só Roberto Jefferson conseguiu escapar; foi o único a convencer no personagem. Talvez porque baseado num texto mais veraz ou devido a ensaios mais bem elaborados. Os outros, pegos de surpresa, atropelados pela urgência dos fatos que desmentem suas versões à velocidade da luz, abusam do direito de menosprezar o discernimento alheio. Renilda Santiago, mulher de Marcos Valério, por exemplo, comoveu meia dúzia de parlamentares com lágrimas (recurso usual na manipulação de sentimentos masculinos), mas não convenceu no papel de rainha do lar alienada, mãe-coragem, mulher boboquíssima reverente ao amo e senhor. Primeiro, porque isso não existe em lugar algum, muito menos entre mulheres da faixa de idade e renda de Renilda, habitante de uma grande cidade, bem informada, falando direito (apesar dos repetidos "seje" e de um inacreditável "tivesse trago", no sentido de trazer) e ascendência sobre o marido suficiente para impedi-lo de desfazer a sociedade comercial com ela, conforme Valério informara à CPI. Segundo, porque Renilda mesmo se desmentiu. Da empresa em que era sócia do marido não conhecia nem "a cor do tapete", mas sabia detalhes da demissão da secretária Fernanda Somaggio - alegadamente por redução de custos -, das licitações perdidas por Valério, dos números das contas bancárias e dos detalhes convenientes ao reforço de sua versão. E a história de que Delúbio Soares e Valério fizeram negócios por amizade? Ela destruiu ao contar que seu marido aceitou avalizar os empréstimos por medo de perder negócios com o governo. Dona Renilda e sua ausência de sentidos mostraram-se muito preocupadas com o pagamento dos empréstimos avalizados pelo chefe da família ao PT nos últimos dois anos, mas esqueceram-se de combinar essa aflição com os empréstimos feitos em 1998 para a campanha de Eduardo Azeredo seguindo a mesma metodologia. Ora, que a moça não saiba das estripulias financeiras do marido por algum tempo, aceita-se. Mas que ignore, sendo sócia, suas andanças de sete anos para cá já se configura caso para exame mental, visual e auditivo. Como a personagem da CPI pensava, via e ouvia muito bem, ficou o descompasso entre intenção e gesto. Assim como soou artificial a tentativa de Valério de se apresentar como "um brasileiro normal" dedicado a bem-sucedidos negócios com empresas públicas e privadas, Delúbio também não passou no teste para o papel de provedor partidário consciente, mas ideologicamente consistente, dono de um desvio de conduta tênue em nome da boa causa. Silvio fez a linha do militante fiel, levemente arrependido dos equívocos cometidos na construção de um projeto político cuja finalidade, não se pode duvidar, era promover o bem estar do povo. Todos uns perfeitos canastrões expostos aos próprios exageros. Ninguém é tão alienado e displicente como Renilda, tão amigo e ingênuo como Marcos Valério, tão desinformado como Silvio Pereira nem tão auto-suficiente como Delúbio. Seja como for Está bem que José Dirceu não tenha falado com as diretorias dos Bancos Rural e BMG sobre os empréstimos ao PT e, como alega o Rural, tenha se reunido com eles para discutir a liquidação do Banco Mercantil de Pernambuco. Desde quando é normal um ministro da Casa Civil fazer reuniões em hotéis para tratar com diretores de bancos da liquidação de instituições financeiras? A emenda parece pior que o soneto. Para o alto A avaliação é geral, inclusive do comando da CPI dos Correios: Renilda Santiago serviu de mensageira dos recados do marido ao Palácio do Planalto. Marcos Valério já quis dizer ao Ministério Público tudo o que sabe; foi impedido pelo amigo Delúbio. Esperava, depois disso, que outros participantes do esquema de arrecadação de dinheiro dividissem com ele as responsabilidades, mas isso não aconteceu; enviou, então, por intermédio da mulher, um sinal de que continua esperando. Mas paciência tem limite. Dupla cidadania Em matéria de exemplo de separação entre o PT e o governo, nada mais convincente que Tarso Genro, presidente do partido, discursando como ministro da Educação em solenidade ao lado do presidente da República ontem no Rio Grande do Sul. Quase-quase O presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral, tem ouvido recomendações de amigos para deixar o PT, aproveitando que, embora já seja líder da bancada no Senado, ainda não esquentou cadeira no partido. O senador pensa no caso, mas só decide depois do fim da CPI.
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Entrevista:O Estado inteligente
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quinta-feira, julho 28, 2005
DORA KRAMER Elenco de canastrões
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