Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, março 03, 2008

FHC aposta no terceiro mandato



Leandro Colon
Correio Braziliense
3/3/2008

Em conversas com correligionários, ex-presidente avalia que Lula tentará ficar no poder caso os índices de popularidade se mantenham altos e o PT fique sem um candidato viável em 2010. Tucano demonstra preocupação com os atuais rumos do PSDB para as eleições

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) acredita no crescimento do movimento de setores do PT por um terceiro mandato consecutivo de Luiz Inácio Lula da Silva. E pediu a tucanos na semana passada que não deixem o assunto de lado. É preciso, segundo FHC, ficar com o “radar ligado” no tema.

Em avaliação feita a lideranças do PSDB em conversas reservadas, Fernando Henrique tem dito que não descarta que Lula trabalhe para continuar no poder se sua popularidade se mantiver em alta, como revelam recentes pesquisas, e o PT não encontrar um nome viável para substituí-lo em 2010.

Um grupo de deputados petistas articula desde o ano passado um movimento para aprovar alguma proposta que leve Lula a um terceiro mandato consecutivo. Até um plebiscito já foi cogitado. O presidente, porém, negou várias vezes publicamente qualquer intenção no sentido de permanecer no cargo depois do atual mandato, embora os petistas estejam com dificuldades em fortalecer um nome para 2010.

Na semana que passou, Fernando Henrique criticou duramente Lula após o petista ironizar a viagem do tucano à Europa logo após deixar o Palácio do Planalto. Fernando Henrique chegou a falar que Lula “cospe no prato que está comendo”, endurecendo a relação entre eles.

Discurso
De olho em Lula, Fernando Henrique demonstra preocupação com os rumos do PSDB. Avalia que o partido ainda não encontrou um discurso forte e coeso para as eleições de 2010. Para ele, o governador de São Paulo, o tucano José Serra, é o candidato natural do partido à Presidência da República. Mas ele se queixa de Serra. Avalia que o governador é um ótimo “solucionador de problemas”, mas tem criado vários deles dentro da legenda.

Para o ex-presidente, Serra tem que “agregar” para chegar forte em 2010. Ele precisa, por exemplo, trazer o governador mineiro, Aécio Neves (PSDB), para o seu lado. E não tê-lo como adversário. Caso contrário, correrá o risco de criar um movimento pró-Aécio dentro do partido, obrigando a legenda a realizar prévias para escolher o candidato presidencial, algo que Serra é totalmente contrário. O governador paulista teme que uma disputa o leve a uma derrota interna e, por isso, trabalha para que não haja a necessidade de uma votação partidária.

O problema é que Serra tem incomodado setores do PSDB. Recentemente, por exemplo, tentou interferir na eleição do líder do partido na Câmara. O escolhido foi José Aníbal (SP), seu desafeto. Para Fernando Henrique, Serra errou ao tentar emplacar Arnaldo Madeira (SP). A um tucano, o ex-presidente argumentou que Madeira é um “excelente nome” para liderar um governo, mas que, no momento, Aníbal tem mais o perfil do estilo oposicionista que o PSDB necessita.

Nos últimos dias, Fernando Henrique manifestou posição favorável à candidatura do ex-governador tucano Geraldo Alckmin à prefeitura de São Paulo. Com isso, tenta desfazer o mal-estar interno criado quando declarou apoio à reeleição de Gilberto Kassab (DEM), preferido de Serra

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