Nem Scorsese é páreo para a eficiência com que
Mick Jagger controla a imagem de sua banda
Sérgio Martins
Divulgação |
Scorsese (no centro) e a banda: só um piti bem pequenininho, e nada de polêmica |
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Dois anos atrás, quando Martin Scorsese anunciou que faria um documentário sobre os Rolling Stones, a crítica se perguntou qual versão da banda chegaria às telas – se a do detalhista Scorsese, que não esconde a intimidade de seus biografados (como em No Direction Home, sobre Bob Dylan), ou a de Mick Jagger, conhecido por controlar a imagem de seu grupo com eficiência stalinista. The Rolling Stones Shine a Light (Estados Unidos/Inglaterra, 2008), que estréia nesta sexta-feira no país, mostra que Jagger venceu a disputa. E sem muito esforço. Fã confesso dos Stones, o diretor se deixou deslumbrar pelo carisma do quarteto e tratou de evitar tudo o que pudesse cheirar a polêmica.
É verdade que poucas vezes os Stones foram tão bem filmados. Scorsese registrou duas apresentações da banda no Beacon Theatre de Nova York, em novembro de 2006, com dezesseis câmeras – que capturaram as rugas de Jagger, o rosto talhado a machado de Keith Richards e a eterna expressão de enfado do baterista Charlie Watts. Os fãs que se cansaram da mesmice do repertório dos últimos DVDs dos Stones, além disso, terão motivos para alento. O show inclui várias canções de Some Girls (1978), um dos discos mais saborosos da banda, e a participação especial de Jack White, do grupo White Stripes, da cantora Christina Aguilera e do bluesman Buddy Guy. O diretor também não maquia os defeitos da apresentação. Estão ali as derrapadas de Richards e Jagger – que a certa altura esquece a letra do clássico Sympathy for the Devil.
Isso, porém, é o máximo de indiscrição que o filme se permite. Ex-integrantes da banda, como o baixista Bill Wyman e o guitarrista Mick Taylor, são ignorados – talvez porque teriam outras histórias a contar. Em sua defesa, os Stones podem alegar que não têm muita sorte com documentários. Gimme Shelter, de 1970, mostra uma apresentação desastrada do grupo, durante a qual um jovem foi assassinado por seguranças; C***sucker Blues, de 1972, tinha tantas cenas de sexo e drogas (e de baixarias causadas pelo excesso desses dois ingredientes) que foi vetado antes de chegar às telas. Comportadíssimo, Shine a Light não vai além das apresentações ao vivo e de uma ou outra entrevista de arquivo. O único sinal de rebeldia é o piti que Scorsese dá ao saber que o grupo não entregou a lista de canções do show. Para quem fez No Direction Home, é muito pouco.