O Globo |
25/3/2008 |
A pesquisa que o Instituto Brasileiro de Pesquisa Social (IBPS) realizou nas favelas do Rio, e que foi objeto de reportagem do GLOBO no domingo e ontem, tem informações importantes para os políticos que se preparam para pedir o voto dos cariocas nas próximas eleições municipais. O cientista social Geraldo Tadeu Monteiro, diretor-presidente do IBPS, ressalta que, com o objetivo de conhecer as atitudes e opiniões dos moradores das favelas, a pesquisa destruiu "um conjunto de pré-conceitos" que, durante muitos anos, restringiu o conhecimento sobre essa população. Na área da política, por exemplo, ele lembra que prevalecia a idéia de que os favelados eram massa de manobra, que são prisioneiros dos políticos clientelistas, dos políticos que têm centro social, etc. A pesquisa, que ouviu 1.074 moradores de 101 favelas, contribuiu para conhecer um pouco melhor essa realidade, "e nossas constatações foram muito interessantes", ressalta Tadeu Monteiro. A firme condenação ao clientelismo por parte de 75,8% dos ouvidos, já destacada pela reportagem do GLOBO, mostra que a troca de votos por benefícios para a comunidade é uma prática criticada. A pesquisa destaca que em 76% dos casos nenhum político foi citado como tendo o hábito de comparecer às comunidades fora do período eleitoral. A expectativa sobre as obras do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) está reforçando a popularidade do governo federal, que é o mais bem avaliado nessas comunidades: 31,6% aprovam contra 22,2% que reprovam; enquanto o governo estadual tem aprovação de 21,7% contra reprovação de 22,9%; e a prefeitura tem aprovação de 24% e reprovação de 26% dos moradores. Nada menos que 53,8% disseram que acham que o PAC vai melhorar a vida dos moradores das favelas. Esse resultado é tão mais importante quando a pesquisa constata que "o grande ausente dessas comunidades é o poder público", na definição do presidente do IBPS. Com relação à baixa aprovação da prefeitura, a explicação central talvez seja que apenas 37% das comunidades foram beneficiadas com alguma obra de melhoria urbana nos últimos quatro anos, a maioria delas tendo sido realizada pela prefeitura (14,2%), enquanto 66,3% das comunidades não têm área de lazer. Mais uma vez, as obras que deram origem às áreas de lazer foram feitas pela prefeitura (11,6%), mas a maioria delas não tem manutenção regular. Entre os agentes do poder público mais comumente vistos nessas comunidades estão: os garis (54,2%), os policiais (44,8%) e os "mata-mosquitos" (36,2%). O programa Favela-Bairro é conhecido por 92,5% dos entrevistados, mas não ameniza a visão que os moradores das favelas têm da gestão da prefeitura. O governo estadual também é mal visto especialmente devido à política de confrontação com os bandidos, que não tem dado resultados na opinião dos moradores: 53,5% das comunidades foram alvo de alguma operação policial, mas, na opinião de 55,5% dos moradores, essas operações em nada contribuem para diminuir o poder do crime organizado nas favelas. Para a maioria deles (33,6%), os resultados da política de enfrentamento têm sido negativos, contra 19,5% que acham que os resultados foram positivos (para 28,8% os resultados não são nem positivos nem negativos). Geraldo Tadeu Monteiro destaca como "interessante" o fato de que 36,5% admitiram ter conhecimento do envolvimento de policiais com bandidos, "o que levanta a questão da corrupção policial". A intervenção das Forças Armadas para o combate ao crime organizado tem o apoio de 48,9% dos ouvidos. Fica claro, segundo o presidente do IBPS, que a presença do poder público só é intensiva quando se trata de operações policiais. "A face do Estado para essas populações é fundamentalmente a da polícia e, particularmente de uma política de enfrentamento que não tem trazido resultados efetivos. Por outro lado, a expectativa em torno do PAC mostra o quanto esses moradores anseiam por uma mudança de paradigma na relação entre eles e o poder público", analisa Geraldo Tadeu Monteiro. A percepção de que a favela é lugar de violência "só corresponde aos preconceitos de uma classe média mais conservadora", comenta ele, com base no que pensam os favelados de si próprios. A "falta de instrução" é vista pela maioria (30,3%) como a principal causa de os entrevistados se verem como cidadãos de segunda categoria, de baixa condição social (46,5%) e de baixa condição econômica (57,3%). Para 14,2%, o favelado foi "abandonado pela sociedade"; para 11,6%, ele é discriminado pela sociedade; e para apenas 6,1%, essa situação se deve à acomodação do favelado. Para os entrevistados, a imagem social das favelas é "completamente distorcida". A favela não é "reduto de marginais" para 85,1% dos entrevistados e não é lugar de "negro e pobre" para 93,1%. Para 65,4% dos entrevistados, a cobertura que a imprensa faz dos acontecimentos na favela é sensacionalista, pois distorce os fatos e usa de preconceitos. A maioria dos moradores de favelas (60,2%) se sente parte integrante da sociedade, e 45,5% afirmam que os favelados têm plena consciência dos seus direitos e deveres na sociedade. "(...) o Ministério da Fazenda vai tentar restringir suas ações ao crédito, aumentando as exigências dos bancos para os financiamentos muito longos, para inviabilizá-los economicamente a partir de um determinado limite (...)." Neste trecho da coluna de sexta-feira está o cerne da questão abordada ontem pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, em entrevista coletiva. Em nenhum momento, ele cogitou limitar os prazos de financiamento por decreto. |
Entrevista:O Estado inteligente
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