Encontro de banqueiros discute medidas
para reduzir o risco do mercado financeiro
Ronaldo Soares
Representantes dos maiores bancos do mundo se reuniram no Rio de Janeiro, na semana passada, para discutir um tema desafiante. Falaram sobre a necessidade de estabelecer mecanismos de controle sobre o oceano de incertezas que cerca o mercado financeiro e, assim, atenuar os solavancos que volta e meia ele provoca na economia mundial. Na mais recente crise – a do mercado de hipotecas de alto risco dos Estados Unidos –, os bancos americanos amargaram perdas superiores a 100 bilhões de dólares. A turbulência decorrente do estouro de mais essa bolha ainda não teve suas conseqüências totalmente dimensionadas. A questão que se coloca é até que ponto é possível injetar alguma previsibilidade em um mercado tão interconectado, gigantesco e que tem o risco no DNA.
A reunião no Rio foi promovida pelo Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês), entidade que congrega 375 instituições financeiras de mais de setenta países. O que esses bancos pretendem é estabelecer alguns parâmetros de controle antes que as autoridades monetárias dos diversos países e o Banco de Compensações Internacionais (BIS), uma espécie de BC dos bancos centrais, o façam. "Das duas instâncias que interferem diretamente nos mercados, só uma funciona bem, que é a de intervenção, formada pelos bancos centrais. A outra, ligada a controle e regulação, precisa ser aperfeiçoada", diz Carlos Langoni, diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getulio Vargas. A principal dificuldade reside no fato de que as inovações do mercado financeiro andam muito mais rápido do que a capacidade de regulamentação. "A tecnologia deu ao mercado uma nova dimensão do risco", diz Langoni. O que se está buscando é criar mecanismos de defesa que tragam o risco a níveis mais civilizados, sabendo que esses mecanismos sempre estarão atrasados em relação à realidade.
Quem pode assumir as rédeas desse processo é outra discussão. O IIF aprovou a idéia de criar um grupo de monitoramento dos mercados financeiros, formado por executivos dos bancos, que ficaria encarregado de emitir alertas sobre eventuais bolhas. Outra corrente defende o Fundo Monetário Internacional como uma espécie de sismógrafo dos mercados, também com a função de alertar para turbulências futuras. Há ainda quem prefira deixar o monitoramento exclusivamente a cargo do BIS e os que pregam a ação simultânea de vários mecanismos de controle. O único consenso é que o mercado precisa ser mais transparente. O investidor tem o direito de ser informado sobre a composição do produto que estiver comprando e o grau de risco que está assumindo. "Os bancos precisam ter um sistema de governança interna para que o risco seja identificado e gerenciado", diz Osias Brito, do Banco Fibra, especialista em gestão de risco.