Entrevista:O Estado inteligente

domingo, março 02, 2008

Merval Pereira Gabeira vem aí


 O deputado Fernando Gabeira prepara-se para oficializar sua candidatura à Prefeitura do Rio, apoiado pela Frente Rio formada por PSDB, PPS e PV. “As circunstâncias estão me levando a isso”, comenta ele, que tinha a idéia de apenas participar de uma frente política que pudesse influenciar a sociedade para que houvesse uma mudança também no comportamento.
“Algo parecido com o que aconteceu em Bogotá, um processo de recuperação do perfil da cidade, mas reconhecendo que o prefeito não resolve tudo sozinho, que é preciso uma mudança na maneira como se vive na cidade”. Gabeira, um político “verde”, tem o lixo urbano como referencial dessa maneira de conviver com a cidade.

Ele lembra o recente colapso da cidade de Nápoles, na Itália, e o trabalho do Exército brasileiro no Haiti, onde uma das primeiras decisões para libertar a Cité Soleil, uma das maiores favelas do país, dominada por gangues armadas, foi participar da retirada do lixo que se acumulava nas ruas e era usado até mesmo como barricadas: “A Comlurb varre a Avenida Rio Branco várias vezes ao dia, às vezes até 20 vezes”.
A decisão de Gabeira foi sendo amadurecida aos poucos, com muitas reuniões com os diversos grupos envolvidos na Frente Rio. Ontem houve uma reunião com intelectuais na casa da vereadora Andréa Gouveia Vieira, uma das pré-candidatas à Prefeitura pelo PSDB, e amanhã haverá uma terceira reunião da Frente Rio na sede dos tucanos, quando pode ser formalizada a candidatura.
Fernando Gabeira, que recebeu cerca de 300 mil votos para deputado federal na última eleição, já teve reuniões com o ex-governador Marcelo Alencar, que preside o PSDB no Rio.
Quem inventou a candidatura de Gabeira foi um grupo de intelectuais da esquerda do PSDB, enquanto os três pré-candidatos tucanos — o deputado federal Otávio Leite, o deputado estadual Luiz Paulo e a vereadora André Gouveia Vieira — participavam de debates internos para a definição do nome que concorreria pelo partido.
O PPS também buscava uma saída para essas eleições, pois o nome natural, Denise Frossard, não se mostrava disposta a se candidatar à Prefeitura, e nem galvanizava o partido e seus possíveis aliados. O surgimento do nome de Gabeira deu a Marcelo Alencar uma saída política honrosa, pois, além de não ter que se decidir entre dois aliados, os deputados Otavio Leite e Luiz Paulo, se reencontrou com seu passado de advogado de presos políticos e com a esquerda do partido.
Como ele mesmo ressaltou em uma das reuniões com a presença de Gabeira, “é nossa história passada de lutas que se reencontra nesse momento”. O PSDB deverá dar o vice, mas ainda há resistência dentro do partido, liderada por Otávio Leite. Os outros dois précandidatos já abriram mão das candidaturas a favor de Gabeira, e disputam agora a indicação na chapa.
A tendência de Marcelo Alencar é indicar Luiz Paulo, mas a vereadora Andréa Gouveia Vieira tem o apoio dessa esquerda do PSDB e do PPS, e está buscando apoios na direção nacional do partido.
Já conversou com o presidente, senador Sérgio Guerra, e mantém reuniões com os governadores de São Paulo, José Serra, e Aécio Neves, de Minas. Essa Frente Rio seria também um embrião para a coligação que apoiaria a candidatura tucana em 2010 à sucessão de Lula, com a adesão dos Democratas e de parte do PMDB que eventualmente não consiga espaço em uma frente da base aliada, ou não concorde com uma candidatura única do PMDB.
O deputado Fernando Gabeira foi levado a aceitar a candidatura por que não havia nenhum outro nome que conseguisse unificar essa frente, e também o convenceram de que seria difícil para ele comandar um processo de mudança na sociedade se não fosse o candidato.
Ele apenas ainda não formalizou a aceitação, que já indicou informalmente a seus companheiros de PV como Alfredo Sirkis, porque quer negociar com os partidos da Frente um comportamento político diferenciado.
“Você não pode levar a sociedade a uma mudança de comportamento se você não tiver um comportamento novo no processo político em que você está”.
Está negociando, por exemplo, a necessidade de formar um governo “de competência”, independente de filiação partidária.
Gabeira não se nega a negociar acordos políticos com a Frente, desde que os critérios de mérito estejam acima dos interesses partidários.
Os componentes da Frente têm a exata noção de que Gabeira terá dificuldades de entrar no eleitorado da Zona Oeste e nas comunidades mais carentes, que são também mais conservadoras, onde suas posições a favor da descriminalização das drogas, do aborto, da legalização da prostituição serão exploradas contra ele.
Mas a idéia é fazer uma campanha diferente, bonita, e também marcando um compromisso com a cidade, já que como deputado federal Gabeira tem se dedicado muito a temas nacionais e internacionais.
“Estou vendo um processo de degradação muito grande, e sinto que tenho responsabilidade como político com a minha cidade”, diz Gabeira.
Ele quer negociar também “uma campanha limpa”, no sentido amplo, especialmente no de não sujar a cidade, e os políticos tradicionais vão ter que aceitar. Gabeira diz que aceita a candidatura desde que seja possível realizar duas possibilidades bem claras: vencer, ou perder vencendo, quer dizer, criando na sociedade uma base para que ela possa fiscalizar e influenciar o vencedor.

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