Entrevista:O Estado inteligente
O GLOBO- Miriam Leitão:Dólar fraco
O dólar não deve se recuperar tão cedo no Brasil. Os juros são altos demais e isso pressiona o câmbio para baixo; o Banco Central suspendeu suas intervenções no câmbio, porque já comprou US$ 15 bilhões de reservas em três meses; e a tendência mundial é de um dólar fraco. Os juros devem ficar estáveis na reunião de abril do Copom, mas não há esperança de que as taxas comecem a cair a curto prazo, porque a inflação ainda está alta.
O Copom, quando se reunir nos dias 19 e 20 deste mês, deverá manter os juros estáveis. O IPCA divulgado ontem, de .0,61% em março, ficou dentro da expectativa. A inflação está há três meses em torno de 0,6% ao mês. Anualizada, está acima do teto da meta, 7,5%. O petróleo não vai cair tão cedo, avisa o FMI, o que significa que daí não sairá qualquer boa notícia para o Brasil.
O petróleo está em uma das suas maiores cotações em termos reais. Em março, subiu 15%. No ano passado, teve uma cotação média de US$ 38 dólares e já está em US$ 55. Subiu muito mais do que os especialistas previam. Em 2002, esteve a US$ 20 e, em 98, chegou a estar a US$ 11. (veja a trajetória no gráfico abaixo). Os preços têm subido de forma consistente e têm se mantido mais altos por mais tempo do que o imaginado. O FMI, no seu relatório sobre economia mundial, avisou que a pressão de demanda, com o crescimento forte da China, manterá o preço alto por vários anos. Esse, portanto, continuará sendo um ponto de pressão sobre a política econômica de um país como o Brasil, que tem uma taxa média de inflação mais alta do que a maioria dos países — ainda que seja de um dígito —, além de ser um ponto de incerteza em relação à economia mundial.
O nível de atividade começa a sentir o efeito dos juros. Os dados recentes mostraram o início de um desaquecimento na indústria, ainda que tenha havido discrepância entre os números da CNI e do IBGE. O mercado projetava uma alta da produção industrial e ela caiu em fevereiro e num número expressivo: 1,2%. Alguns setores, como automóveis, continuam bem, mas os sinais de desaquecimento são claros.
O economista José Márcio Camargo, da Tendências, diz que não é um crítico da política monetária, mas acredita que o Banco Central encerrou sua fase de elevação de taxa de juros:
— A inflação está estabilizada. É bem verdade que num patamar mais alto do que gostaríamos, mas não há tendência de aceleração. Alguns dos aumentos que pesaram neste começo de ano não vão continuar pesando, como as tarifas de ônibus, por exemplo. Mesmo com uma inflação um pouco alta, o Banco Central não deve elevar os juros em abril porque eles estão altos demais e o aperto da política monetária continuará fazendo efeito nos próximos meses. Só em janeiro é que as taxas de juros de mercado começaram a subir. O nível de atividade está se reduzindo. Se os juros subirem de novo, o risco é de uma queda maior no ritmo de crescimento.
Ele diz que o BC deve manter a posição dos últimos dias e continuar não comprando mais dólares:
— O Banco Central já comprou US$ 15 bilhões em três meses. Está com quase US$ 40 bilhões de reservas líquidas. Sem acordo com o FMI, ele pode dispor das reservas brutas, de US$ 61 bilhões de reservas. Há seis meses, quando o BC começou a subir os juros, o país tinha apenas US$ 20 bilhões de reservas. A situação das contas externas é muito confortável.
Mesmo com o dólar baixo, o planejamento das empresas exportadores é continuar ampliando as vendas para o exterior. As projeções de balança comercial permanecem crescentes e sondagens feitas junto às empresas exportadoras indicam um volume impressionante de exportação prevista. As próximas semanas devem mostrar aumento da previsão do saldo comercial a cada pesquisa feita pelo Banco Central junto às instituições financeiras.
O dólar não se recupera tão cedo por tudo isto: primeiro, juros altos forçam o dólar para baixo e a Selic não vai cair tão cedo porque a inflação ainda está alta e há pressões à frente como o preço do petróleo; segundo, há uma expectativa de continuação do fluxo para o Brasil, seja de investidores atrás do diferencial de juros, seja de dólares das exportações; terceiro, o BC já comprou reserva demais nos últimos meses e tem restrições fiscais a continuar aumentando a retenção de um ativo que se desvaloriza e rende pouco, contra um passivo corrigido por 19,25% ao mês. O dólar deve continuar fraco, os juros não vão subir em abril, mas também não será desta vez que começarão a cair.
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