Quando o governador de Minas, Aécio Neves, diz que quer ser um candidato à Presidência da República “pós-Lula” e não “contra-Lula”, está demarcando um difícil espaço político de atuação dentro do PSDB, convencido de que o candidato tucano só terá chance de vencer a campanha pela sucessão de 2010 se de alguma maneira unir seu nome ao de Lula. O projeto político que está costurando em Belo Horizonte com o PT para a sucessão na prefeitura tem esse perfil. Mas será mesmo que a eleição de 2010 marcará o fim da Era Lula?
O senador José Sarney, uma das últimas, se não a última das “velhas raposas” políticas em ação no Congresso brasileiro, duvida disso e cita ninguém menos do que Getulio Vargas para falar da longa e permanente influência que Lula terá na política brasileira. Sarney é verdadeiramente encantado pela capacidade que Lula tem de manter a paz social no país, e está convencido de que, se ele não tivesse sido eleito, nós viveríamos momento conturbados.
Um dos primeiros políticos conservadores de expressão a apoiar a candidatura de Lula, Sarney diz que é diminuir seu gesto atribuílo apenas a uma reação contra o então candidato do PSDB, José Serra, a quem seu grupo político responsabilizou pela operação da Polícia Federal no escritório de seu genro, Jorge Murad.
A apreensão de uma quantidade de dinheiro vivo sem origem declarada acabou provocando a renúncia de Roseana Sarney à candidatura à Presidência pelo PFL, quando ela aparecia como uma das favoritas.
Sarney garante que já pressentia que teríamos “que passar por esse gargalo”, referindo-se à chegada do PT ao poder, e preferia que isso acontecesse logo.
Mas não tem dúvidas de que foi a melhor solução para o país. Quando era presidente da República, Sarney sofria uma pressão permanente do presidente do PMDB, Ulysses Guimarães, a quem atribuíam o real poder de nomear e demitir ministros.
O então governador do Ceará, hoje senador Tasso Jereissati, vetado por Ulysses, foi abatido em pleno vôo indo para Brasília para assumir o cargo de ministro da Fazenda. Hoje, dizem a mesma coisa sobre a influência de Sarney no governo Lula.
Da mesma maneira desenvolta e irônica com que diz que, em matéria de energia, entende apenas de ligar e desligar o interruptor, mas vai indicando os titulares de todos os cargos-chave da área, a começar pelo ministro Edison Lobão, Sarney nega que tenha esse poder todo junto a Lula.
E, para se livrar dessa pecha, refaz a história em relação a Ulysses Guimarães, a quem atribui uma atuação leal e correta consigo: “Ele tinha condições de exercer o poder e o exercia. Qual político não faria o mesmo?”, indaga Sarney, isentando-se de culpa também. Pois Sarney está convencido de que Lula terá papel fundamental não apenas na sua sucessão, mas sobretudo na vida política do país daqui para a frente.
Também para o presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia, o PSDB está completamente equivocado em relação à eleição de 2010. “Quem disse que o ciclo do Lula termina em 2010?”, pergunta. Ele acha que, “se a economia continuar crescendo desse jeito, se Lula continuar com a avaliação que tem hoje e o PSDB continuar sem fazer oposição, deixando esse papel só para nós, o ‘pós-Lula’ pode ser em 2014, 2018”. Na sua concepção, o “pós-Lula” significa a capacidade que Lula deixará de ter de influenciar as eleições.
“E não sei se em 2010 ele está fora do jogo”.
Se o que Aécio Neves quer, na verdade, é dizer que não será um candidato de oposição a Lula, e sendo assim ele pode apoiá-lo, Maia acha que “essa hipótese não existe”. Na análise do DEM, o PT terá candidato, e também não tem sentido dizer que Lula não apoiará ninguém.
“Não há possibilidade de ele deixar que os outros candidatos batam no governo durante a campanha e não ter ninguém para defendê-lo”.
O prefeito do Rio, Cesar Maia, um dos principais líderes do Democratas, também acha que Lula terá influência forte na campanha e comentou recentemente em seu blog uma pesquisa que o DEM mandou fazer para medir o grau de satisfação do eleitor com sua vida, perguntando se o eleitor achava que estava vivendo melhor que seus pais e se achava que seus filhos viveriam melhor que ele. Nos dois casos, os índices favoráveis foram muito altos.
Segundo a análise de César Maia, “a máquina federal é poderosa”. Ele lembra que, mesmo com as taxas de juros altas, a inflação crescendo, e o então presidente Fernando Henrique “numa postura politicamente blasé”, o ministro da Saúde José Serra saiu de minguados 8% e terminou em robustos 21% que criaram um segundo turno.
“Se foi assim em 2002, mantida essa conjuntura econômica, hoje, é evidente que o candidato presidencial irá também para este patamar, seja ele quem for. Portanto os 30 e tantos por cento de Serra irão derreter, talvez para mais perto dos 20%, trocando com o candidato do governo”, analisa Cesar Maia.
Melhor, portanto, diz ele, num quadro como o de hoje, “pensar em Serra e Lula do B com 20%, Ciro com 10%, Heloísa com 5% e um boqueirão de 45% para a entrada de um candidato conservador e/ou crescimento em campanha de quaisquer deles e do não-voto”.
Outra questão a saber é como é que o PMDB vai se inserir nesse processo. A parte que sofre a influência do senador José Sarney provavelmente estará com o candidato de Lula. Mas, no mapa do Brasil, o DEM tem mais alianças regionais com o PMDB do que tem com o PSDB, e o PMDB tem mais alianças com o DEM do que tem com o PSDB e com o PT.
O presidente do PMDB, Michel Temer, é candidato à presidência da Câmara, com o compromisso do PT. Com isso o PMDB vai ter a presidência das duas Casas. O PT vai aceitar? Se o PT lançar qualquer candidato contra o PMDB, a oposição faz o presidente do Senado. E estará aberta uma dissidência que é latente no PMDB.
Entrevista:O Estado inteligente
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