Contra, em termos: se a campanha para o primeiro turno se desenrolar no melhor dos mundos possíveis com que sonha o alckmismo, ou seja, sem derramamento de sangue entre o ex-governador e o ex-vice de Serra, atual titular do Palácio do Anhangabaú, o primeiro terá o pleno apoio do segundo para o confronto final com a petista Marta Suplicy. (Naturalmente, no PSDB a outra possibilidade é tida como inconcebível.) Essa hipótese, no entanto, não leva em conta a possibilidade, que não é pequena, de uma reação negativa dos eleitores da chapa Serra-Kassab em 2004 diante da "situação surrealista" a que alude o tucano Walter Feldman, secretário municipal de Esportes, numa carta distribuída a cerca de 4 mil filiados à legenda. O surrealismo estaria na existência de um candidato do PSDB que não defenderá a gestão do PSDB na cidade. Para Feldman, em São Paulo, o partido é governo.
De fato, além de outros secretários, 23 dos 31 subprefeitos são ligados à sigla - assim como numerosos membros do segundo escalão administrativo. "Temo que o povo nos cobre um preço alto pelo nosso oposicionismo de última hora", diz a carta. Ainda que se considere exagerada a advertência, a algum tipo de malabarismo Alckmin e os seus marqueteiros deverão recorrer para tentar explicar aos paulistanos por que ele quer suceder a um prefeito, também candidato, de resto, a quem não poderá fazer críticas incisivas. (Se as fizer, não o terá ao lado nos palanques do segundo turno e terá desmoralizado o próprio partido condômino de sua gestão.) Os alckmistas invocam o fato de ele ter deixado o governo do Estado com robustos 66% de aprovação. Alegam, ainda, que ele lidera as pesquisas eleitorais para a Prefeitura, embora com apenas 4 pontos de vantagem sobre Marta Suplicy (29% a 25%), ao passo que Kassab se situa na casa de 10%.
Mas os números são como as baionetas, já dizia o velho Bismarck. Servem para tudo, menos como assento. Em fins de 2005, quando fincava pé em ser candidato do PSDB à Presidência, Alckmin não se sentiu impedido pela desvantagem de 14 pontos em relação a Serra (que à época estava à frente do próprio Lula). E, como os seus desafetos não se cansam de lembrar, ele saiu da disputa pelo Planalto marcado como o único candidato nacional a ter recebido menos votos no segundo turno do que no primeiro. De mais a mais, a não ser que imponha uma derrota expressiva a Marta, numa revanche indireta contra Lula, o caminho que lhe seria natural - voltar ao Bandeirantes em 2010, com Serra saindo para presidente - ficará esburacado. Não é à toa que aos petistas, de olhos postos na questão federal, agrada ter Alckmin competindo pela Prefeitura.
Se vencer, terá sido a despeito de Serra, que ficará enfraquecido diante do seu rival Aécio Neves, outro pré-candidato tucano ao Planalto. E, se perder, nem por isso Serra se beneficiará. A se consumar, a derrota estilhaçará o PSDB paulista, fortalecendo a propensão de não poucos dirigentes tucanos de outros Estados a somar com o governador Aécio Neves. Ora, para Lula, se não encontrar um candidato da sua área com grande chance de sucedê-lo, uma vitória do governador mineiro será um módico preço a pagar pelo esfacelamento do núcleo central do PSDB. "O que é ruim para o Serra", diz José Dirceu, "é bom para nós." Difícil não lhe dar razão.