O Estado de S. Paulo |
28/3/2008 |
Discursando em Pernambuco, na quarta-feira, o presidente Luiz Inácio da Silva mandou que os opositores tirassem seus “cavalinhos da chuva” porque ele vai eleger o sucessor e “continuar governando este país”. Foi a segunda vez em menos de uma semana que Lula falou no assunto e não se pode dizer que tenha sido fruto do entusiasmo de palanque. Na primeira, domingo à noite, durante uma entrevista à TV Gazeta, estava sereno, a conversa era gravada e de caso pensado mandou recado semelhante à oposição. “Pode avisar: vou ganhar a eleição.” Depois de abrir o processo eleitoral com mais de dois anos de antecedência, o presidente começa agora a pôr em prática a estratégia de incluir a idéia da continuidade na agenda da sucessão. Como tudo o que Lula faz, o gesto não tem nem um objetivo único nem um significado claro. É parecido com a história do candidato: atira daqui, aposta dali, ensaia uma jogada de corpo acolá, faz de conta, confunde, não sabe direito aonde quer chegar, mas segue confiante de que, no fim, a sorte lhe sorrirá. Por enquanto, tanto pode estar querendo apenas começar a incutir na cabeça das pessoas a idéia de que votar em qualquer candidato que ele apóie equivale a votar nele próprio quanto pode já ter deflagrado o processo de quebra de tabu da tese do terceiro mandato. Seja como for, para atingir uma ou outra meta, o que parece lhe interessar é pôr a continuidade na pauta. No ano passado, o governo tentou fazer isso de maneira sub-reptícia, com a campanha “escolha o 3” do Banco do Brasil, e agora Lula o faz de forma explícita. Tudo muito legítimo, não fora o fato de que a conta dessa campanha é paga pelo dinheiro do contribuinte, que ainda é obrigado a ouvi-lo negar com toda a desfaçatez que esteja fazendo o que ele mesmo proclama com orgulho de vencedor antecipado. Mesmo que o objetivo final seja ilegítimo - caso tenha a ver com outro mandato subseqüente -, a tentativa faz parte do jogo, inclusive porque não é assim tão fácil chegar lá. É preciso remover montanhas institucionais, bater de frente com boa parte do País e ainda se arriscar a perder apoio de setores hoje acomodados. Mas essa é outra história, a ser conferida mais à frente. Hoje, o que se tem de concreto é um presidente em campanha eleitoral escancarada, chamando a oposição para a guerra. Enquanto isso, o que faz a oposição, mais especificamente o PSDB? Briga em São Paulo por causa do candidato a prefeito e, seguindo o modelo suicida de 2002 e 2006, ocupa-se da minuciosa tarefa de enfraquecer seu principal candidato à Presidência da República. O governador de São Paulo, José Serra, está em primeiro lugar nas pesquisas. Hoje bateria todos os postulantes. Em qualquer partido normal, isso seria objeto de uma estratégia de proteção e fortalecimento. Com os tucanos é ao contrário. Querem enfraquecer e expor o candidato. Arquitetam derrotas contra ele e criam toda sorte de constrangimentos. De um lado, pondo fogo na luta local e, de outro, alimentando a provinciana tese do “fora São Paulo”, como se houvesse equivalência entre a qualidade do governante e sua certidão de nascimento. Para encurtar, a esdrúxula situação pode ser assim resumida: sem candidato, Lula faz tudo para ganhar e o PSDB, com 2 candidatos fortes, faz uma força danada para perder. Festa do pijama O governador de São Paulo, José Serra, telefonou para o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, e convidou o colega para conversar na próxima quinta-feira. A conversa inclui pernoite na ala residencial do Palácio dos Bandeirantes. Mal pago O secretário de Esportes do governo Sérgio Cabral e até semana passada candidato à Prefeitura do Rio, Eduardo Paes, não pode dizer que tenha sido pego de surpresa pela mudança de planos do governador, que agora apóia uma chapa encabeçada pelo PT. Se não sabia dos detalhes - o que é improvável -, Paes no mínimo pressentia o golpe. Há mais ou menos uns 15 dias já chorava as pitangas ao telefone com um governador, ex-correligionário de PSDB: “Estou perdido.” A palavra não foi bem essa, mas o sentido é o mesmo. E a rima também. À moda antiga Corre no mundo do cinema uma celeuma que chama a atenção pelo anacronismo e faz lembrar as patrulhas ideológicas dos anos 70. Precursores do politicamente correto, esses grupos ditavam as regras do que era ou não adequado dizer ou escrever. Redivivos, protestam agora contra o casseta Marcelo Madureira, cujo crime foi ter dito em público que os filmes de Glauber Rocha são ruins. Em desagravo, foi marcada uma sessão de Deus e o Diabo na Terra do Sol. O risco é o espectador militante sair achando que Madureira tem toda a razão. |
Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, março 28, 2008
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