DA REPORTAGEM LOCAL
Chamando o episódio de "uma espécie de guerra suja", o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso lançou ontem dúvidas sobre a participação da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, na elaboração de um dossiê com gastos seus e de sua mulher, Ruth Cardoso, durante seu governo. Ele sugeriu, no entanto, que a ministra mostre que foi enganada e demita a responsável pelo documento.Segundo revelação da Folha, o levantamento foi feito por determinação de Erenice Alves Guerra, braço direito de Dilma.
"Não creio que ela [Dilma] tenha telefonada para a Ruth para enganar a Ruth. Ela deve ter sido enganada. Agora, corresponde a ela mostrar que foi enganada. Demita quem fez isso. Puna quem fez isso", cobrou FHC, após dizer que gosta e respeita a ministra por sua luta contra a ditadura.
Em entrevista ao programa "Em Questão", da TV Gazeta, FHC frisou que, num telefonema a Ruth, Dilma negara qualquer envolvimento da Casa Civil. Ele disse que o caso é grave por transformar em pessoais gastos correntes para despesas com funcionários dos palácios: "É uma espécie de guerra suja. E isso é ruim, não só pessoalmente ruim para mim ou para Ruth porque é desagradável ver uma infâmia dessas. É ruim para as instituições".
Na entrevista, que irá ao ar no domingo, FHC afirmou que o presidente Luiz Inácio da Silva deveria ser o primeiro a exigir a abertura dos gastos da Presidência. "Se ele tivesse um sentido ético, ele dizia: "Quero ver que gasto é esse'".
Afirmando ter consultado seus assessores, ele disse que não existem gastos sigilosos na Presidência: "Isso é mentira".
Também em nota, FHC cobrou a punição dos responsáveis pela "preparação de um dossiê, ou que nome tenha -conjunto de dados, papelada, ou o que seja-, arbitrário e dirigido". Ele criticou o ministro da Justiça, Tarso Genro:
"Causa-me apreensão que o senhor ministro da Justiça considere o episódio como político-partidário e se exima por antecipação da obrigação funcional de apurar o ilícito. Tanto mais que ele implica desrespeito às regras da impessoalidade no trato da coisa pública e de quebra de confiança, que não pode ser justificada por altas autoridades da República".
Ainda na entrevista, FHC descreveu a indignação da mulher. "A Ruth é uma pessoa firme, equilibrada e nós somos modestos. A Ruth é uma pessoa que não é de ostentação. Tem uma vida comum. Ela fica irritada. Indignada. Diz: "O que é isso?" É um desrespeito. E é um desrespeito a ela e à primeira-dama do Brasil. As instituições estão sendo corroídas".
Quatro dias depois de receber o telefonema de Dilma - gesto que chamou de cordial -Ruth Cardoso também divulgou uma nota: "Recebi, com indignação, a tentativa de exploração de gastos de representação como se fossem pessoais, sigilosos, não autorizados ou não aprovados", reagiu.