O Estado de S Paulo
A pesquisa CNT/Sensus não chega a revelar uma grande novidade ao apontar a preservação da figura de Luiz Inácio da Silva em meio ao lodaçal que assola a política em geral e o PT em particular. Antes, traduz o resultado do grande acordo tácito firmado entre a maior parte das forças políticas e sociais para proteger da crise em curso a imagem da Presidência. Houvesse de fato a conspiração de elites interessadas em derrubar Lula - como ainda insistem os desprovidos de argumentos melhores -, o efeito não seria tão favorável, pois neste mês e pouco de denúncias sem trégua o presidente teria sofrido ataques e acusações diretas, algumas até baseadas na simples lógica do funcionamento de um sistema presidencialista. A variação para melhor do índice de avaliação positiva e a manutenção da condição de favorito para a eleição de 2006 são boas novas para Lula, quanto a isso não resta a menor dúvida. Embora se confirme tendência de um segundo turno já registrada em pesquisas anteriores, o presidente bate seus adversários na disputa final e, mais importante no momento, conta com a certeza de ampla maioria dos consultados de que não há conexão entre ele e as denúncias de corrupção. Apenas 12% apontam a existência dessa vinculação. Se as coisas vão razoavelmente bem em comparação ao barulho provocado e ao aroma exalado pela crise, convém que não se ignorem também as más notícias. Sob pena de o governo, o presidente e o PT se deixarem iludir por um retrato com retoques da realidade. Há dados muito ruins, sendo o mais significativo o crescimento do índice dos que consideram ter aumentado "muito" a corrupção no governo Lula. Em um mês - a idade do escândalo - esse porcentual passou de 13% para 20,2%. No mesmo período, mais que dobrou a quantidade de gente que acompanha o caso (de 16,4% para 38,1%) e caiu à metade o índice de desinformados (de 43,4% para 20,5%). Quanto mais gente toma ciência dos acontecimentos, maior o grupo dos altamente desconfiados em relação ao governo. Entre os informados, 67,1% dão como verdadeiras as denúncias de Roberto Jefferson. Quer dizer, a qualidade (ou falta de) pessoal ou profissional do deputado não altera a percepção de verossimilhança a respeito do que ele diz. Isso confirma a inutilidade da desqualificação como arma de defesa e ajuda o governo a orientar sua estratégia para longe desse tipo de tática. Fica patente também na pesquisa que governo e PT têm trabalho duro pela frente no tocante à recuperação de imagem para transformar os índices de aprovação do presidente em intenções reais de voto no ano que vem. Entre os critérios de escolha do presidente apontados na pesquisa, a moralidade pública está em primeiro lugar de importância, com 32,2% das preferências. O chamado "social" ficou em segundo (26,4%), a economia em terceiro (24%) e os problemas políticos - uma boa nova - em último (8,1%). Se o presidente está razoavelmente preservado no item moralidade, pois só 12% o vinculam às denúncias, o mesmo não se pode dizer do PT. O partido é apontado por 31% como diretamente conectado à corrupção, perdendo apenas para a Câmara dos Deputados (35,4%) neste quesito. Está aí uma das más notícias merecedoras de toda a atenção. A menos que Lula pretenda disputar um novo mandato por outro partido, vai precisar dar um jeito urgente em sua legenda, sob pena de, ou se contaminar por ela ou de, ao desvincular-se dela, se reeleger em minoria parlamentar ainda mais acentuada. Como parece esgotado o modelo da coalizão sustentada no loteamento partidário do Estado, Lula não poderá prescindir de seu partido, já que não dispõe do apoio de outras forças com identificação programática. A mais próxima, o PSDB, disputará com ele o poder. Donde é prudente não confundir a reverência natural da população pela figura institucional do presidente da República com a escolha de um candidato para assumir a Presidência, com todo o caráter de expectativa e sentido de julgamento em retrospectiva contidos nessa decisão. Lenda urbana Um exemplo da distância em que a discussão da reforma política se dá em relação ao pensamento do eleitor está nos índices de aprovação e desaprovação do financiamento público de campanhas: 16,4% são a favor e 72,6% contra. É uma constatação óbvia: se os políticos não conseguem sanear o uso do dinheiro de origem privada, não podem esperar que alguém os autorize a manejar recursos públicos sem uma prévia e comprovada desratização do ambiente. Três pesos O PFL foi rápido no gatilho na punição do deputado-bispo integrante de uma comitiva da Igreja Universal flagrada no exercício do transporte de malas cheias de dinheiro. A despeito de não ter exibido a mesma austeridade quando aceitou de bom grado uma candidatura cheia de votos (dos fiéis) e com financiamento (da Igreja) garantido. O partido foi também mais flexível no episódio da apreensão pela Polícia Federal dos milhões na empresa de sua então candidata à Presidência da República, Roseana Sarney.
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Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, julho 13, 2005
DORA KRAMER Devagar com o andor
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