O STF decide extraditar o traficante Juan Carlos
Abadía, dono de uma fortuna de 1,8 bilhão de dólares
Juliana Linhares
Gloria Congote/Revista A Semana | Revista A Semana |
Abadía, depois das plásticas (à esq.) e antes delas, em foto inédita no Brasil |
O colombiano Juan Carlos Ramirez Abadía, de 44 anos, um dos maiores traficantes de cocaína do mundo, terminou a semana passada satisfeito. Preso em São Paulo desde agosto de 2007, ele vinha havia tempo pleiteando a sua extradição para os Estados Unidos – onde é suspeito de ser o mandante de quinze mortes (credita-se a ele a encomenda de outras 300 em território colombiano). A medida agrada ao bandido porque ele sabe que, nos Estados Unidos, são maiores as suas chances de conseguir um acordo com a Justiça. Em troca de informações sobre o tráfico internacional, que muito interessam à Interpol, Abadía quer proteção policial para a sua família e três ex-mulheres, além da legalização de parte da sua fortuna, avaliada em 1,8 bilhão de dólares. Fruto de 25 anos de envolvimento com o tráfico, ela é 720 vezes maior do que o patrimônio de 2,5 milhões de dólares ostentado pelo traficante brasileiro Fernandinho Beira-Mar no ano de sua prisão, em 2001.
Abadía era um dos criminosos mais procurados pelo FBI. Nos últimos dezessete anos, enviou cerca de 1 000 toneladas de cocaína de seu país para os Estados Unidos. Veio escondido para o Brasil em 2004. Para se manter anônimo, submeteu-se a mais de uma dezena de cirurgias plásticas que o transformaram numa espécie de clone mal-acabado do cantor inglês Freddie Mercury. Só no Brasil, o traficante fez um lifting no rosto, lipoaspiração e mais plásticas no nariz, pescoço, orelhas e pálpebras. Em depoimento à Polícia Federal, disse ter trazido ao país 16 milhões de dólares. Cerca de 6 milhões de reais foram investidos em imóveis, leiloados pela Justiça há dois meses. O resto ele não diz onde está. Se a polícia encontrar o dinheiro, deverá remetê-lo para a Secretaria Nacional Antidrogas, como prevê a legislação em caso de dinheiro oriundo de tráfico de entorpecentes.
A decisão do STF ainda precisa ser ratificada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Além dos inquéritos a que responde nos Estados Unidos, Abadía tem um processo no Brasil, onde é acusado de lavagem de dinheiro. Lula pode optar por esperar o fim do processo no Brasil (inclusive o cumprimento de eventual pena) ou entregar Abadía aos Estados Unidos, abrindo mão de puni-lo aqui. Nesse caso, o governo americano terá de assumir o compromisso de converter uma possível pena de prisão perpétua ou de morte ao prazo máximo de trinta anos de cadeia, limite previsto na legislação brasileira. Especialistas acreditam que o presidente ficará com a segunda opção. Abadía não fará falta ao país.