O combate ao terrorismo continua sendo o ponto central da política, tanto interna quanto externa, dos Estados Unidos, e essa prioridade explica a ênfase que, nas conversas que manteve em sua recente visita ao país, a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, pôs na necessidade de impedir que grupos terroristas recebam apoio em outros territórios para organizar seus ataques. Isso explica também a recusa dos Estados Unidos em aceitar, na resolução da reunião de chanceleres encerrada ontem em Washington, a condenação da OEA ao ataque da Colômbia às Farc dentro do território equatoriano, que os EUA consideram um gesto de autodefesa. Um artigo de ontem do “The New York Times” trata justamente da nova maneira de encarar o combate ao terrorismo que está sendo colocada em prática pelas forças de segurança dos Estados Unidos.
Além de adotar táticas de guerrilha para surpreender os terroristas, como não ter procedimentos rotineiros e fazer vistorias randômicas pelas cidades e principais pontos passíveis de um ataque, impedindo assim que os possíveis terroristas tenham condições de rastrear suas ações, um dos pontos principais da nova política de dissuasão é tentar secar as fontes de apoio do terrorismo.
A tese é que se for possível deter a rede que apóia o terrorismo, e que o torna viável, será possível tornar eficiente uma política preventiva.
Os objetivos principais dessa ação são os recrutadores, os financiadores, os que provêem segurança local aos terroristas e os Estados que emprestam seu território para se transformarem em santuários de proteção a esses terroristas, de onde podem planejar e executar ataques a outros territórios.
Por isso, na reunião que se encerrou ontem em Washington, os Estados Unidos fizeram questão de registrar que, embora apoiassem o esforço “desta resolução para fortalecer a confiança entre a Colômbia e o Equador no intuito de abordar a crise subjacente”, não concordavam com a conclusão do parágrafo resolutivo 4 “por ser altamente orientado a fatos específicos e não levar em consideração outras disposições da Carta da OEA e da Carta da ONU”.
O parágrafo 4 anuncia que a OEA decidiu “repudiar a incursão de forças militares e efetivos da polícia da Colômbia em território do Equador, na Província de Sucumbíos, em 1ode março de 2008, feita sem conhecimento nem consentimento prévio do governo do Equador, por considerar que constitui uma clara violação dos artigos 19 e 21 da Carta da OEA”.
Esses artigos defendem a soberania territorial e a não ingerência nos assuntos de outros Estados. Os Estados Unidos, além de tudo, consideram que essa resolução da OEA não afeta “o direito da autodefesa nos termos do artigo 22 da Carta da OEA e do artigo 51 da Carta da ONU”.
A negociação dos termos da resolução de ontem foi longa e tensa, e o texto final foi adiado principalmente porque o Equador só aceitava um documento que no mínimo “condenasse” a ação da Colômbia em seu território, mas acabou tendo que se contentar com o uso da palavra “repudiar”.
Também os Estados Unidos insistiram para que a palavra “terrorismo” constasse do texto, mas o máximo que conseguiram foi o compromisso de todos os Estados membros de combater “as ameaças da segurança provenientes da ação de grupos irregulares ou organizações de criminalidade, especialmente as vinculadas a atividades do tráfico de drogas”.
As Farc, que no primeiro documento da OEA sobre o caso era classificada de “grupo irregular”, apareceram, portanto, por inteiro no texto da resolução final de ontem, com a referência indireta à sua vinculação ao tráfico de droga.
Há também uma explicação para a informação, lançada logo no começo da crise provocada pela morte do número dois das Farc, Raul Reyes, de que em seu computador foram encontrados indícios de que a organização se preparava para comprar urânio.
Essa informação, que desapareceu dos noticiários em seguida, sugeria que haveria a possibilidade de fabricação de uma “bomba suja” pelas Farc, o que foi considerado por especialistas uma possibilidade tão remota quanto Sadam Hussein ter as tais armas de destruição em massa que justificaram a invasão do Iraque.
Sabe-se hoje que essas armas nunca existiram, mas a administração Bush continua convicta de seu acerto em invadir o Iraque. Da mesma maneira, os Estados Unidos defendem o direito da Colômbia de atacar as Farc em território equatoriano, e a secretária Condoleezza Rice usou palavras fortes para condenar as Farc nas conversas brasileiras.
Ela se referiu ao líder guerrilheiro morto como alguém que tinha “sangue nas mãos”, e disse que o presidente Álvaro Uribe tinha feito com que a Colômbia voltasse a ter uma esperança de futuro de paz. A ameaça do uso de armas nucleares em ataques terroristas pelo mundo é uma obsessão da política de segurança dos Estados Unidos.
Em recente declaração, o presidente Bush disse que os Estados Unidos consideram “totalmente responsável” qualquer nação que divida armas nucleares com outro estado, ou com terroristas.
A interpretação oficial é de que qualquer país que permita que terroristas tenham armas nucleares é tão responsável por um ataque quanto os próprios terroristas, uma maneira de dissuadir qualquer Estado de ajudar grupos terroristas.
É nesse campo que estão colocadas as regras do jogo também aqui na América do Sul, e por isso os Estados Unidos tentaram fazer valer a interpretação de fronteiras flexíveis para o combate ao terrorismo.
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