PANORAMA ECONÔMICO |
O Globo |
4/3/2008 |
A Colômbia não podia ter entrado com tropas no Equador. É violação do território. Mas o Equador e a Venezuela não podem mais ser áreas de abrigo dos bandidos das Farc. A posição mais correta no caso é a que reconhece os erros dos dois lados. Num momento em que o Brasil poderia se preparar para liderar a integração regional, o papel brasileiro passa a ser o do apaziguador de ânimos. O que complica o cenário? A beligerante atuação de Hugo Chávez. É natural que, numa guerra interna, como é o caso da Colômbia, os que enfrentam o governo procurem refúgio em território vizinho, mas para depor armas, e não para preparar outros ataques. A Venezuela está procurando uma guerra há tempos. Armou-se para isso: só em 2006, foram US$3,1 bilhões (o dobro de 2005) investidos por Chávez na compra, entre outros, de 24 caças russos, navios de guerra espanhóis e cem mil fuzis AK-103. Seu alvo principal sempre foi a Colômbia. A posição do presidente venezuelano de negociador com os terroristas nunca teve o elemento necessário a qualquer mediação: neutralidade. Rosendo Fraga, do site Nueva Mayoria, ontem apontava que o detonador da participação de Chávez, num conflito que só caberia a Equador e Colômbia, é a queda da sua popularidade, que saiu dos 60% para os 38%. Não seria a primeira vez que Chávez se utiliza de um inimigo externo para tentar aumentar seu prestígio interno. De qualquer forma, a Venezuela também é dependente da Colômbia; dela importa boa parte de seus alimentos. O que as Farc têm feito é odioso. Há muito tempo, o território dos países vizinhos tem sido usado pelos bandidos das Farc como forma de fugir dos confrontos com o Exército colombiano e de lá preparar as ações criminosas. Isso não parece incomodar nem o governo do Equador, nem o da Venezuela. Ambos deveriam esclarecer melhor isso. De qualquer modo, é natural que o presidente Rafael Correa se ofenda com a entrada de tropas colombianas em seu território. Integrantes das Farc que cometem crimes hediondos são bandidos e torturadores. Mas isso não significa que possam ser mortos de pijama em território de um outro país. Devem ser presos e julgados quando estiverem no território da Colômbia. Hugo Chávez, nos seus delírios, autodenominou-se defensor da Bolívia e do Equador, e não esconde que apóia o terror na Colômbia. Ele considera que as Farc representam os ideais "bolivarianos". Em todo esse quadro, mais uma vez, comprova-se a postura bélica de Chávez, que, em vez de unir o continente, acaba causando mais atritos. É uma liderança conflituosa. Para ter cacife de se meter nestes embates, ele tem se aproveitado do lucro exorbitante com a alta do petróleo. Fazendo uma conta simples, considerando as exportações venezuelanas de petróleo menos as importações vezes o preço do barril, hoje a Venezuela lucra por mês US$5 bilhões a mais que em 1999, quando Chávez assumiu. Esses recursos abundantes poderiam ser mais bem investidos no desenvolvimento do país. A Venezuela vem dilapidando a empresa de petróleo para financiar aventuras e programas populistas. O país cresce, mas com desabastecimento, desorganização econômica, sem aumento da capacidade produtiva. Neste momento, o Brasil, que em gastos militares é o maior da América do Sul, ou seja, ainda é o mais poderoso, tem que ter extremo cuidado na sua atuação. É assunto para diplomatas profissionais e a "solidariedade" entre "grupos de esquerda" ou quaisquer outras baboseiras em que se pense na segunda chancelaria, a comandada por Marco Aurélio Garcia, devem ser desautorizadas. O Brasil deveria seguir sua tradição diplomática de não tomar partido na briga e trabalhar pela pacificação na região. Não nos interessa o conflito. É hora de o país mostrar a melhor forma de exercer a liderança: pela pacificação. Por enquanto, a chancelaria ainda não mostrou a neutralidade necessária. Na sua entrevista ontem, o ministro Celso Amorim só fez críticas a um dos lados; o colombiano. Um informe do Sipri, um dos principais centros de pesquisa sobre conflitos, indica que a América Latina é a região menos conflituosa no que se refere à segurança internacional. Não há nenhum país da região entre os que mais gastam com armamentos, nem entre os grandes exportadores de armas ou entre os detentores de armamentos nucleares. A Venezuela tampouco é o país com maiores gastos militares, mas é o país que mais vem tentando aumentar seu poderio. Ou seja, numa terra onde os números demonstram um apreço pela paz, um ator está indo na direção contrária. Enquanto faz bravatas de integração, Hugo Chávez já anunciava no último mês, na reunião da Alba, que se preparava para um conflito militar na região. Um sinal claro de que a integração está ainda a quilômetros de ter sua chance. O papel das Farc também precisa ser olhado com maior critério. Foi-se o tempo em que o grupo podia ser considerado uma força política. Hoje, além de atuarem como narcotraficantes, seqüestram inocentes, os tratam de forma cruel e desumana. Os relatos recentes dos sofrimentos dos seqüestrados não deixam dúvidas. A deputada Glória Polanco, que teve seu marido assassinado pelas Farc, e teve que viver seu luto sendo obrigada a continuar as caminhadas na selva por um mês; o calvário vivido pela senadora Ingrid Betancourt, que neste momento corre risco de vida depois do longo cativeiro; o relato de Clara Rojas sobre as condições do parto e o sofrimento de ter seu filho arrancado dos braços. É hora de o continente, tão pouco afeito a guerras, parar. De o Brasil pensar na sua atuação e desempenhar a liderança pacífica que sempre exerceu ao longo da História. |
Entrevista:O Estado inteligente
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