É o mosquito!
O consumidor brasileiro sabe o que faz e, sobretudo, conhece bem o seu governo. Sempre que se abre uma oportunidade – preços baratos, prestações menores – vai às compras, pois sabe que as autoridades econômicas podem mudar as regras a qualquer momento.
Como agora. À explosão de vendas de carros no crediário, o Ministério da Fazenda pensou em aplicar restrição a financiamentos mais longos. A sorte é que o ministro Guido Mantega deixou vazar esses pensamentos na semana passada enquanto eram apenas cogitações. Deu tempo para que as pessoas corressem às lojas para comprar seu carro nas boas condições de hoje.
Boas condições? Com esses juros? – já se ouvem as objeções.
Claro que os juros são altos quando comparados aos de outros países. Mas são os menores já praticados no Brasil em muitos e muitos anos. Além disso, os juros para financiamento de automóveis são os mais baixos da praça (na média de fevereiro, 31,2% ao ano, contra 44,3% na média geral paras as pessoas físicas).
Claro, também, que em condições ideais, é melhor economizar todo mês, aplicar o dinheiro e comprar à vista dois, três anos depois. Mas nem sempre é possível esperar – a tevê pifou bem na semana da final da Taça Guanabara, a geladeira velha só gasta energia – e muitas vezes não vale a pena esperar. Em vez de três anos circulando de ônibus, pode ser mais conveniente pagar juros para comprar já o conforto do carro próprio.
Claro, também, que sempre há abusos, do consumidor que vai além de suas posses e dos bancos que emprestam sem critérios. Mas é a exceção. O crédito tem crescido de forma espetacular nos últimos três anos e a inadimplência até caiu um pouco. Nos financiamentos à pessoa física, em fevereiro último apenas 7,1% das prestações registravam atraso de mais de 90 dias. Isso contra 7,3% um ano atrás.
Por que o consumidor brasileiro seria diferente do resto do mundo? Em todo país estável, as pessoas tomam crédito e antecipam consumo. É assim que funciona. O que estava errado era o Brasil de antes da estabilidade monetária. Não há crédito com inflação alta e crônica.
Com a derrubada da inflação e, sobretudo, com a “ancoragem” das expectativas de inflação – ou seja, o sentimento generalizado de que os preços não vão disparar – o crédito voltou ao Brasil. Ou, está voltando.
Se o governo não atrapalhar, o crédito total concedido a pessoas e empresas no Brasil deve chegar no final do ano a um valor equivalente a 40% do Produto Interno Bruto (PIB). Comparando: Chile, mais de 50% Malásia e Tailândia, 80%.
Por outro lado, há, sim, no Brasil um excesso de consumo – acima da capacidade de produção do país. Mas nessa conta não entram apenas os gastos das famílias. Entram também as despesas das empresas, inclusive quando estão fazendo investimentos, e do governo. E qual o gasto que está aumentando mais que todos os outros e mais depressa que o ritmo de crescimento da economia nacional?
Adivinhou, o do governo. Qual é a outra coisa que cresce mais que a economia? Adivinhou de novo, a arrecadação de impostos.
Do ponto de vista da política macroeconômica, se o objetivo é cortar o consumo, não faz diferença cortar o do governo ou das famílias. Mas no que se refere á economia real, faz diferença. Cortar gastos do governo – especialmente quando são despesas de custeio, não investimentos – abre espaço para o consumo e investimentos privados, mais dinâmicos e mais produtivos.
A Coréia do Sul também está com um problema de pressão inflacionária. Medidas anunciadas pelo governo para conter a alta de preços: reduziu e/ou eliminou tarifas de importação reduziu impostos locais e definiu alguns cortes de gastos públicos, embora o governo lá arrecade menos e gaste muito menos que o Brasil em proporção do PIB e invista muito mais.
O ministro Mantega vive citando os modelos asiáticos. Por que não copia este?
Em vez disso, de concreto, o que fez o governo nesse capítulo do crédito? Aumentou o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido cobrada dos bancos. Isso aumentou o custo dos financiamentos, que os bancos transferiram para a taxa de juros. Por isso, as taxas subiram para o consumidor nos meses de janeiro e fevereiro.
O governo falou, confundiu e tomou mais uns trocados da gente, para gastar mais um pouco. E depois se diz preocupado com um eventual excesso de crédito. Deveria era cuidar da inflação dos mosquitos.
O consumidor brasileiro sabe o que faz e, sobretudo, conhece bem o seu governo. Sempre que se abre uma oportunidade – preços baratos, prestações menores – vai às compras, pois sabe que as autoridades econômicas podem mudar as regras a qualquer momento.
Como agora. À explosão de vendas de carros no crediário, o Ministério da Fazenda pensou em aplicar restrição a financiamentos mais longos. A sorte é que o ministro Guido Mantega deixou vazar esses pensamentos na semana passada enquanto eram apenas cogitações. Deu tempo para que as pessoas corressem às lojas para comprar seu carro nas boas condições de hoje.
Boas condições? Com esses juros? – já se ouvem as objeções.
Claro que os juros são altos quando comparados aos de outros países. Mas são os menores já praticados no Brasil em muitos e muitos anos. Além disso, os juros para financiamento de automóveis são os mais baixos da praça (na média de fevereiro, 31,2% ao ano, contra 44,3% na média geral paras as pessoas físicas).
Claro, também, que em condições ideais, é melhor economizar todo mês, aplicar o dinheiro e comprar à vista dois, três anos depois. Mas nem sempre é possível esperar – a tevê pifou bem na semana da final da Taça Guanabara, a geladeira velha só gasta energia – e muitas vezes não vale a pena esperar. Em vez de três anos circulando de ônibus, pode ser mais conveniente pagar juros para comprar já o conforto do carro próprio.
Claro, também, que sempre há abusos, do consumidor que vai além de suas posses e dos bancos que emprestam sem critérios. Mas é a exceção. O crédito tem crescido de forma espetacular nos últimos três anos e a inadimplência até caiu um pouco. Nos financiamentos à pessoa física, em fevereiro último apenas 7,1% das prestações registravam atraso de mais de 90 dias. Isso contra 7,3% um ano atrás.
Por que o consumidor brasileiro seria diferente do resto do mundo? Em todo país estável, as pessoas tomam crédito e antecipam consumo. É assim que funciona. O que estava errado era o Brasil de antes da estabilidade monetária. Não há crédito com inflação alta e crônica.
Com a derrubada da inflação e, sobretudo, com a “ancoragem” das expectativas de inflação – ou seja, o sentimento generalizado de que os preços não vão disparar – o crédito voltou ao Brasil. Ou, está voltando.
Se o governo não atrapalhar, o crédito total concedido a pessoas e empresas no Brasil deve chegar no final do ano a um valor equivalente a 40% do Produto Interno Bruto (PIB). Comparando: Chile, mais de 50% Malásia e Tailândia, 80%.
Por outro lado, há, sim, no Brasil um excesso de consumo – acima da capacidade de produção do país. Mas nessa conta não entram apenas os gastos das famílias. Entram também as despesas das empresas, inclusive quando estão fazendo investimentos, e do governo. E qual o gasto que está aumentando mais que todos os outros e mais depressa que o ritmo de crescimento da economia nacional?
Adivinhou, o do governo. Qual é a outra coisa que cresce mais que a economia? Adivinhou de novo, a arrecadação de impostos.
Do ponto de vista da política macroeconômica, se o objetivo é cortar o consumo, não faz diferença cortar o do governo ou das famílias. Mas no que se refere á economia real, faz diferença. Cortar gastos do governo – especialmente quando são despesas de custeio, não investimentos – abre espaço para o consumo e investimentos privados, mais dinâmicos e mais produtivos.
A Coréia do Sul também está com um problema de pressão inflacionária. Medidas anunciadas pelo governo para conter a alta de preços: reduziu e/ou eliminou tarifas de importação reduziu impostos locais e definiu alguns cortes de gastos públicos, embora o governo lá arrecade menos e gaste muito menos que o Brasil em proporção do PIB e invista muito mais.
O ministro Mantega vive citando os modelos asiáticos. Por que não copia este?
Em vez disso, de concreto, o que fez o governo nesse capítulo do crédito? Aumentou o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido cobrada dos bancos. Isso aumentou o custo dos financiamentos, que os bancos transferiram para a taxa de juros. Por isso, as taxas subiram para o consumidor nos meses de janeiro e fevereiro.
O governo falou, confundiu e tomou mais uns trocados da gente, para gastar mais um pouco. E depois se diz preocupado com um eventual excesso de crédito. Deveria era cuidar da inflação dos mosquitos.