Entrevista:O Estado inteligente

domingo, março 16, 2008

Merval Pereira Para todos os gostos

A entrada de Fernando Gabeira, do PV, na disputa pela Prefeitura do Rio com o apoio do PSDB e do PPS trouxe novo tom aos debates e está precipitando algumas definições nos demais campos políticos. O secretário estadual de Esportes, Eduardo Paes, candidato dos sonhos do governador Sérgio Cabral, se desincompatibilizará no final do mês, para ser uma possibilidade viável legalmente, embora nada indique que o grupo de Cesar Maia o aceitará como alternativa à candidatura já colocada de Solange Amaral, em coligação com o PMDB. A desistência de apresentador da TV Record Wagner Montes, que aparecia em primeiro lugar nas pesquisas, favorece a candidatura do bispo Crivella, da Igreja Universal, dona da Record, movimentos previsíveis para forçar um caminho viável de um candidato que tem o apoio do próprio presidente Lula, na falta de uma candidatura petista forte no Rio.

Na aliança governista da prefeitura, tudo indica que é possível uma mudança de nomes, desde que o substituto não seja Eduardo Paes. No PMDB, o deputado Jorge Picciani é o fiel da balança entre os grupos do governador Sérgio Cabral e o de Garotinho, mas não parece disposto a brigar por Paes, embora possa brigar por um nome mais forte do DEM se essa necessidade se concretizar.

O projeto de Sérgio Cabral continua sendo lançar Eduardo Paes e pegar o apoio do PT, dando seqüência ao relacionamento político intenso com o governo federal.

Essa manobra seria possível, já que no PT, nos últimos dias, abriram mão da candidatura dois nomes de peso partidário e algum voto: Edson Santos, que preferiu virar ministro da Igualdade Racial, e Benedita da Silva, sem apoio interno.

Sobrou para o deputado Molon, que será o candidato para marcar posição se não houver uma coligação mais eficiente politicamente que seja imposta pela direção nacional do partido. O apelo de Gabeira para que o PT se alie à Frente Rio deve ser em vão.

Jandira Feghali, com o recall das últimas eleições majoritárias que enfrentou, com boa presença, será candidata, com o PCdoB buscando formar um “bloquinho” regional com o PDT e o PSB, que apresentam, no momento, Paulo Ramos e Carlos Lessa.

Com isso, apenas a candidatura do DEM representará o campo conservador na eleição da prefeitura, já que o deputado federal Chico Alencar será lançado pelo PSOL amanhã no Rio. Um outro pólo de poder político local, a ex-deputada Denise Frossard, fora da disputa, estaria sendo aliciada pelo prefeito Cesar Maia, que teria oferecido a ela a Secretaria de Governo em troca de seu apoio à candidatura oficial.

São os primeiros movimentos de uma campanha que parecia fadada a ser monótona, mas ganhou novo tom com a entrada de Gabeira. A aliança governista, além da força natural do apoio dos governos estadual e municipal, conta com um trunfo: a homogeneidade de seus apoios, enquanto o grupo mais à esquerda do espectro político está dividido em nada menos que quatro candidaturas.

Pelas análises do prefeito Cesar Maia, nas regiões onde é maior o voto de classe média, o grupo mais à esquerda vence com grande margem, com base nas votações dos três deputados federais mais votados: Fernando Gabeira; Chico Alencar e Jorge Bittar, cada um representando tendências que estarão representadas com candidaturas na eleição.

Nas regiões Zona Norte e Oeste, de perfil mais popular, o grupo mais conservador venceu com grande margem, com os três deputados federais mais votados: Rodrigo Maia, Solange Amaral e Índio da Costa, todos do mesmo agrupamento político. E em Jacarepaguá por ser uma área de perfil de voto mais heterogêneo, ocorreu um empate.

O que interessa ao grupo do prefeito Cesar Maia é a polarização com o bispo Marcelo Crivella, que surge no momento como o favorito nas pesquisas de opinião. Na análise dos estudiosos de eleição, qualquer candidato que chegue ao segundo turno contra Crivella, vence a eleição, pois sua candidatura é limitada pela influência da Igreja Universal e tem um teto.

A diferença nesta eleição é o presidente Lula, que não deixará de apoiar o candidato do PRB se ele for para o segundo turno contra o candidato de Cesar Maia, ou contra Fernando Gabeira.

O campo da esquerda se divide inclusive nas visões de campanha. Enquanto Chico Alencar, do PSOL, procura destacar o fato de que a aliança com o PSDB de Marcello Alencar leva a candidatura de Gabeira para a direita na política do Rio, o grupo que viabilizou a aliança dos verdes com o PPS e o PSDB procura um diálogo com o PT carioca e outras forças de esquerda provavelmente com vistas ao segundo turno.

Também a relação com a ala “sergista” do PMDB deve ser cultivada, no pressuposto de que a aliança com a prefeitura pode sofrer se a candidatura oficial não corresponder às expectativas, ou se o PT e Lula ficarem sem alternativas num segundo turno contra a candidatura oficial dos grupos de Garotinho e Cesar Maia. Essa aliança é em tudo e por tudo de oposição radical ao governo Lula.

Na candidatura de Gabeira há plena consciência de que para governar o Rio é preciso manter a melhor relação possível, tanto com o governo federal quanto o do estado. “O tom da candidatura será ameno, mas concorrerá contra o continuísmo e a aventura populista, religiosa ou outra”, define Alfredo Sirkis, do PV.

Ao contrário, Chico Alencar, candidato do PSOL, se apresenta como “uma proposta de esquerda autêntica”que, “sem ilusões de fazer socialismo numa só cidade”, quer trabalhar na linha da socialização dos meios de governar, com protagonismo popular, descentralização administrativa, conselhos de bairros, transparência absoluta de arrecadação e gastos públicos, inversão de prioridades, com opção preferencial pelos sem-direito, que são muitos na grande cidade.

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