Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, março 14, 2008

O Copom e as decisões do governo


editorial
O Estado de S. Paulo
14/3/2008

A Ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), dos dias 4 e 5 de março, diz, claramente, no parágrafo 24, que “o Comitê discutiu a opção de realizar, neste momento, um ajuste na taxa básica de juros”. Para os analistas, isso é uma advertência de que o “monitoramento atento” das autoridades monetárias desembocará numa alta da taxa Selic.

A análise conservadora feita pelos membros do Copom obriga a pensar que, na reunião de abril, seguindo a lógica da sua visão, eles optarão por um ajuste da taxa.

Todas as previsões da Ata se baseiam numa taxa cambial de R$ 1,70 por dólar, e isso num momento em que o governo está adotando medidas para provocar uma desvalorização da moeda nacional. Se for bem-sucedido nessa tentativa, haverá efeitos contrários aos esperados pelo Banco Central (BC).

Um real valorizado contribui para a contenção dos preços, estimulando as importações que limitam os reajustes e permitem fechar a brecha entre a demanda doméstica e a oferta interna. Cabe acrescentar que o Copom reconhece que os investimentos ainda acompanham o crescimento da demanda; portanto, uma desvalorização do real pode impedir a importação de bens de capital, onde tem sido aplicada grande parte dos investimentos dos últimos meses.

Na perspectiva do Copom, a queda no ritmo de crescimento das exportações aumenta a oferta interna de bens e contribui para segurar os preços. No entanto, é neste momento que o governo resolve anunciar medidas de estímulo às exportações...

Os membros do Copom reconhecem que a demanda doméstica continuará robusta graças ao aumento da oferta de crédito e à melhora dos rendimentos dos consumidores. Caberia ao BC tomar medidas para controlar seu crescimento. Mas isso encontraria forte resistência do governo, que elegeu a demanda interna como o motor do crescimento. O Copom poderá elevar a taxa básica de juros afetando as famílias, as empresas e reduzindo o crescimento econômico, sem, no entanto, aliviar as pressões inflacionárias, que têm sua origem em fatores externos.

No momento em que o governo toma medidas para conter investimentos especulativos de curto prazo, uma elevação da Selic anularia o efeito do aumento da carga tributária sobre esses investimentos. Como se vê, na próxima reunião do Copom, seus membros terão um bocado de temas para discutir.


Arquivo do blog