Revista Placar expõe a luta do ex-jogador Casagrande
contra o vício. E sofre patrulhamento
Casagrande na reportagem da Placar: internado em clínica para drogados |
Em setembro do ano passado, o ex-jogador de futebol e comentarista Walter Casagrande Júnior sofreu um acidente com seu jipe Cherokee em São Paulo. Ele e a namorada não tiveram ferimentos graves – mas seu comportamento durante o atendimento médico deixou claro que havia algo errado com sua saúde. Num vídeo mais tarde veiculado na internet, o que se via era Casagrande exaltado e fora de si. Em sua edição que chegou às bancas na semana passada, a revista Placar – pertencente à Editora Abril, que também publica VEJA – desvenda o que está por trás da série de problemas que culminou com o acidente e levou ao afastamento do ex-jogador da bancada de comentaristas da Globo. Casagrande luta contra a dependência das drogas. Mais especificamente, cocaína e heroína. Depois do acidente, a família o internou numa clínica de desintoxicação, onde ainda se encontra. É um drama que se comentava à boca pequena no mundo do futebol – e que a Placar, num belo esforço de reportagem, trouxe à luz em detalhes. Tão logo antecipou a matéria em seu site, contudo, a revista sofreu patrulhamento. Um programa da rádio paulista Energia 97 FM condenou a revista por abordar a vida privada do ex-jogador. Em outra emissora, a CBN, o jornalista Juca Kfouri usou de um argumento torto para censurar a Placar. Numa insinuação de que se trata só de fofoca, disse que a internação de Casagrande era um assunto de "interesse do público, mas não de interesse público".
Ricardo Teixeira |
O comentarista (à dir.), ao lado de Galvão Bueno: ele faltava às transmissões |
Casagrande está na linha de frente dos ex-craques convertidos em comentaristas da Globo (e continua a receber seu salário de 50.000 reais mensais). A reportagem mostra como as drogas afetaram sua carreira. Ainda nos tempos de jogador, Casagrande havia sido flagrado com cocaína. Aos poucos, deixou-se dominar pelo vício. Em 2006, um afastamento por causa de uma "depressão" se deveu na verdade a uma overdose. Desde o ano passado, suas faltas davam dor de cabeça à Globo. Casagrande, que sofre de hepatite C, nos últimos tempos estava magro e irreconhecível. Tanto quanto as agruras de Maradona com a cocaína ou o alcoolismo de Garrincha, é natural e legítimo que a imprensa se debruce sobre sua tragédia. A condenação à Placar é mais um sinal de que um vício não menos pernicioso ronda a imprensa brasileira: a balela de que, em nome da "camaradagem", há que se cercear a reportagem.